Como
surgiu a ideia do projeto Tasa?
O Projecto TASA
surgiu em 2010 pela iniciativa da CCDR Algarve com a intenção de introduzir
inovação estratégica na atividade artesanal do Algarve, afirmando-a como uma
profissão de futuro. A CCDR contratou uma equipa de designers que
executou as ações previstas na primeira fase, nomeadamente a criação de 27
produtos em colaboração com 11 artesãos. Passado esse ano de projeto, o desafio
foi o de dar continuidade ao projeto sem depender do financiamento público. Em
2012 foi celebrado um protocolo da CCDR Algarve com a Proactivetur – empresa de
Turismo Responsável – para a gestão do projeto, sem custos para a entidade
promotora, situação que vigora até à data.
Quais são os valores na base de todo o projeto?
A missão do Projecto TASA é a de afirmar a atividade artesanal,
nomeadamente as artes tradicionais algarvias, como uma profissão de futuro. É
necessário, então, que estes saberes ancestrais ligados um contexto cultural e
económico específico (marcadamente rural) da região, continuem a ser
consideradas úteis, pertinentes e apetecíveis nos tempos de hoje. Estamos a
falar, por exemplo de dar novos usos à técnica da empreita (entrelaçados com a
folha da palma), da cestaria em cana, da olaria, da latoaria, da tecelagem em
linho ou da cortiça com uma abordagem mais contemporânea que responda às
necessidades atuais. Com isto, irá estimular-se a procura e, a par, aliciar-se
novas gerações de artesãos que garantam a continuidade de um importante e
distintivo património imaterial.
Mas acreditamos que só é possível dar continuidade às artes tradicionais se se trabalhar numa lógica de sustentabilidade em que interajam os valores da ecologia, da ética, da viabilidade económica e da diversidade cultural. Ou seja, utilizar materiais naturais, tratados de forma sustentável e desenhados para durar. Atribuir o valor justo ao trabalho artesanal tendo em conta o tempo que requer, no sentido de contribuir para uma sociedade justa e equilibrada, favorecendo também a criação de economia nos territórios de baixa densidade populacional. Promover a consciencialização para o consumo responsável, preocupado com as alterações climáticas e interventivo na construção de um futuro viável para as gerações vindouras. E, por fim, contribuir para a preservação da cultura mantendo ativos os saberes ancestrais ligados aos ofícios manuais. Estes são os valores com que nos pautamos e que nos levam a crer na possibilidade de futuro para ofícios que atualmente estão ameaçados de extinção.
Qual é o fator critico de sucesso do mesmo?
Os artesãos. A existência de detentores de saberes dos
ofícios artesanais em sintonia com esta visão e dispostos a colaborar com a
missão do Projecto TASA. Sem esta condição de base não é possível avançar
muito.
Qual tem sido a reação e a gestão de todos os stakholders do projeto?
Com muita
satisfação nossa verificamos que estamos gradualmente a juntar um conjunto
consistente e promissor de parcerias. Os artesãos com quem continuamos a
colaborar, ou que temos vindo a juntar à rede, são verdadeiros embaixadores do
TASA. Há um respeito mútuo e um diálogo muito próximo que cria um espaço
fundamental de confiança. Os artesãos não são meros fornecedores, são um agente
fundamental de alteração do velho paradigma da desvalorização das artes manuais
ligadas à ruralidade. Os nossos parceiros comerciais representam marcas,
instituições, projetos, empresas que conhecem a missão do TASA, os seus
valores, e fazem questão de pertencer a um movimento pelo resgate das artes
tradicionais que, além de mais, permite valorizar e diferenciar os seus espaços
e a experiências dos seus clientes.
O cliente do
TASA constata, em grande medida, a tendência crescente de um tipo de consumo
mais responsável, interessado no produto que compra, em perceber de que é
feito, como é feito, que história conta e que valores representa. São pessoas
que valorizam muito a cultura, o design sustentável, as matérias-primas
naturais, o lado humano e diferenciador da peça. Temos imenso prazer em
contactar com os nossos clientes.
Colaboramos
também com instituições públicas, sobretudo municípios, no sentido de intervir
para a valorização das artes e ofícios dos seus territórios (caso de Alcoutim,
Silves e Loulé). Outras instituições, como a CCDR Algarve, a Direção Regional
de Cultura, o IEFP, a Universidade do Algarve, têm-se disponibilizado para
participar em debates inerentes à preparação de propostas de ação. Sentimos
que, à nossa medida, temos dado um contributo para a tomada de consciência de
entidades (e também do público em geral) para a realidade das artes e ofícios
de cariz tradicional da região.
Qual tem sido a reação do mercado ao projeto?
Tem sido cada vez melhor. Estamos numa altura ideal em que o mercado desperta para a produção artesanal de alto valor
cultural, diferenciadora e inserida numa lógica de economia circular. Há uma
consciência maior sobre o impacto que as nossas escolhas como consumidores têm
para o desaceleramento das alterações climáticas e também para a diminuição das
desigualdades sociais. Com consumidores mais conscientes e exigentes abre-se
espaço para formas alternativas de produção, concretamente, para a produção
artesanal. Temos verificado uma maior procura de produtos do nosso catálogo, e
também por parte de gabinetes de interiores e arquitetura para desenvolvimento
de produtos personalizado destinados a espaços de hotelaria, escritórios e
restauração. Além dos produtos, também tem vindo a aumentar a procura de
workshops e experiências criativas relacionadas com as artes tradicionais.
Quais as
principais dificuldades sentidas até à data?
Por causa do
aumento na procura, tem-se verificado uma maior dificuldade na resposta. Ou
seja, acentua-se o aspeto crítico de que falávamos antes, que é o número
reduzido e a idade avançada dos artesãos. A média de idades dos artesãos que
colaboram com o TASA nalguns dos ofícios ascende os 70 anos. Daí que a
Proactivetur, na qualidade de gestora da marca Projecto TASA, tenha decidido
investir num programa de capacitação de novos artesãos (Programa “Artesãos do
Século XXI), sem ficar à espera da iniciativa de entidades públicas.
Outra
dificuldade prende-se com a cultura de desvalorização instalada na sociedade. A
grande maioria dos artesãos das artes tradicionais algarvias é reformada,
exerce esta atividade de forma complementar, e vê nela, acima de tudo, uma
legítima função social, de ocupação dos tempos livres e realização pessoal.
Comercializam os produtos nos mercados locais, sem fazer depender disso a sua
economia. O facto de não refletirem no preço o devido valor da sua produção,
inibe o processo de consciencialização do consumidor e atração de novos
artesãos.
Qual o balanço do trabalho desenvolvido até ao momento?
Nestes seis anos
de gestão do TASA passámos por muitas fases e aprendemos muito (aliás, ainda
estamos a aprender). Atuamos numa área complexa e em mudança. Vamos contra a
corrente de uma mentalidade de desvalorização destes saberes que são associados
à pobreza e à falta de “cultura” do povo. Mas também somos contemporâneos de
uma época onde se estão a mudar paradigmas de consumo, sociais e ambientais,
muito favoráveis a práticas de sustentabilidade e a marcas como o TASA. Temos
conseguido passar por tudo isto e manter um projeto na sua fase
pós-financiamento o que nos indica, por si só, que o balanço é positivo.
Ideias para o futuro?
É continuar a
rumar (a favor da corrente!) no sentido de perseguir a nossa missão e alcançar
os objetivos que permitam garantir o bom curso na direção da sustentabilidade
das artes tradicionais. E estar na base da construção e implementação de mais programas
de capacitação e apoio à instalação de novos artesãos.