JOANA FÉLIX
PROFESSORA|COORDENADORA INTERMUNICIPAL DO PLANO NACIONAL DAS ARTES
Errar é maravilhoso!
“Sempre tentaste. Sempre falhaste. Não importa. Tenta novamente. Falha novamente. Falha melhor.”
sta famosa citação do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (que podemos encontrar na sua obra Worstward Ho, de 1983), tem servido de inspiração a muita gente, não só no mundo das artes, onde a sua aplicação seria mais óbvia, mas também no mundo empresarial e tecnológico, onde falhar é algo que sucede com frequência, mas que, inúmeras vezes, contém em si a semente do sucesso futuro (Marshall, 2017). Esta visão positiva do erro pressupõe também um entendimento da criatividade, da capacidade de adaptação e da resiliência como competências essenciais para a vida profissional do presente e do futuro.
O Fórum Económico Mundial, num relatório de 2017 (WEF, 2017), reconhece a importância do potencial humano e, consequentemente, da Educação, na quarta revolução industrial, chamando a atenção para a inadequação dos sistemas educativos desatualizados, que não preparam as crianças para o futuro, já que os estudos sugerem que 65% das crianças a começar a sua escolaridade irão ter empregos que ainda não existem (dados de 2017).
A Escola, enquanto lugar onde se cumpre o Artigo 74º da Constituição da República Portuguesa (que garante o direito à igualdade de acesso e sucesso na educação, implicando, também, a sua interligação com as atividades económicas, sociais e culturais), tem de olhar de frente para esta questão. E tem de se transformar no “laboratório do erro”, abandonando uma linha herdada do tempo do surgimento da escola de massas, com a primeira revolução industrial, em que o erro era desvalorizado, e punido (em muitos casos, ainda é). Abraçar o erro e utilizá-lo como experiência reflexiva de aprendizagem é urgente, para que no futuro tenhamos cidadãos capazes de o fazer no contexto profissional. E a arte é o terreno fértil para colocar isto em prática.
Já em 2010, Jacques Delors, no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, chamava a atenção para a necessidade de, num mundo em mudança, se dar importância especial à imaginação e à criatividade, recomendando, para isso, “oferecer às crianças e aos jovens todas as ocasiões possíveis de descoberta e de experimentação — estética, artística, desportiva, científica, cultural e social —” (Delors, 2010).
Neste contexto, em Portugal, em 2019, é criado o Plano Nacional das Artes, estrutura de missão com dupla tutela, dos Ministérios da Educação e da Cultura, que tem a missão de promover a transformação social, mobilizando o poder educativo das artes e do património na vida dos cidadãos: para todos e com cada um. Propõe-se fazê-lo, trabalhando com as Escolas, a partir de várias premissas:
# - Do conceito de cultura enquanto formação da atenção, e enquanto mediação para nos reconhecermos e construirmos a nossa identidade individual e coletiva.
# - Do poder transformador da arte e da cultura, que as torna necessidades básicas do ser humano, equiparando em importância a estética, a ética e a política para a construção social do presente.
# - Da noção de que através das artes, das atividades culturais, do acesso ao património material e imaterial, se amplia na Escola a quantidade e qualidade de vivências e competências, reforçando a abertura à comunidade e ao mundo, educando e formando de uma forma inclusiva para as diversas linguagens, inteligências e modos de comunicar.