O vinho como ferramenta da qualidade

Sendo o tema de capa desta edição o Douro, optei por me debruçar sobre os efeitos de um dos produtos pelos quais esta belíssima região é mais conhecida: o vinho e as suas consequências, bem como de outras bebidas fortificadas.

André Pinheiro
1 de Fevereiro de 2020

Fruto do meu percurso profissional tive oportunidade de conhecer por dentro o mundo das rolhas de cortiça, onde pude alargar um pouco os meus parcos conhecimentos, não apenas sobre a cortiça mas também sobre o vinho e as bebidas espirituosas. 

Mas como em quase tudo na vida, trata-se de produtos que devem ser consumidos com moderação, caso contrário corremos o risco de atingir estados alterados de consciência, com consequências que podem ser nefastas, ou assim diz o senso comum. Todos conhecemos alguém que já teve problemas após beber demais. Mas isso não invalida que haja exceções, e que o álcool não possa até proporcionar decisões fantásticas! Vejamos alguns exemplos:

- Beethoven: O compositor que nos deixou belíssimas obras era adepto da bebida, tendo sido inclusivamente preso em 1820 por andar na rua de tal forma embriagado que foi tomado por um vagabundo. Rezam as crónicas que a 7ª sinfonia foi toda composta sob o efeito do álcool;

- Vincent Van Gogh: O génio da pintura holandês, criador de tantas imagens icónicas, bebia absinto praticamente todos os dias. A bebida era um tema recorrente nos seus quadros, e que influenciou a própria escolha de cores.

- Nikola Tesla: Um dos maiores inventores de sempre era praticamente vegetariano, e recusava chá, café ou tabaco, mas não passava sem whisky e vinho. Chegou a escrever um artigo para um jornal intitulado “Chewing Gum More Fatal Than Rum, Says Tesla” (“A pastilha elástica é mais fatal que o rum, diz Tesla”);

- Fernão de Magalhães: O navegador português que iniciou a viagem de circum-navegação, provando que o mundo era redondo, não passava sem vinho nos seus navios, apesar da escassez de comida e água limpa ter causado a morte de vários marinheiros. Os 5 navios terão iniciado a viagem com 417 odres de vinho – recipientes que podem conter entre 30 a 40 litros.

- Richard Nixon: O presidente americano bebia todas as noites, e inclusive durante a guerra do Vietname foi ouvido em estado embriagado a dizer ao seu secretário de estado Henry Kissinger que queria lançar a bomba nuclear sobre aquele país, para acabar com a guerra.

Ou seja, se por um lado o álcool facilmente poderia ter mergulhado o mundo num estado pior do que está hoje, por outro foi também facilitador da criação de grandes obras. E transportando isto para a realidade empresarial atual, não é raro existirem “jantares de trabalho” em que ambas as partes bebem e acabam a tomar decisões com mais facilidade do que se estivessem fechados numa sala (sem bebida).

A edição de Junho 2018 da Harvard Business Review relata uma experiência realizada pelo professor Andrew Jarosz, da Universidade do Mississippi (EUA), em que serviram cocktails de vodka a 20 voluntários até ficarem próximo do limite legal de embriaguez. Em seguida realizaram testes de lógica, onde os voluntários “tocados” obtiveram resultados melhores e mais rápidos do que os voluntários sóbrios.

Quer isto dizer que nas próximas reuniões estratégicas ou de definição de objetivos, deve ser servido vinho a todos os participantes?

Eu não diria tanto, mas hoje é habitual realizarem-se reuniões “off-site” (fora do ambiente da empresa) para este género de tomada de decisões, porque é reconhecido que o ambiente descontraído facilita o processo. Também é cada vez mais frequente vermos ambientes relaxados (sem álcool) em gabinetes onde a inovação é um fator crucial para o negócio.

A norma de gestão de qualidade reconhece os processos de tomada de decisão como influenciadores do contexto da organização, referindo-os como o 6º dos “7 Princípios da Qualidade”. Convém notar que este princípio tem o nome de “Tomada de decisão baseada em evidências”, não em álcool!

Ainda assim creio que um copo de um bom vinho ao final da tarde, após um dia de trabalho e de preferência num ambiente mais calmo, pode ajudar a relaxar e a resolver muitas discussões e a encontrar a solução para muitos problemas. E em Portugal, e em particular na região do Douro, o que não falta são (muito) bons vinhos. Convém é não conduzir depois, para não lembrar a memória do taxista George Smith, que em Londres, a 10 de Setembro de 1897 se tornou a 1ª pessoa da história a ser presa por conduzir embriagado!

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