sinal mal colocado (ou mal interpretado por nós) que nos levou por um caminho que se mostrava cada vez mais estreito e perigoso, com troncos caídos e declives acentuados, enfim, um autêntico “caminho de cabras”. Como a temperatura nesta altura rondava já os trinta e cinco graus, uma vez que se aproximava o fim da manhã, o bom senso indicava que não era boa ideia continuar e por isso recuamos e voltamos para perto da aldeia.
No caminho de regresso, bastante frustrados por não termos conseguido o objetivo, decidimos parar numa pequena quinta junto a um ribeiro onde centenas de cabras pastavam. A dona da quinta, uma simpática e determinada jovem agricultora, acompanhada pela sua pequena (mas muito autoconfiante) filha, percebeu que andávamos perdidos. Decidimos perguntar-lhe o que tínhamos feito de errado, pois achávamos o caminho muito perigoso. Recebemos uma gargalhada típica de alguém para quem aquele caminho era a coisa mais
simples do mundo. Um autêntico choque cómico dos hábitos da aldeia com os hábitos da cidade.
As nossas novas amigas decidiram vir connosco fazer o caminho e levar-nos por recantos que calcorreavam com toda a naturalidade. Aquilo que antes era para nós uma floresta de medos, tornou-se um parque de diversões, bastou sermos guiados pela pessoa certa. Pelo caminho, ainda houve muito riso pela falta de perícia dos citadinos nestas coisas. A verdade é que acabamos na casa desta local a beber uma refrescante cerveja, daquelas que nunca mais se esquecem por terem sido oferecidas no momento certo. Saímos com sacos de histórias, tomates, pepinos, peixes do rio e queijo de cabra oferecidos pela nossa amiga, na sua simpatia genuína de quem quer partilhar as coisas que produz, e deslumbrados com este acaso. Na verdade, a melhor coisa que nos aconteceu nessa manhã foi termo-nos perdido!
O termo inglês Serendipity, serendipidade em português, é usado
para definir o ato de “encontrar algo magnífico enquanto se procura outra coisa” ou “a capacidade para fazer descobrimentos desejáveis por acidente”. É a arte de aproveitar, e otimizar, o acaso. A definição mais divertida é a do investigador holandês Pek Van Andel que diz que serendipidade é «tentar encontrar uma agulha num palheiro e sair de lá na companhia de uma bela camponesa».
A história demonstra que a serendipidade é uma fonte inesgotável de criatividade. Vejamos alguns exemplos:
1 - O primeiro registo escrito sobre o chá aparece num livro de 2737 a.C. sobre farmácia e ervas, escrito pelo carismático imperador e cientista chinês Shen Nung. De acordo com a lenda chinesa, foi este líder que inventou o chá. Conta-se que o imperador teimava em só beber água fervida. Um dia, de visita a uma zona remota do império, quando os seus criados lhe ferviam água, o vento soprou algumas folhas de um arbusto para dentro da
água que ficou com cor e aroma. O imperador, que era muito curioso, resolveu provar a mistura e o resultado é o que sabemos. O chá, juntamente com a água, é a bebida mais popular do mundo;
2 - Alexander Fleming foi de férias e, por esquecimento, deixou algumas placas com culturas de estafilococos sobre a mesa, em vez de as guardar no frigorífico ou inutilizá-las, como seria natural. Quando voltou ao trabalho, em setembro, observou que algumas das placas estavam contaminadas com mofo, facto que é relativamente frequente. Notou, no entanto, que havia, numa das placas, um halo transparente em torno do mofo contaminante, o que parecia indicar que aquele fungo produzia uma substância bactericida. O fungo foi identificado como pertencente ao género Penicilium, donde deriva o nome de penicilina dado à substância por ele produzida;
3 - O Viagra deveria ser um medicamento para o coração. Mostrou-se