Mercado de Eletricidade Status e Tendências

Não dominamos danças da chuva. É forçoso dizê-lo, pois a chuva e o vento têm sido os principais drivers de preço da energia eléctrica nos últimos anos e, se não dominamos artes avançadas de feitiçaria índia, de que serve este artigo?

Pedro Amendoeira
30 de Março de 2018

Não dominamos danças da chuva. É forçoso dizê-lo, pois a chuva e o vento têm sido os principais drivers de preço da energia eléctrica nos últimos anos e, se não dominamos artes avançadas de feitiçaria índia, de que serve este artigo? O objectivo é expor de uma forma simples e breve qual o status actual do mercado da electricidade e quais as previsões que se podem fazer para a sua evolução nos próximos meses e anos.

 A electricidade é uma commodity cotada em mercado aberto. A sua produção é feita por uns poucos e comercializada por muitos, que o fazem num mercado competitivo, regulado pela ERSE, que tem feito globalmente um bom trabalho de garantir a concorrência no mercado, ao mesmo tempo que assegura que os consumidores têm acesso em iguais condições a todos os comercializadores.

 A tendência do preço médio de mercado nos últimos anos foi, com todos os ciclos a que os mercados estão sujeitos, de uma ligeira subida, acentuada no último ano. A confirmarem-se as previsões climáticas de anos cada vez mais secos, esta tendência poderá ter bases para se perpetuar.

2017 foi um ano bastante caro em relação aos anteriores: 33% face a 2016 e 14% face à média dos últimos 6 anos. Este aumento teve duas causas principais:

  1. Climatéricas: 2017 seco e pouco ventoso, reduzida produção hídrica e eólica.
  2. Subida do preço do petróleo e gás.

 

Como outras causas, temos ainda o fecho de centrais nucleares em França, movimentos de mercado dos operadores, entre outras.

Que nos reserva este ano? Olhar para o mercado de futuros (OMIP) poderia ajudar: a entidade nebulosa chamada “mercado”, que agrega os principais agentes do sector, prevê na sua imensa sabedoria que em Março e Abril deste ano os preços descerão ligeiramente, mas que só se deterão aí mais demoradamente no 2º trimestre de 2019.

A curto e médio prazo as evoluções de preço são imprevisíveis, pois muito dependentes de fenómenos atmosféricos. Olhando para o passado, parece haver alguma ciclicidade que poderia tornar mais provável que a um ano seco se siga outro chuvoso. Se assim fosse, a um 2017 energeticamente “caro”, seguir-se-ia um 2018 “barato”, mas claro que sem dominar as artes avançadas de feitiçaria índia a que já nos referimos, previsões meteorológicas alargadas são impossíveis.

A longo prazo parecem haver alguns factores que podem contribuir para uma subida constante da energia eléctrica:

  • Aquecimento global – não se trata de acreditar ou não, as provas existem, a velocidade a que chega será a dúvida. Com menos chuva as barragens podem passar muito tempo paradas.
  • Centrais nucleares – em França existe plano para ir fechando progressivamente centrais. Sabendo que 80% da energia desse país vem do nuclear, passar de exportador a importador fará subir os preços. Acresce que a Alemanha tem plano similar.
  • Veículos eléctricos – ainda que insignificantes nesta fase, se crescerem o que se espera, podem incrementar significativamente o consumo, sendo certo que por outro lado retirarão pressão dos combustíveis fósseis.
  • Concorrência – a um número alargado de comercializadores concorrentes pode seguir-se uma diminuição, sobretudo de pequenos players, que têm abalado preços e forçado os grandes a adaptar-se.

Em sentido contrário temos a maior eficiência energética, o crescimento do solar, a autogeração ou a criação/aperfeiçoamento de novas tecnologias, em que a nossa espécie tem sido fértil. Ainda assim, para os próximos 5 a 10 anos não parece que estes componentes possam ter um impacto tão forte para a descida como os enumerados para a subida.

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