Maiambiente - Prémio "boas práticas no setor publico"

“O desempenho da organização, e consequentemente a sua solidez, são hoje o principal fator de motivação dos colaboradores”, adianta Carlos Mendes, director geral da Maiambiente.

17 de Janeiro de 2015


S&G - A Maiambiente é uma empresa pública municipal criada em 2001, o que esteve na origem da criação desta Empresa?

Carlos Mendes - À data da sua criação, o serviço de gestão de resíduos sólidos urbanos era gerido pela Câmara Municipal da Maia, recorrendo genericamente a meios humanos e equipamentos da autarquia. Fruto do crescimento da população e do reforço da aposta no sector do ambiente e dos resíduos em particular, tornou-se evidente a necessidade de rever o modelo de gestão daquele serviço, avaliando todas as opções disponíveis, incluindo a da subcontratação, a da concessão e a da criação de uma empresa municipal, na sequência da entrada em vigo da Lei n.º 58/98.

Um estudo técnico–financeiro encomendado pela Câmara Municipal, validou esta ultima opção que, entre outras virtudes, garantia a utilização dos recursos existentes, potenciava a aplicação do conhecimento adquirido e assegurava a manutenção da gestão estratégica nas mãos da autarquia. Cumulativamente revelou ser a opção economicamente mais racional.

S&G - Que tipo de serviços podem esperar os cidadãos do concelho da Maia por parte da Empresa e em que medida o modelo da Maiambiente pode ser considerado Inovador e Empreendedor?

CM - A Câmara Municipal da Maia delegou, na Maiambiente, competências ao nível da gestão de resíduos urbanos, com um especial enfoque na recolha selectiva porta-a-porta, com o forte propósito de tornar o serviço prestado como uma referência para o país. Nesse sentido, procuramos universalizar serviços existentes, criar e desenvolver novos serviços, orientados para as necessidades dos clientes, recorrer às novas tecnologias de informação e comunicação e às plataformas electrónicas para potenciar o seu desempenho, e manter abertas linhas de comunicação e de envolvimento dos clientes.

O modelo de gestão da Maiambiente, podendo ser considerado inovador no panorama nacional, tendo em conta que nenhuma outra cidade possui uma estratégia semelhante de aposta em serviços porta-a-porta, procurou beber as boas práticas de cidades em países com longo historial no sector e com resultados comprovados, sendo já bastante visíveis os frutos dessa estratégia.

S&G - A Maiambiente tem sido distinguida em diversos fórum pelos seus projetos. Quer falarmos um pouco mais sobre esses projetos?

CM - O mais emblemático de todos os projectos, pela sua inovação, dimensão e complexidade é sem dúvida o “Ecoponto em Casa”, recentemente galardoado com “International Green Apple Awards for Environment Best Practices – 2012”. Trata-se, em síntese de levar a recolha selectiva porta-a-porta de 4 fluxos, no caso os resíduos indiferenciados, o papel/cartão, as embalagens plásticas/metálicas e o vidro, a todos os locais de produção existentes no município, independentemente da sua tipologia, actividade ou localização. Algo que torna o município da Maia único no país.

Complementarmente podemos referir o projecto “emlinha”, dedicado a recolhas especiais e a pedido do cliente, com possibilidade de requisição do serviço via web, que mereceu uma distinção no prémio “Boas Práticas no Sector Publico”.

Contudo, considero que o projecto mais decisivo para o sucesso da organização, apesar de invisível aos olhos dos clientes, foi a adopção de um Sistema de Gestão da Qualidade em 2005. Tratou-se de uma decisão que, 8 anos decorridos, criou em toda a organização uma cultura de compromisso com a melhoria continua e enfoque na satisfação dos requisitos dos clientes.

S&G  - Em que medida essas distinções e prémios têm sido importantes para a continuação do espírito Empreendedor dentro da Organização?

CM - Todos os reconhecimentos, internos e externos, nacionais e internacionais são motivadores. Particularmente num período de crise económica e social, quase de depressão colectiva, a que não somos imunes, diria que são mesmo fundamentais. Não pretendendo transformar os resultados da empresa, numa competição entre pares, a verdade é que a liderança do sector induz comportamentos, ainda que inconscientes, de manutenção desse destaque que, num mundo cada vez mais global, em que tudo acontece muito rapidamente, carece de uma postura empreendedora permanente.

S&G - É usual ouvir-se dizer que as pessoas são o maior ativo das organizações. De que forma a Maiambiente gere e motiva os colaboradores da empresa?

CM - Face às limitações orçamentais e legais existentes, a motivação dos colaborados passa pela introdução de factores de valorização não financeiros. A oferta de adequadas condições de trabalho, a aposta na formação profissional ou a comunicação permanente, são algumas das estratégias utilizadas. Contudo, a administração pública é cada vez menos atractiva, sendo crescentes as dificuldades em recrutar e manter os melhores, o que é quase paradoxal, face às taxas de desemprego elevadas. O desempenho da organização, e consequentemente a sua solidez, são hoje o principal factor de motivação dos colaboradores.

S&G - De que forma estas alterações que se vivem atualmente na administração publica local afetam a atividade da Empresa?

CM - A redução das remunerações e o aumento dos impostos, afectam económica e animicamente todos os colaboradores, aspecto particularmente relevante no decurso de um processo de mudança interna que a empresa vive, e que decorrer dos projectos atrás referidos. As incertezas quanto ao futuro, que decorrem das sucessivas alterações legislativas aplicáveis ao sector empresarial local, em nada contribuem para o empenho e a motivação dos colaboradores.

Em todo o caso, a expansão da actividade da empresa, que se encontra em curso, e os seus resultados económicos no panorama nacional, são factores que minimizam, ainda que marginalmente, os efeitos negativos da actual crise. Seria fundamental uma clarificação do papel e das regras do sector empresarial local, que permanece numa posição hibrida, entre as entidades públicas e as sociedades comerciais.

S&G - Geralmente o que se ouve falar relativamente as empresas Municipais é que as mesmas são uma fonte de despesa. Podemos dizer que a Maiambiente além de um projeto empreendedor e inovador é também um projeto equilibrado economicamente?

CM  - A Maiambiente é, desde há vários anos, muito mais que um projecto economicamente equilibrado. É seguramente uma empresa modelo nesse aspecto. A empresa apresenta, desde 2008, resultados líquidos consecutivamente positivos, gerando sucessivamente um forte cashflow que lhe permite cumprir atempadamente com colaboradores, fornecedores e estado, apresentando ainda um poderoso indicador de EBITDA. Apesar do forte investimento realizado, a empresa não possui qualquer passivo bancário, sendo capaz de gerar receitas directas que cobrem mais de 90% da totalidade dos custos, algo único no panorama nacional.

S&G  - Sendo que prestam um serviço publico, como avaliam o grau de satisfação dos Cidadãos do Município da Maia? Podemos dizer que os vossos clientes estão satisfeitos?

CM  - O Sistema de Gestão da Qualidade atrás referido, obriga-nos a, anualmente, auscultar a opinião dos clientes e, cumulativamente, adoptar políticas de melhoria continua. Em paralelo, temos implementada uma ferramenta de monitorização das reclamações de clientes, e uma estratégia de redução continua daquele indicador. Podemo-nos orgulhar de, ao longo dos anos, manter um grau de satisfação dos clientes superior a 90%, e simultaneamente um n.º de reclamações que é infinitesimal face ao volume de serviços prestados.

S&G - O modelo da Maiambiente é passível de replicação em outros Municípios?

CM  - Com as devidas adaptações, o modelo de gestão da Maiambiente pode ser replicado em qualquer outro município. Dir-se-ia até em qualquer outra empresa. Na verdade, o “segredo” da Maiambiente não está na oferta de um serviço de recolha selectiva porta-a-porta, que é a característica que melhor distingue o modelo da empresa e do município face aos restantes.

O “segredo” está na existência de uma visão clara, comunicada e entendida por todos, uma cultura voltada para a satisfação das necessidades dos clientes (externos e internos), uma filosofia de melhoria continua ou uma equipa competente e coesa. Naturalmente que a oferta de um produto/serviço inovador releva para o resultado final, mas não pode ser visto de forma isolada. Quero com isto dizer que qualquer que seja o modelo de recolha adoptado por qualquer município, é possível obter bons resultados.

S&G  - Quais são as linhas de atuação definidas para a atuação futura da empresa?

CM  - O projecto “Ecoponto em Casa”, é seguramente a maior aposta futura da empresa. Pese embora o seu carácter inovador, a sua dimensão nunca vista à escala nacional e a sua complexidade em termos logísticos, será certamente um marco histórico no sector, pelo que faremos de tudo para que tenha sucesso. A gestão dos resíduos urbanos será sempre um serviço publico prioritário, que queremos satisfazer com excelência, mas simultaneamente um sector em permanente modernização, que queremos acompanhar em permanência.




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