CLÁUDIA PALMEIRO
Culture Geek & Fundadora da La La Land Consulting
Colaborar é raro e, urgente.
O verbo colaborar vem do latim Collaborare (trabalhar com) e significa trabalhar em comum com outrem (*)
* Dicionário Priberam da Língua Portuguesa Online
Reed Hastings, CEO e cofundador da Netflix afirma que, na sua empresa, a capacidade de colaborar é uma competência obrigatória. Porém, Reed também adianta que é preciso ensinar as pessoas a colaborar, já que a maioria não teve no seu passado profissional a oportunidade de aprender.
Porquê? Porque na maioria das empresas as equipas nunca chegam ao nível de verdadeira colaboração. E isso nota-se nos resultados, nos comportamentos das pessoas, nas reuniões de equipa, nas decisões tomadas e nos conflitos não resolvidos. Isso nota-se nas narrativas que ouvimos repetidamente.
É urgente transformar a forma como colaboramos nas nossas organizações porque, os resultados humanos e financeiros dependem da forma como as pessoas colaboram entre si, da sua capacidade para relacionamentos positivos e produtivos e para a resolução de problemas complexos, da sua preparação para tomar decisões, e da adoção de práticas e comportamentos que potenciam os ativos das equipas e atenuam o impacto, no coletivo, das áreas de maior vulnerabilidade individual.
A nossa realidade de pouca/fraca colaboração, é alimentada por enganos, assunções e falhas de interpretação. Em primeiro lugar, confunde-se muito colaborar com voluntarismo.
Termos a vontade de oferecer o nosso tempo ou dizermos que sim a todos os pedidos que nos fazem, numa equipa ou numa organização, não é necessariamente sermos colaborativos.
Onde chegaríamos, como equipas, como organizações, se a forma como trabalhamos juntos, fosse diferente?
A colaboração exige a generosidade do tempo e da vontade de quem colabora, mas não acontece apenas por causa disso.
Em segundo lugar, existe uma assunção generalizada, nas nossas organizações, de que a colaboração acontecerá de forma natural, com o tempo, se colocarmos um grupo de pessoas com competências complementares na mesma equipa, numa mesma área funcional e a reportar ao mesmo manager.
Em terceiro lugar, nas nossas organizações, há uma importante falha de interpretação entre os verbos cooperar e colaborar. Uma comparação possível é esta: “cooperar significa cumprir a sua parte para que os demais possam fazer o mesmo, chegando ao resultado esperado. Colaborar é mais do que isso: significa preocupar-se em entender todo o processo encontrando maneiras de fazer com que a sua parte tenha um impacto ainda mais positivo para os demais.”
Contextos económicos e sociais mais “fáceis” (por exemplo, os da pré-pandemia) ofuscam muitas vezes os défices de colaboração e, os resultados das equipas, lá vão aparecendo, escondendo-se a necessidade de melhorar o que quer que seja.
E, além disso, todos sabemos que melhorar formas de trabalhar, dá trabalho e consome recursos. E todas as empresas afirmam que não têm recursos suficientes, portanto, vão-se mantendo em modo “business as usual”, o que inclui gastarem repetidamente mais recursos para compensar os défices dos resultados causados por más práticas de colaboração. É um ciclo vicioso trágico para todos.