O termo
coaching foi usado pela
primeira vez por volta de 1830,
na Universidade de Oxford, como
gíria de “tutor particular”, aquele que “carrega”,
“conduz” e “prepara” os estudantes
para seus exames.
Coaching refere-se ao
processo em si, o
Coach àquele que conduz,
e o
Coachee é a pessoa conduzida na
direção do objetivo que deseja alcançar.
Hoje, numa viagem de táxi lembrei-me da
palavra. Durante a viagem fui tendo uma
conversa com o condutor. Veio-me à cabeça
que afinal não era só ele que me conduzia
a mim numa viagem, mas eu também
o conduzia numa viagem a ele próprio, e
sobre ele próprio. Começámos a conversa
como normalmente se começam as conversas
nos táxis, falando-se do tempo, do
local, de futebol, da política, etc, e continuando
por ali abaixo a grande velocidade
até começar a crítica, apenas pela crítica, a
tudo e todos.
Confesso que às vezes desligo completamente
e deixo a outra pessoa falar, passando
essa pessoa a funcionar apenas como se
fosse o som do rádio que, embora esteja
ligado, não ouço, ou seja, o ruído de fundo
característico do ambiente em que estou.
Mas, desta vez, pesou-me a consciência e
deu-me vontade de não deixar a conversa
descambar. Aceitei o desafio de participar
na conversa, tornando o tempo de viagem
mais útil para ambos. Para mim, porque interiormente
me sentia melhor comigo próprio
prestando atenção ao outro, pois, afinal,
é uma pessoa, e queria falar. Para ele,
porque eu não o iria deixar entrar na típica
conversa da treta negativa, arrastando-o
também a um estado e comportamento
negativo.
Assim, após as ditas conversas de circunstância,
comecei a fazer-lhe perguntas sobre
a experiência de trabalho dele, sobre a família,
filhos, passatempos e hobbies, etc.
Estava perante um homem que, apesar
de ser taxista há três anos, nasceu profissionalmente
na hotelaria, casou com uma
colega de trabalho, que se mantém na hotelaria,
como subchefe de cozinha. Ele era
barman. Gostava do que fazia, mas, como
ganhava pouco, não tinha perspetivas de
crescimento profissional (pois os seus chefes
eram ainda muito novos e este grupo
hoteleiro era pequeno), ele que começou a
fazer um part-time no serviço de táxi. E foi
uma questão de tempo até largar a hotelaria
e passar a ser condutor de táxi a tempo
inteiro, enquanto empregado por conta de
outrem, até porque, nas palavras dele, “a
família aumentou e há que trabalhar para
dar uma boa educação a um filho de cinco
anos”.
Gosta do que faz, e diz que, agora, ganha
mais, tem mais responsabilidade e mais autonomia,
e anda mais satisfeito.
Entre outras perguntas, perguntei-lhe o
que é que ele se via a fazer no futuro e o
que é que o filho diz sobre a profissão dele.
É impressionante a transformação das pessoas
quando se muda a conversa, passando
a desafiá-las para falarem sobre elas próprias,
sua família e seus projetos.
Depois de ter demonstrado alguma surpresa
às perguntas que eu ia fazendo, pois,
segundo ele, não esperava que um desconhecido
lhe fizesse este tipo de perguntas,
o homem, depois de dizer que ainda não
tinha pensado muito sobre isso, permitiu-se sonhar, e começar a ver o que gostaria
que acontecesse.
Por um lado, tinha o gosto pela hotelaria
e restauração, pois nasceu nessa área e a
sua mulher continuava nessa atividade. Por
outro lado, aprendeu a gostar de ser taxista
e não queria perder a liberdade que este
trabalho lhe dava, dizia ele.
Foi engraçado apreciar o fogo de artifício
das ideias que foram explodindo na mente
dele, não lhe dando, sequer, tempo para as
tornar conscientes ou expressar tudo o que
lhe vinha à cabeça.
Estávamos quase a chegar ao meu destino
quando, depois de várias frases incompletas,
ele diz:
- Já sei! O que eu quero mesmo é ter um
bar com serviço de snacks, construindo um
negócio de família, para mim e para a minha
mulher, e mantenho também este serviço
de táxi em part-time, trabalhando por
minha conta.
No fim de ter dito isto, olhou para mim com
ar verdadeiramente emocionado e satisfeito,
e chegámos ao meu destino. Paguei, saí
do táxi, e ele entregou-me a mala e disse-me: – Muito obrigado pela ajuda e boa
viagem!
Cumprimentei-o e fui à minha vida com
esta última frase dele a ruminar na minha
cabeça por uns momentos…
O homem tem 42 anos, um trabalho e uma
família. A partir daquele momento ficou
também com um objetivo para concretizar!
Ah, e o tempo estava ótimo, céu limpo, sol
aberto e boa temperatura!
(1) - https://en.wikipedia.org/wiki/Coaching