Atualmente,
perante o estado de quarentena, o individuo é obrigado a redefinir os seus
valores, medos, ansiedades, crenças e rotinas.
O
isolamento e o distanciamento social está a mudar a nossa forma de
habitabilidade, desde o trabalho, o ensino, o abastecimento da casa, a
ginástica, a sessão de terapia, os relacionamentos pessoais bem como outras
formas de lazer, que intermediadas pela tecnologia protegem-nos e mantêm-nos
isolados.
De
certo, a sociedade sairá diferente da atual crise, novos hábitos serão adquiridos
depois de semanas e meses de isolamento.
Novas
plataformas na Web surgem e irão surgir cada vez mais para nos ajudar neste
isolamento.
Vamos
aprender muito, o desafio não é trabalhar em casa, mas sim desempenhar essas
funções num ambiente psicológico adverso, no computador e com as novas
tecnologias a pessoa tem de ter maturidade, confiança e senso de Intra
empreendedorismo.
O
mundo em que vivemos encolheu muito rapidamente e momentaneamente, e hoje é a
tecnologia que nos permite manter as nossas relações interpessoais.
É
estranho afirmá-lo, mas esta pandemia carrega um aspeto muito positivo para a
humanidade, a reflexão sobre relações humanas, sobre afeto e ética. A
importância de saber viver em coletivo de forma ética e sem egoísmos (vejamos
recentemente as atitudes no consumo em supermercados e farmácias).
Ultrapassado
o receio da doença e da morte surgirá na maior parte das pessoas a vontade de
proximidade dos outros, irá impelir o desejo da vida, do prazer e de alguns
excessos procurando encontrar um equilíbrio entre o Id e o Ego da psique
humana, este é o ponto em que tomamos decisões baseadas na nossa
intelectualidade, pela logica da racionalidade, bem como pelos conhecimentos
que adquirimos ao longo de toda a nossa existência, valemo-nos das nossas
emoções e sentimentos para avaliar as situações que nos rodeiam e
consequentemente tomar as nossas decisões ao longo da vida.
É
perante uma crise que o individuo se sente mais inspirado a elaborar condições
para despertar o melhor que tem dentro de si, saindo de um estado de
retraimento e experimentando um convívio amplo e coletivo.
As
populações vão encontrar-se mais, brindar mais e abraçar-se mais.
Os
cumprimentos sociais com os cotovelos não vieram para ficar, no entanto algumas
pessoas obsessivas, fobicas, solitárias, viciadas nas aplicações irão manter
uma maior tendência para o isolamento, para socializar apenas através das redes
e saírem menos à rua.
De
um modo empírico, é fácil perceber que as relações conjugais estão a passar por
um momento difícil, não podemos prever se daqui a nove meses haverá um baby
boom ou se aumentaram as taxas de divorcio, este é um momento de reflexão para
muitos casais.
Muitos
casais vão precisar de se reinventar e sobretudo comunicar, coisa que a maior
parte não faz, estes poderão não resistir à proximidade em tempo integral.
É
verdade também que os casamentos que sobreviverem à quarentena devem seguir
mais fortes.
Cada
vez mais jovens e sobretudo mulheres estão mais preocupados em investir nas
suas carreiras profissionais do que constituir, manter ou aumentar a família.
Neste
momento, em que a incerteza ocupa o lugar na forma em que o futuro é encarado,
é a plasticidade do cérebro humano e a resiliência que advém de cada individuo
que permite a criação de alternativas para ultrapassar a crise, e no final
progredir.
O
isolamento do mundo social, ao manter as pessoas dentro de casa,
necessariamente as coloca numa convivência mais intensa e incomum na vida
contemporânea.
O
stress ao qual estamos submetidos durante este período, inevitavelmente, trás
uma dose expressiva de ansiedade e em certos casos pode provocar reações mais
intensas, como um pavor, em função das incertezas em relação ao futuro.
No
caso da pandemia a melhor forma de limitar a ansiedade é viver o presente
adotando medidas que nos dão a sensação de estarmos a contribuir para a
solução, outras formas também podem passar por realizar algum exercício virado
ao intelecto, produzir algum tipo de arte e manter as redes de afeto pelas
redes sociais.
Todos
somos promotores do bem-estar uns dos outros, precisamos de distanciamento
físico, mas não de distanciamento de afeto.
Em
todas as grandes epidemias da história há consequências comportamentais.
Após
a Peste Negra surgiu o Renascimento e neste processo o ser humano foi revestido
de uma dignidade e colocado no centro da Criação, e por isso deu-se à principal
corrente de pensamento deste período o nome de Humanismo.
Podemos
dizer que após esta pandemia irá surgir uma nova vontade de viver e de organização.
O isolamento pode ajudar o casal na maioria dos casos sempre tão atarefado a
reaproximar-se e a encontrar pontos de comunicação, no entanto se a relação “já
não fluía” o período de isolamento pode revelar-se complexo e agressivo para o
casal quer pelo desgaste associado ao isolamento quer pela incerteza associada
ao futuro, pois hoje em dia os casais não estão habituados a partilhar tanto
tempo o mesmo espaço.
O
desespero piora a ação racional, os casais que consigam melhorar a comunicação
tendenciosamente irão melhorar a relação.
O
que destabiliza o ser humano é tudo o que evidencia a sua falta de controlo.
Teremos de acreditar, ter fé, confiar, reinventarmo-nos para percebermos que estamos todos no mesmo barco num mundo híper-conectado.