1 de Julho de 2020









ANA ISABEL LUCAS

Consultora e Formadora 


Fotografias D.R.



“Aprender a aprender” - Um processo de mudança 



A globalização fez emergir novas realidades, que requerem uma capacidade de adaptação e mudança rápida por parte das empresas. Realidades como esta que estamos a experienciar neste momento. Aqueles que trabalham o conhecimento constroem um diferencial de adaptação ao contexto e antecipação da mudança, mas antes é necessário ter a capacidade de gerar conhecimento: aprender de forma generativa.

 


O

sec. XIX foi marcado por um contexto de grandes transforma­ções ao nível científico - tecnológico, económi­co, demográfico e político. O conheci­mento era dominado pelo positivismo que se baseia na experimentação, partindo da observação rigorosa dos factos para a sua explicação.

A ciência viu surgir uma nova disciplina, a Sociologia, com o propósito de responder a novos problemas, de lidar com eles, antecipando-os e procurando resolvê-los.

Justificando o propósito desta nova ciência, ficou a célebre afirmação de Comte, “saber prever para saber prover”. Não passou um século para pôr fim ao positivismo e à ideia do conhecimento exato, dando lugar a um novo quadro teórico da interpretação da realidade social, tendo como pano de fundo a globalização. 

No início do sec. XX, o mundo entra na “idade da civilização global”, mais do que política ou cultural, foi uma evolução económica cujo veículo foi e é o capitalismo, através das suas instituições e mecanismos. É certo que os acontecimentos que marcaram a história tiveram impacto nos contextos atuais e deram origem a novas realidades, que inevitavelmente provocam mudanças constantes, especialmente na dimensão económica. 

Tendo em conta o contexto atual, nunca a teoria do caos fez tanto sentido.


O bater das asas de uma borboleta na China, pode causar um tsunami, arrastando em catadupa todos os países à escala mundial. O contexto atual é marcado por uma sociedade de risco, incertezas e imprevisibilidade.Quem poderia prever o quadro pandémico da Covid-19? As suas consequências e impactos na economia e na sociedade? 

Quem viu o filme “O Contágio”, pode afirmar que se trata de uma previsão, dadas semelhanças do enredo com a realidade da atual pandemia.

Ainda assim, o contexto atual é

diferente da realidade de 2011, tanto em termos económicos, políticos e sociais. 

Mas esta nova realidade já fez correr rios de tinta, com prognósticos futuros acerca das consequências e impactos no universo empresarial. 

Paradoxalmente, numa altura de incertezas e volatilidade, o guia das certezas aponta para um período de transição carregado de circunstâncias negativas, tendo implícito um processo de mudança, que vai ter impactos ao nível económico e social. A mudança não é um processo fácil. 

 





Responder com eficácia é um desafio que se impõe em qualquer circunstância e conta sempre com a variável “capa­cidade de resposta” que remete para o conhecimento e a visão do processo. 

Dada a volatilidade do contexto é pertinente a questão: se o contexto está em constante mudança, porque é que as empresas não acompanham essa ten­dência, mudando e adaptando-se? Se o contexto muda, a mudança é inevitável nas empresas. 

As empresas são sistemas abertos e dependem do meio para sobreviver. Sobreviver num meio em constante mudança, exige capacidade contínua de adaptação e resposta rápida e eficaz às transformações.


Mas, como devem as empresas adaptarem-se ao contexto e preparar a mudança?


É um facto que a globalização fez emergir uma nova envolvente, que requer capacidade de adaptação e mudanças rápidas e eficientes, implicando uma gestão da mudança pensada e planeada. As abordagens científicas à gestão da mudança dão especial atenção aos métodos de diagnóstico, sustentados através de uma diversidade de ferramentas. Antes de traçar um plano de mudança é necessário e obrigatório um diagnóstico. 

Nesta dinâmica da gestão da mudança é importante ter em conta a cultura organizacional, o clima, a motivação e, principalmente, o capital intelectual, a liderança e a estrutura.  

 

Existem estudos sobre os modelos de gestão da mudança organizacional, que dão ênfase à envolvente e ao ambiente interno das empresas por serem um fator-chave para a compreensão da mudança. A partir destes, conclui-se que a adaptação ao contexto reside na capacidade de antecipação da mudança, de forma a gerar criatividade e inovação. Os especialistas nesta última abordagem apontam o caminho para um modelo baseado na aprendizagem generativa. Na prática, este modelo consiste na cap­acidade de gerar aprendizagem e da necessidade de aprender,i.e., as empre­sas têm que “aprender a aprender”. Um duplo loop que conduz a uma aprendizagem-ação. Esta aprendizagem ocorre nas equipas de trabalho e ao nível individual e são necessárias várias ações para estimular a aprendizagem-ação, tais como: 


  • Criar um ambiente de aprendizagem no local de trabalho; 
  • Ajudar a estabelecer e a atingir objetivos de aprendizagem; 
  • Ajudar a identificar ferramentas e recursos para adquirir conhecimento; 
  • Fornecer feedback para que possam melhorar a sua performance; 
  • Encorajar a reflexão, colocando questões que obriguem as pessoas a refletir sobre as ações que realizam;
  • Recordar e transferir aprendizagem.

A operacionalização deste modelo é feita através de diálogo centrado no pro­cesso de pensamento, supondo que uma maior consciência sobre o funci­ona­mento deste processo implica pensar melhor em conjunto e comunicar melhor.

 Na Era da comunicação, a essência de uma empresa são as pessoas. A maior dificuldade no processo de mudança é mesmo mudar as pessoas. Perante este facto, a mudança requer uma ação pensada e trabalhada ao nível de liderança e gestão de equipas. 

Antes disso, os esforços de mudança incidem na criação de uma cultura organizacional com capacidade de lidar com as transformações da envolvente e do ambiente interno. 

O maior desafio em todo o processo será a resistência à mudança, que obriga a uma estratégia centrada em técnicas mais participativas e colaborativas. Por fim, mas em grande destaque, o papel da comunicação por ser o elemento crucial que vai ligar todos os elementos e orientá-los no caminho para o sucesso. 

Um qualquer modelo de gestão atual deve exigir um elevado nível de competências e agilidade de aprender e ensinar, transformando a empresa numa escola com capacidade de aprender ao longo da vida. Esta exigência tem uma razão de ser. Para o verdadeiro agente da mudança esta “nunca começa porque ela nunca pára". 

Aprender a aprender é um processo de mudança que nunca tem fim e é uma porta aberta que indica um caminho que necessita de análise, conhecimento e muita ação.


Newsletter Start&Go