No meu tempo, muita gente trabalhava 8 horas por dia
contadinhas ao segundo ao estilo do típico funcionário público.
No meu tempo, algumas empresas descontavam nos salários dos
seus colaboradores os minutos que demoravam a pôr o dedo no relógio de ponto e
até algumas empresas decidiram cortar nos vencimentos o tempo que os mesmos
demoravam a tomar um café.
No meu tempo os jornais desportivos e a televisão, à semana
nos canais de cabo, não havia um único que não dedicasse diariamente,
preferencialmente depois do jantar, umas horas a acessos debates televisivos
sobre o que se tinha visto no fim de semana anterior nos jogos de futebol na
televisão que todos ansiávamos que chegassem e consumíamos.
No meu tempo, os centros comerciais tinham filas ao fim de
semana e a partir dos dias 20 de cada mês avolumavam-se ainda mais aglomerados
de multidões para irem para lá passear e comprar o dispensável (um hobby que
pessoalmente nunca me cativou, mas respeito o gosto dos outros) além de depois
irem à típica sessão de cinema com salas cheias de cinéfilos e gourmets de
pipocas.
No meu tempo, quando ia ao supermercado e pagava com o
smartphone ou o relógio, alguns caixas estagiários, olhavam para mim de canto a
tentar perceber se eu era doido, se estava a gozar com eles ou se seria para os
“apanhados”. Mais espantados ficavam quando eu saía e dizia: “Boa tarde, obrigado!” sem ter saído o talão a dizer autorizado (uma vez um deles chegou a
dizer: “-Ei! Ainda não pagou!” pois já tinha sido notificado no smartphone da
operação bem sucedida, continuei a andar.
No meu tempo a maioria das pessoas não sabiam o significado
nem para que serviam os “palavrões”
Skype, Facetime, Teams, Zoom, Hangout, Houseparty, Webex, entre muitos outros
meios de videoconferência.
No meu tempo os pais tinham rotinas, as crianças horários
escolares, explicações, atividades extra-curriculares, andavam com mochilas que
pesavam mais que alguns garrafões de vinho e sem terem tempo para ler um livro
ou ir rapidamente dar um pequeno passeio com o mãe ou o pai para passear o cão.
No meu tempo, os jornais tinham todos temas de capa
diferentes. À exceção de mortes de grandes políticos ou artistas ou ataques
terroristas tinham no dia seguinte um único mono-tema de capa, seria impensável
ver capas sobre o mesmo tema durante semanas e meses seguidos.
No meu tempo é que era bom, esperar por sexta-feira ou
sábado para encher os bares e esplanadas na companhia das famílias ou amigos,
tudo bem disposto deixando de lado as amarguras que por vezes tínhamos nas
nossas semanas de trabalho.
No meu tempo, Portugal tinha como principal fonte de receita
o Turismo. Construíam-se hotéis em todo o lado. Os restaurantes estavam cheios
e a maioria a “carregar nos preços” para os Chineses, Brasileiros, Angolanos e
Russos pagarem bem. Portugal ganhava troféus em cima de honrarias de melhor
destino do mundo para se viajar. Os aeroportos em todo o mundo começavam a não
dar vazão para tantos aviões no ar e mais que duas horas parado um avião, já
começava a dar prejuízos à companhia aérea.
No meu tempo, nunca as bolsas de valores estiveram tão
altas, crescimentos de 40% ao ano nos EUA.
No meu tempo, nesta altura, já andava tudo histérico a
marcar férias de verão e a comprar bilhetes para os festivais musicais da
época.
No meu tempo, a grande preocupação mundial era o Ambiente e
as medidas que não tomávamos para o crescimento assustador da poluição mundial.
O meu tempo foi há pouco mais de um mês!
Hoje, está tudo ansioso por um abraço, a maioria das empresas não tem uma única pessoa lá dentro e não sabe se os seus colaboradores estão a fumar o seu cigarro ou a tomar o seu café.
Não há futebol, nem no estádio, nem na televisão, nem nos jornais. Os centros comerciais e os cinemas estão maioritariamente fechados tal como as escolas e universidades. Toda a gente aprendeu a comunicar com diversas ferramentas à distância para poder ver e interagir com os amigos, colaboradores, clientes e familiares.
Os jornais e
telejornais têm um mono-tema que dura há semanas. Os supermercados preferem que
as pessoas usem os seus meios “contactless” para pagar. Os hotéis que têm maior
taxa de ocupação rondam os 20%, a maioria fechou. Os restaurantes não podem ter
clientes, andam os próprios donos dos mesmos a fazer take-aways a casa dos outrora
seus convidados pagantes. 95% dos aviões mundiais estão parados. As bolsas
estão com índices idênticos aos de 1994. Festivais de Verão cancelados e o Ambiente,
esse grande mal do mundo, desceu as suas taxas de poluição em quase 25%.
Porquê?
Porque algo novo quase invisível, de tamanho nano-métrico, e
que pode contribuir em em menos de duas por cada mil das pessoas que morrem por
dia, apareceu por aí sem ninguém, ou melhor supostamente ninguém saber e
conhecer...
(a continuar...)