Há dias, numa ponte aérea entre Lisboa e Porto, já dentro do
avião que mal liga as hélices (devo ser dos poucos que gosta da forma) que o
colocam na pista e de forma controladamente aparentemente descontrolada levanta
com inúmeros solavancos, impactos, saltos e hesitações rumo ao céu, recebi um
email para poder participar com um artigo de opinião.
Comentei com uma amiga e colaboradora, um dos meus braços direitos, embora nesta caso esquerdo pois ia no lugar 16 A e eu no B, que sempre que pediam a minha colaboração, hesitava sobre o que escrever pois tenho pouco para contar. Ela retorquiu: “Acho que nunca escreveste sobre inteligência emocional, e devias fazê-lo”. Ouvi, mas seria incapaz de antes escrever sobre a palavra injustiça, que é das que mais me move nos meus pensamentos diários.
Acho que as duas interligam-se facilmente, e só há uma forma de a relatar. Não egocentricamente, mas na primeira pessoa.
Qualquer injustiça mexe comigo. Seja a injustiça da justiça, seja a injustiça das espécies e social. Seja a injustiça de crianças terem que viver na rua e de pessoas terem comida. Da doença e do sofrimento. De uma pessoa ser injustiçada por terceiros nos seus atos e atitudes, de alguém não respeitar os colegas e colaboradores. De uma pessoa ser injustiçada nos seus pensamentos premeditada e unilateralmente. Do respeito pelo outro.
A inteligência emocional, é tudo isto. Nenhum gestor, político ou humano (embora haja simbiose entre o humano e os outros dois) é capaz de ser bem sucedido na prática e em consciência na sua vida, se não tiver a base que qualquer inteligência emocional tem que alocar. Um justo sentido de justiça e um simples e acessível a qualquer um, bom senso. Um advém do outro.
Não é preciso ter um exclusivo de mentalidade de afectos e proximidade. Uma pessoa fria e distante também tem essa faculdade. Não é uma luta do emocional com o racional, ambos são o ying e o yang do nosso córtex central. O exercício é muito simples. O que o interlocutor tem que ouvir e sentir, e como se sentiria o próprio a ter essa sensação.
Se soubermos estar no lugar de quem é visado em qualquer reação, atitude, palavra ou omissão, é fácil gerir essa sensação.
Não é ser manipulador. É ter sentido de justiça. Não é ser popular nem agradar. É ser justo.
A justiça, faz-se com afetos e racionalidade, emoção e razão. E a isso, atribuíram o termo de “inteligência emocional”.
Por isso, agradeço a primeira frase com que os meus colaboradores me brindaram no meu dia de anos. Embora eu seja naturalmente como humano que sou, a antítese de muito que por aqui escrevi, tento para isso caminhar como habitante “en passant” do nosso mundo como todos nós.
É com toda essa nomenclatura, família, colegas, amigos e sociedade que aprendo todos os dias. Seja em alturas de conforto e conveniência, seja na altura de controvérsia e desafio.