Estranhei, por ser um domingo de manhã e do emissor. Devolvi a chamada tendo resposta imediata. O interlocutor é demasiado inteligente, altamente sucedido na sua carreira e não precisa de prestar qualquer frete ou lisonja a alguém, porém, disse: “Amigo, estou a ligar-te porque li um artigo do Miguel Esteves Cardoso e acho que se encaixa em tudo que tu representas na tua vida, pois por vezes deves sentir-te bastante isolado nas opções que tomas e rumo que segues, mas nunca pares que estás a ir bem e longa vida tens pela frente. Também para dizer que gosto muito de ti, era só isto, grande abraço!”.
Basicamente foi só isto de injusto e generoso elogio à minha pessoa que genuinamente não mereço. Mas apetecia-lhe dizer aquilo e nenhum de nós deve nada um ao outro nas nossas carreiras profissionais. Uma forte amizade, sim. “Porra” porque não fiz eu antes isso com ele?
As pessoas precisam de ser assim porque há tenuidade no seu gesto. Se todos tivéssemos pessoalmente um pouco desta mentalidade, todos seriamos muito melhores. Em casa, no trabalho, em tempos de lazer. Apetece-me dizer: “Gosto de ti!” - Diga-se!
É verdade o que ele dizia e que me deixou a pensar embora eu nunca seja um ser solitário, pelo contrário, gosto bastante de conviver, mas quantas vezes já nos deparamos todos com algum isolamento pelos nossos pensamentos (estejam eles ou não certos). Quem não aprecia um belo momento de solidão só a olhar para um objeto ou a ler um livro ao som do silêncio, mas também quem não gosta de um momento surpreendente destes. “Olha, não te esqueças, não falamos muito, mas gosto de ti!”.
Isto só é possível quando as pessoas são positivas e atraem “bons vibes” Há muito tempo que ainda não era moda falar-se de “Mindfulness” mas sentia isso com muita gente. Num exame psicotécnico que fiz uma vez há seguramente mais de dez, doze anos (e anexo ao meu CV com orgulho se necessário) dizia que eu tenho uma facilidade enorme de desligar de quem é pessimista e negativo. E sou mesmo sem ser premeditado, acho que se esvai sem eu notar. As pessoas negativas têm um potencial enorme de desmotivar.
Nunca confundir gentileza com quem só diz “Amém”. Esses são os piores colaboradores e amigos que qualquer ser se pode rodear, são quem não ensinam nada a ninguém, apenas a bajulação e alimentar o ego do “próximo génio”. Génio que cuja a palavra se deveria vender sempre com um aviso de utilização cuidadosa, e de preferência sob vigilância médica.
Que custa ser gentil genuinamente? A pessoa gentil é poupada à maioria das perturbações e tumultos com que os descontrolados se afligem, desgastando-se com esforços desnecessários, supérfluos e uma grave crise de ansiedade por antecipação, de problemas que ainda nem existem e poderão nem vir a acontecer. Uma palavra e um gesto gentil, é muito mais poderosa que a ira.
A maior descoberta científica de sempre foi a ignorância. Assim que os humanos se aperceberam do pouco que sabiam sobre o mundo, passaram a ter uma boa razão para irem à procura do conhecimento necessário e assim desobstruir o caminho do progresso.
Por estas e outras razões quando as pessoas trocarem de pensar em inglês na palavra “impossible” por “I’m possible” talvez comecem a cultivar o sorriso, a alegria e o bom humor.
Como escreveu o meu querido e saudoso amigo Diogo Vasconcelos, um visionário esse sim, na verdadeira aceção da palavra e que aposto rever-se na totalidade do que declamei aqui, pois praticava bem o desapego: “We are what we share.” E é verdade, somos o que verdadeiramente partilhamos neste ping pong da vida.
Ainda a tempo de prestar uma última homenagem a um octogenário de excelência e visão como um jovem e mundano que Portugal perdeu na terra recentemente. O Senhor Alexandre Soares dos Santos, cujo qualquer exercício de gratidão e aprendizagem jamais poderei fazer a mais, além dos milhares de tributos públicos já feitos por quem lhe era próximo. Só mesmo o sentimento pessoal, o que li e ouvi desse Senhor ao longo da vida, me permite sentir essa perda como irreparável para a família naturalmente, mas sobretudo para Portugal. Era um Homem que era o que partilhava, e que foi o que continuará sempre a ser. Um Homem.
No que damos e recebemos, por isso como o passado é irrevogável e o futuro é sempre incerto. Viva-se o presente para nós e para os outros com os valores certos, positivos e otimismo.
O otimismo não melhora as coisas, mas o pessimismo piora definitivamente.
PS: A imagem em anexo é de um clássico táxi de Londres. Quando confrontados com a concorrência dos transportes privados de passageiros alternativos via plataformas digitais, fizeram esta inscrição nos seus bancos traseiros dos veículos. Uma publicidade aos próprios pela positiva, sem atacar a concorrência, fazendo apenas valer os seus feitos e know-how com elevação e educação, “Quite British.”
Do telefonema, ao dia a dia, profissional e pessoal, aos tributos e aos taxistas londrinos citados, todos tiveram uma forma diferente de nos de nos dizer:
“Gosto de ti!”. Gosta de ti também!