SUSANA BARROS
Especialista em Liderança e Estratégia
Liderança vs. Gestão: as 2 faces da moeda
Liderar ou gerir? A resposta ideal é: ambas.
iderança e Gestão são sistemas de ação distintos e complementares entre si.
Ambas são necessárias para que as empresas sejam bem sucedidas num mundo cada vez mais complexo e volátil.
E podemos usar exatamente estas duas palavras para as definir.
A Gestão lida com a Complexidade e a Liderança lida com a Volatilidade, com a Mudança.
A Gestão é um conjunto de processos que mantém um sistema complexo de pessoas e de tecnologias a funcionar de forma afinada. Inclui atividades como o planeamento, a orçamentação, a organização de recursos e a identificação e resolução de problemas e permite aumentar a probabilidade de os resultados de curto prazo serem entregues. Sem uma boa gestão, as empresas rapidamente podem tornar-se caóticas.
A Liderança, em contrapartida, lida com a mudança. Define uma visão de futuro e a estratégia para lá chegar, alinha as pessoas em torno dessa visão e dessa estratégia e inspira-as a colaborarem para fazerem com que se concretize apesar dos obstáculos.
O problema é que a maioria das empresas tem excesso de gestão e défice de liderança.
Isto não acontece por acaso.
Ao longo do século XX, e em particular na 2ª metade do século, o mundo assistiu ao nascimento de milhões de empresas, fruto da revolução industrial e da massificação da produção. À medida que as empresas cresciam, eram necessários gestores para controlar um cada vez maior número de trabalhadores.
Por cada líder visionário, eram necessários dezenas ou centenas de gestores, capazes de garantir que a “máquina empresarial” funcionava corretamente e estava bem oleada.
Desenvolveram-se, então, inúmeros programas de gestão e muito poucos de liderança. Em parte, porque havia muito maior procura do lado da gestão (das competências técnicas, como o marketing, as finanças, a logística, etc., também chamadas de “hard skills”), mas também porque ensinar liderança é naturalmente mais difícil, dado que envolve competências comportamentais, as chamadas “soft skills” (que fique registado que não concordo com este nome, dado que, na minha opinião, não têm nada de “soft”).
Este desequilíbrio entre gestão e liderança justificou-se ao longo do século XX, em que o ritmo de mudança era relativamente lento, o contexto relativamente estável, o tempo de vida médio das empresas era muito longo (media-se em décadas) e as pessoas
tinham o chamado “emprego para a vida”, tendo apenas que desempenhar cada vez melhor as funções para as quais haviam sido treinadas.