FILOMENA LOPES
Docente Universitária | Investigadora
30 ANOS PASSADOS ….
Em 1990 Henderson & Venkantraman alertavam, num artigo que se tornou referência, “Strategic Alignment : A Model for Organizational Transformation via Information Technology” que a transformação das organizações emergia como um tema importante devido essencialmente ao desenvolvimento das tecnologias de informação e das possibilidades que ofereciam.
papel competitivo já reconhecido, à época, às tecnologias de informação permitiria, segundo estes autores, que as organizações, através dos recursos de tecnologias de informação, pudessem transformar os seus negócios para obter novas e poderosas fontes de vantagens competitivas. Na verdade, neste artigo os autores assinalavam que este modelo de transformação organizacional deveria ser visto, na prática, como uma jornada e não um evento. No entanto, as empresas não acompanharam a jornada e, passados trinta anos, volta-se a falar em transformação digital.
Apesar de não haver um consenso na definição de transformação digital, muitos autores associam-na a uma mudança radical que envolve a criação de novos modelos de negócio. E a perspetiva de mudança radical raramente é bem acolhida pelas organizações. Por isso, aparece apenas esporadicamente, por vagas, em vez de ser uma atitude continuada.
Recuando a meados da década de 90, podemos relembrar a prática da reengenharia de processos de negócio (BPR–“Business Process Reengineering”) que visava a adoção de uma abordagem radical no desenho dos processos organizacionais, realçando a importância da inovação e o uso apropriado das tecnologias de informação.
Hoje não falamos em BPR mas continuamos a usar o vocabulário de melhoria contínua, nomeadamente associada aos processos, que remonta ao final dos anos 80. Podemos e devemos também olhar para a bibliografia contemporânea e contar quantos novos casos nos são dados a conhecer de transformação digital.
Estas realidades devem suscitar uma reflexão sobre se é a transformação digital que pretendemos, em si mesma, ou se o que pretendemos de facto é que as empresas estejam atentas não só ao valor que as tecnologias de informação lhe podem oferecer, mas também ao rápido e acentuado aparecimento de novas tecnologias de informação. Isto é, retomar a ideia de jornada que se pretende que seja um processo contínuo e acelerado de digitalização das organizações.
Segundo o Índice de Digitalização da Economia e da Sociedade (IDES) de 2020, Portugal encontra-se, em relação, à média europeia, mais bem posicionado nos indicadores relativos aos serviços públicos digitais, à cobertura de banda larga rápida e à integração das tecnologias digitais nas empresas. Pode-se destacar, por exemplo, que em 2020, 42% das empresas portuguesas partilhavam informação por via eletrónica e que 15% do volume de negócio das PMEs diz respeito ao comercio eletrónico. Por outro lado, nos indicadores relativos à utilização dos serviços da internet e
à dimensão do capital humano Portugal encontra-se ainda abaixo da média europeia.
Os objetivos digitais para a União Europeia até 2030 estão definidos e a jornada tem mesmo de avançar. Para que esta jornada se faça as empresas portuguesas deverão fomentar uma cultura de mudança onde caiba à liderança assegurar que as suas organizações desenvolvem uma mentalidade digital. Os trabalhadores, em geral, deverão melhorar as suas competências digitais e os profissionais de sistemas e tecnologias de informação, em particular, deverão ter um papel mais ativo dentro das organizações. Nesse sentido, os programas de upskilling e reskilling estão aí, e constituem uma boa oportunidade para que as PMEs portuguesas, possam, passados 30 anos, fazer esta jornada.
15% do Volume de Negócios das PME's resulta de comércio eletrónico