30 de Abril de 2025


VÍTOR BRIGA

Formador de Criatividade e Comunicação




REINO UNIDO (OXFORD) – AS CRENÇAS LIMITADORAS






‘If we treat people as they are, we make them worse. If we treat them as they ought to be, we help them to become what they are capable of becoming.’ 


Goethe ’




E

ste verão decidi fazer umas ‘férias’ diferentes. Em vez de rumar a uma praia, decidi inscrever-me num curso de verão da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Foi uma experiência absolutamente extraordinária, à qual voltarei brevemente num destes artigos, uma vez que o contacto com um grupo de pessoas de todo o mundo, num ambiente académico rico de experiências, me permitiu trazer muitas histórias para contar.

Hoje quero centrar-me em concreto no impacto que o curso teve em mim. O tema foi: ‘High Performance Leadership: Arts to Sports’, um assunto que me fascina, pois há vinte e oito anos que dou formação na área da liderança. Interessa-me em concreto esta abordagem que analisa os comporta­men­tos que deverá ter um líder para ser capaz de mobilizar as suas equipas para o alto desempenho em diferentes contextos: artes, ciência, organizações e desporto.





 

 

A minha expetativa era a de receber conteúdos absolutamente únicos e fórmulas quase ‘infalíveis’ para liderar, pois estamos a falar de um curso lecionado numa das mais prestigiadas Universidades do mundo, fundada em 1096.

Efetivamente, foram transmitidos muito conhecimentos valiosos, que ainda estou a processar, mas o que mais me marcou não foi aquilo que me disseram, mas aquilo que me fizeram sentir.

Sean Heneghan, o nosso professor, recebeu-nos desde o

início com um sorriso afável. 

A sua forma autêntica de se relacionar com o grupo criou na sala um ambiente de segurança psicológica propício para que todos se pudessem sentir livres para se expressarem e serem quem são, sem medo de serem julgados. Isto foi determinante, para criar um ambiente harmonioso de partilha em que todos aprendemos com todos, apesar de estarem presentes onze nacionalidades diferentes num grupo de quinze pessoas.






A poetisa Edna St. Vincent Millay escreveu um dia: “Por favor, dê-me um bom conselho na sua próxima carta. Prometo não o seguir.” O Sean, com a sua longa experiência, sabia que mais do que nos dar muitos conselhos ou recomendações para sermos excelentes líderes, a melhor forma que tinha para nos fazer pensar era através de perguntas e, por isso, terminava sempre as suas aulas com as perguntas certas. Aquelas perguntas que ficam a ressoar dentro de nós e nos acompanham nos dias seguintes.

Nesta forma de ensinar, centrada em boas perguntas, somos nós, na busca das nossas respostas, que decidimos como adaptar os conceitos teóricos partilhados à nossa própria vida. Foram essas respostas os ensinamentos mais poderosos que trouxe deste curso.

Como dizia Nancy Willard, enquanto as respostas são quartos fechados, as perguntas são portas abertas que nos convidam a entrar. As perguntas certas criam mundos, possibilidades e compromisso. Dificilmente estaremos a formar alguém para o alto desempenho se quisermos impor a nossa forma de pensar, e fazer, sem ouvir a perspetiva do outro. Ao fazer perguntas poderosas, o nosso inspirador professor Sean criou no grupo a vontade de superação e fez-nos refletir sobre o maior obstáculo a sermos ‘gigantes’: as nossas ‘crenças limitadoras’.

De facto, as nossas emoções, e ações, são em grande medida determinadas pelas nossas crenças sobre nós próprios, sobre os outros e sobre os acontecimentos.

A ideia de que o que nos preocupa são as nossas crenças e interpretações, e não a realidade, não é nova. No ano 60 a.C., já dizia Epitecto que “ao homem não lhe preocupam as coisas, mas as ideias acerca delas”. O psicanalista Alfred Adler afirmava que “é evidente que não estamos influenciados por factos, mas pela interpretação que fazemos dos mesmos”.

Muitos dos nossos medos de arriscar são o resultado de uma falsa avaliação de um evento. Interpretamos incorreta ou ilogicamente uma situação, não somos capazes de compreender as implicações reais do que temos perante nós e, em consequência, podemos sofrer frustrações, aborrecimentos e ansiedades desnecessárias. O que realmente nos bloqueia e angustia são as nossas crenças limitadoras e irracionais.

Em geral, estas crenças são um produto da infância. Podem ter origem em mensagens que foram transmitidas pelos pais, ou por outras figuras significativas na vida da criança, ou podem ser produto de uma interpre­tação negativa das experiências relevantes do passado.

No entanto, cada um de nós tem o poder de autoconsciência para observar e desafiar (com as perguntas certas) as suas crenças limitadoras e, consequen­te­mente, pensar, sentir, decidir e agir de uma forma mais confiante perante os desafios pessoais ou profissionais.

Muitas destas crenças irracionais derivam da ‘tirania dos deveria’. Aqueles pensamentos absolutistas que nos dizem: ‘tenho de…’ e ‘deveria…’, constantemente repetidos de forma automática na nossa cabeça e que não questionamos.

De seguida, podemos ver alguns exemplos deste tipo de crenças:


“As pessoas devem agir de acordo com as minhas expectativas ou a vida é insuportável.”

“As pessoas deveriam tratar-me sempre com justiça.”

“As pessoas importantes para mim devem aceitar-me e aprovar os meus comportamentos.”

“Tenho de triunfar em tudo o que faço.”

“Se não consigo o que quero, não serei feliz.”

“Sou demasiado (velho, jovem, feio, gordo, etc.) para...”

“Se disser que não, serei despedido...”

“Não se pode confiar em ninguém.”

“Se queres que se façam bem as coisas, fá-las tu.”

“Devo aceitar, sempre é melhor do que nada…”

“Nunca poderia fazer...”


E você? Qual é a crença limitadora que o/a está a impedir de evoluir?

Deixo-lhe aqui algumas perguntas que pode fazer a si próprio depois de detetar uma crença limitadora:


  • É lógica esta crença?

  • Em que é que me ajuda esta crença?

  • Existe alguma evidência de que seja assim?

  • Estou a confundir desejos /medos com factos?

  • Em que é que eu preferia acreditar?


A mudança começa quando estamos dispostos a substituir crenças limitadoras por crenças potenciadoras e, saindo da zona de conforto, damos início a novos hábitos que nos permitem descobrir todo o potencial que temos.

Um verdeiro professor, formador ou líder, como o Sean, sabe que não se trata de julgar as pessoas, mas sim de as incentivar; Que não se trata de impor ideias, mas sim de fazer as perguntas certas; Que não se trata de brilhar, mas sim de inspirar; Que não se trata de nós, mas sim deles!

Sean Heneghan, docente da Universidade de Oxford, Reino Unido.



15 pessoas, 11 nacionalidades diferentes

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