Navegamos em mares tormentosos e desconhecidos. Alguns têm
um barco adaptado a esse mar, fruto do saber ou do acaso. Outros não, talvez a
maioria. O que podem fazer?
Se há empresas que parecem feitas à medida para estes tempos
de retiro caseiro forçado (agro-alimentar, Amazon, Netflix, Zoom), muitas
outras estão no polo oposto (retalho têxtil, automóvel, turismo, cabeleireiros,
imobiliário, …). Outras ainda reinventar-se-ão nos próximos meses.
Seria tão bom poder pegar nestes barcos, encontrar um porto
seguro e hibernar, não é? Se invernar não fosse tão caro - continuam por pagar
as rendas, salários (ainda que parciais), custos fixos, contratos e fornecedores
de serviços.
Quem, como a proverbial formiguinha, se precaveu para tempos
difíceis, tem alguma almofada financeira. Mas nem aqui os mapas ajudam: a
formiga tem sempre uma ideia de quando chega o Inverno, de quanto ele pode
durar. Nós não. Se há um mês atrás dissesse a alguns empresários que iriam
vender zero por um número indeterminado de meses, poucos dessa raça de otimistas
acreditariam. E no entanto aqui estamos.
Dependendo de quanto dure a tormenta, os barcos forçados a
invernar (por lei ou por mercados) os que construíram mais reservas e estejam
melhor ancorados conseguirão aguentar mais tempo. Outros não sobreviverão.
Será sempre triste e com frequência injusto: alguns com uma
sólida gestão serão apanhados num mau momento, após um investimento importante
para crescer, por exemplo. Empresas recentes a quem foi negado o tempo
necessário para suceder. Para outras, será o golpe final de uma história
agonizante.
Volto à formiga: não há garantias, mas o labor dos
cautelosos em constituir reservas, pode incrementar as possibilidades de
sobreviver a este outro inverno.
Não existem mapas para isto, por isso voltemos às bases de qualquer negócio: aumentar receitas quando possamos, conter despesas sempre. E esperar por uma breve e feliz alvorada.