1. Enquadramento
Com um mercado cada vez mais competitivo, global e exigente, diversas
organizações implementam e certificam o seu sistema de gestão, adotando
posturas que lhes permitam obter um desejável nível de reconhecimento no país,
bem como a nível internacional.
A qualidade tem atravessado
diversos estádios ao longo dos tempos, tendo evoluído da inspeção para o
controlo estatístico do processo, para a garantia da qualidade, para a gestão
da qualidade e, mais recentemente, para o Total Quality Management (TQM), no
qual se incluem os programas de excelência organizacional. Assim, passou de uma
filosofia de gestão demasiado estreita e mecanicista para uma visão mais
holística e humanista.
Para uma organização assumir a sua parte na
construção do futuro implica, a cada momento, (re)conhecer a posição que ocupa,
as principais tendências que moldarão os contextos de atuação futura, bem como
as competências de que dispõe face às que são requeridas para assegurar o
sucesso nesses possíveis contextos. Não se trata de procurar condicionar o
futuro, mas sim de criar as condições de adaptação à evolução do contexto em
que a organização desenvolve a sua atividade e de manutenção da sua capacidade
de ação criativa de valor económico, social e de liderança, ao longo desse
contínuo processo transformacional, tendo em vista o seu sucesso sustentado.
A capacidade de melhorar é um antecipador do futuro das organizações, pelo
que a implementação de sistemas de gestão e a melhoria que advém dos mesmos não
deve ser considerada algo que as organizações alcançam a curto prazo, mas sim
uma forma de gestão que produzirá os melhores resultados organizacionais a
médio e longo prazo e que proporcionará um desenvolvimento sustentado.
As normas de certificação, nomeadamente a ISO 9001
(foco do artigo) surgiram na perspetiva de auxiliar as organizações a
alcançarem este sucesso sustentado.
Neste sentido, surge uma maior necessidade, por parte das organizações,
em implementar novos sistemas, melhores práticas, estratégias, táticas ou atividades,
de forma a alcançarem uma melhoria da organização, independentemente do setor,
dimensão, estrutura ou maturidade das mesmas. No entanto, esta é uma tarefa
particularmente difícil e complexa, dado o grande número de interações que
existem entre a adoção de atividades empresariais que envolvem pessoas,
estratégias, tecnologias e mercados. Importa também salientar que quanto maior a organização,
mais difícil é a introdução de novas abordagens ou a alteração de procedimentos
de trabalho já estabelecidos.
Salienta-se que
não há uma melhor forma de implementar as normas nas organizações. Cada
abordagem de implementação traz benefícios diferentes e envolve diferentes
recursos e riscos. É importante considerar o que a organização espera atingir
com a implementação do sistema de gestão, antes de ser escolhida uma abordagem
para a mesma.
Nas seções seguintes são apresentadas constatações recolhidas ao longo do trabalho desenvolvido na implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQ) em quatro empresas distintas, que por uma razão de confidencialidade serão designadas por:
2. Motivações e Obstáculos para
Certificar a Empresa
A implementação e posterior certificação de Sistemas de Gestão (SG) deve
ser uma ferramenta utilizada com vista à melhoria organizacional, mas pode e
deve também servir enquanto argumento de marketing e de reforço da
competitividade[1].
Contudo, ainda um número significativo de organizações portuguesas
continuam a implementar sistemas de gestão e, posteriormente, a certificá-los
com base em motivações externas. Das quatro empresas consideradas para este
artigo, três identificaram motivações externas como principais razões para
avançarem para a implementação do sistema de gestão.
Tabela 1. Motivações
Constatadas na Implementação e Certificação de SGQ
|
Empresa |
|||
Motivações |
A |
B |
C |
D |
Pressões de mercado,
nomeadamente clientes |
√ |
√ |
- |
√ |
Com vista a uma efetiva
melhoria organizacional interna |
- |
- |
√ |
- |
No que concerne aos obstáculos verificados na implementação dos SGQ, sem
dúvida que as restrições de recursos
humanos, financeiros e materiais para a função são os mais verificados,
correspondendo a 100% de incidência na amostra das quatro empresas.
Tabela 2. Obstáculos
Constatados na Implementação e Certificação de SGQ
|
Empresa |
|||
Obstáculos |
A |
B |
C |
D |
Envolvimento da gestão de
topo |
- |
√ |
√ |
- |
Limitações de recursos humanos, financeiros e materiais |
√ |
√ |
√ |
√ |
Resistência à mudança por parte dos colaboradores |
√ |
√ |
- |
√ |
Custos de
implementação e manutenção elevados |
√ |
√ |
- |
√ |
Resistência para
registar informação para o SG |
√ |
√ |
√ |
√ |
Não podemos deixar de referir que o diminuto envolvimento da gestão de
topo é a causa fulcral para o insucesso na implementação de um SG, bem como de
garantir a sua melhoria.
Outra dificuldade com que as organizações se deparam neste âmbito
continua a ser a alocação de recursos humanos à função da qualidade, em
paralelo com outras funções já existentes, e muitas das vezes sem formação
mínima na área (Empresas A, B, C e D). Efetivamente, essa situação levará a que
os responsáveis pelos SG, por falta de disponibilidade, se preocupem unicamente
em cumprir com os requisitos normativos, em vez de retirarem conclusões e
propostas de ações de melhoria, com os indicadores que vão obtendo ao longo do
tempo.
A resistência para registar
informação para o SG “anda de mãos dadas” com a resistência à mudança sentida
nas organizações. Em muitas delas é deixado para segundo plano o fator
Recursos Humanos. No entanto, é
importante ter em conta que o que
determina os resultados numa organização são os valores, crenças,
comportamentos e hábitos de atuação dos colaboradores, os quais são diferentes
de pessoa para pessoa.
Não se pode melhorar o que não
se controla, não se pode controlar o que não se mede, nem tão pouco se pode
gerir aquilo que não se define, por isso ser fundamental a adoção, por parte
das empresas, num Sistema de Gestão. Por outro lado, também se verifica,
em muitas organizações, que apesar de todos os indicadores e fontes de
informação do SG, que identificam as áreas fortes e críticas dos processos, a
gestão de topo continua a tomar ações/decisões ignorando essa informação de
valor para a organização. Existe ainda o pensamento de que a área/departamento
da qualidade é uma atividade à parte, em vez de ser vista como parte integrante
e como um todo da organização, onde é possível obter o “comportamento” da
mesma.
3. Conclusões
É do conhecimento geral que existem
variados benefícios para as organizações resultantes da implementação de um
sistema de gestão, como o potencial acesso a novos mercados, melhoria da imagem
da empresa, melhoria na comunicação com o cliente, diminuição do número de
reclamações, aumento da produtividade, clarificação de responsabilidades e
obrigações, diminuição da percentagem de produtos não conformes entre outros.
No entanto, esses benefícios, por si
só, não se atingem unicamente com a implementação de um SG. É importante mudar
a mentalidade das administrações das empresas, bem como envolver todas as
pessoas, de todos os departamentos e áreas, todos os dias, por forma a adotar e
fomentar uma cultura para a melhoria
contínua.
Como o conceito da qualidade tem vindo
a ser desacreditado ao longo dos anos, acredito que o caminho para o sucesso
das empresas tem de passar por as empresas:
[1]
Sampaio, Paulo e Saraiva, Pedro Manuel (2011) Qualidade e as Normas ISO 9000 – Mitos, Verdades e Consequências.
Lisboa: Verlag Dashöfer