Manual de um Não-Bruxo para o 2020 das empresas

Não sou bruxo nem possuo uma mágica bola de cristal. Mas sei ler e resumir.

Pedro Amendoeira
25 de Fevereiro de 2020

Por isso, li uma série de relatórios, artigos, white-papers sobre o que nos espera em 2020, resumi e acrescentei um pozinhos (ainda que não tenha dos mágicos).

Estamos há uns anos a navegar uma onda de prosperidade, mas nas águas há́ perigos e o navio da economia mundial pode embater a qualquer momento num iceberg ou encalhar numa rocha. As empresas vivem tempos de imensos riscos e de imensas oportunidades. Quais os mais prementes?

Alguns dos riscos a que as empresas podem estar expostas nos próximos meses são:

  • Políticos – guerras comerciais, Brexit e governos extremistas são alguns itens que continuam a constar do cardápio noticioso. Os efeitos podem ser enormes e desencadear nova crise global. Ou não, o cenário é muito parecido com o de 2019, ano que correu globalmente bem.
  • Fiscais – no nosso país todos os governos gostam de mexer na fiscalidade e raras vezes é para baixar os custos das empresas. Este orçamento não promete benesses.
  • Tecnologia – é disruptiva de sectores e elimina mesmo empresas bem estabelecidas. Lembram-se da Kodak ou da Blockbuster? O seu sector pode ser o próximo? Eles também achavam que não.
  • Cyber-attacks – grandes e pequenas organizações têm sido vítimas de ataques de ransomware ou similares. Dado o sucesso e lucratividade para os piratas, tenderá a piorar.
  • Mercados e custos: 
a) Os transportes subiram em 2019 e continuarão em 2020. Se em Portugal é o acordo de atualização salarial com os motoristas (de 11%), a par com o aumento dos combustíveis, que pressiona os preços, a nível europeu acrescem nova legislação, restrições e taxas à circulação de camiões, escassez de motoristas, congestionamentos, etc.

b) Em sentido contrário temos a energia elétrica: 2019 começou em alta mas a meio do ano inverteu completamente, tornando 2019 um ano globalmente barato. As razões prendem-se com o tempo ventoso e chuvoso, com o retorno ao funcionamento de 2 centrais nucleares espanholas e com o baixo preço do gás. No curto prazo não existem razões para que os preços subam, o que significa que as empresas cujos contratos terminem no primeiro trimestre podem negociar uma baixa importante na sua fatura.

c) No petróleo e seus derivados, pelo lado da procura não parecem existir razões para que suba mais, mas a crónica instabilidade política no Médio Oriente, apimentada pelo ano de eleições nos Estados Unidos pedir um inimigo a quem bombardear, pode contribui para subidas marcadas.

Independentemente das causas, que pouco interessam dado que a generalidade das empresas nada pode fazer para as mudar, parece certo que alguns custos terão aumentos significativos e que as receitas podem não ser as esperadas, ao estarem expostas a um mercado global repleto de incertezas.

Ao contrário do que possa parecer, estou otimista. Contacto diariamente com excelentes empresas que, além dos riscos, veem oportunidades. Ainda sabendo que a base da minha amostra é condicionada por empresas que trabalham continuamente para melhorar, parece claro que existem aberturas:

  • Mercados globais – o mundo é vasto e repleto de nichos, ainda que possa ser crescentemente mais difícil e caro lá chegar. Uma guerra comercial fecha alguns mercados e torna outros mais acessíveis, uma desvalorização de moeda no país do concorrente, torna as matérias-primas para o nosso processo lá produzidas mais económicas.
  • Tecnologia – é tanto risco como oportunidade, pois pode ser a maior aliada. A Netflix é muito maior do que a Blockbuster alguma vez foi. Com nova tecnologia podemos chegar onde a atual não pode. Uma tesouraria saudável permite investir em inovação interna, em cooperar com uma startup promissora ou em imitar os seus modelos (as praticas Lean Startup, por exemplo, estão a ser implementadas por muitas não-tecnológicas). O uso da Inteligência Artificial e do blockchain dissemina-se e começam a aparecer formas das PMEs beneficiarem, entendendo melhor clientes ou refinando processos.
  • Conhecimento e criatividade – a adoção de novas soluções pode ultrapassar por completo a necessidade de alguns custos. Não há eletricidade mais barata do que aquela que não se consome, sistemas de embalagem diferentes podem exigir menores quantidades para o mesmo nível de proteção dos produtos.

Não sou bruxo nem possuo uma bola de cristal. Creio que não serão precisos tais atributos para concluir que, em 2020 como em qualquer outro ano, os barcos dos mais atentos e flexíveis navegarão em segurança em qualquer mar.


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