VÍTOR BRIGA
Formador de Criatividade e Comunicação
Fotografias D.R.
VIETNAME – NINGUÉM GANHA NA GUERRA.
‘If you’re going through hell, keep going.’ Winston Churchill
Na guerra do Vietname, os guerrilheiros vietcongues conseguiram vencer o exército americano com forte estratégia e criatividade, demonstrando que até o mais poderoso dos exércitos pode ser derrotado, se não tiver o planeamento certo e o treino adequado para agir em contextos imprevisíveis e duros como, neste caso, o rigor das selvas.
As táticas de guerrilha usadas pelos vietcongues estão entre as mais bem-sucedidas da história. Eis alguns aspetos importantes que levaram à sua vitória: aprendiam as técnicas inimigas em longos períodos de treino e estudo intenso e encontravam formas de se adaptar a elas. Era também habitual, após o combate, o grupo de soldados reunir-se para debater o resultado. A autoanálise e o feedback eram ferramentas importantes nas táticas empregues por estes guerrilheiros e, desta forma, aprendiam bastante com os seus erros, conseguindo sempre antecipar as estratégias dos americanos e surpreendendo no terreno.
As fardas dos vietcongues eram simples, aliás não existia uma farda rigorosa ou oficial: usavam camisas e calças de cor verde escura, sandálias de borracha e um chapéu de selva, mas também podiam usar as fardas dos soldados americanos que matavam, ou simplesmente vestirem-se de camponeses, com roupas capazes de ocultar as armas, para que se pudessem misturar com a população e passarem despercebidos ao inimigo.
A maioria das ações de guerrilha envolviam ações rápidas, num terreno difícil e praticamente novo para o inimigo: armadilhas rudimentares bem ____
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posicionadas para causar danos extremos, “buracos de aranha”, valas cavadas pelos próprios guerrilheiros, onde ficavam horas escondidos cobertos com folhas secas e preparados para atacar subitamente o inimigo caso ele se aproximasse.
Uma das “armas secretas” dos vietcongues, eram os famosos túneis, escavados com as mãos ou com ajuda de pás, atingindo até 20 metros de profundidade e 120 quilómetros de extensão. Estes túneis eram interconectados com várias outras cavernas ou valas, tornando os seus movimentos completamente imprevisíveis para os adversários.
Em 2014, tive a oportunidade de visitar o complexo mais famoso de túneis, que ficava no distrito de Cu Chi, a cerca de 70 quilómetros a sudeste de Saigão, a capital do Vietname do Sul, atual Cidade de Ho Chi Minh. São mais de 100 quilómetros de túneis, uma estrutura subterrânea com enfermarias, cozinhas, dormitórios, armazéns de comida e munições, salas de planeamento e tudo o que era necessário para sobreviver durante dias a fio nesta dimensão espacial ‘paralela’.
No auge da guerra, os soldados vietnamitas passavam os dias neste inferno debaixo do solo, um labirinto emaranhado de terra, baixo, muito apertado, quente e escuro, só saindo à noite para encontrar comida e preparar novas armadilhas. Todos os habitantes nos túneis tinham lombrigas e vermes no estômago devido a todas estas condições e ao facto de os suprimentos de comida e água serem tão limitados.
A parte mais inesquecível da minha visita, foi o momento em que tive a oportunidade de andar debaixo de terra, dentro dos túneis cerca de oitenta a cem metros. Agachado e em passo rápido, ___
segui o guia, ansioso por ver a luz da saída e focado para não me perder nos inúmeros cruzamentos daquele labirinto. Não é uma experiência aconselhada a quem for claustrofóbico, mas permite ter uma leve perceção da loucura que pode ser o comportamento humano em ambiente de guerra.
Após minutos, que pareceram uma eternidade, saímos do túnel e grato por ver a luz do dia e respirar bem novamente, juntei-me ao grupo que me acompanhava para ouvirmos as mensagens finais do nosso guia local. Nesse momento, o simpático vietnamita dizia, com orgulho, que o seu povo era afável e hospitaleiro, pois apesar de tudo o que aconteceu durante a guerra e daquilo que os americanos os fizeram sofrer, agora estão a receber turistas americanos de coração aberto, com tudo resolvido e perdoado, pois há que deixar o passado no passado.
Este momento positivo de harmonia foi interrompido por um comentário, um pouco tóxico, de um turista espanhol que decide questionar: “Pois, pois, vocês agora dizem isso, mas é porque ganharam a guerra!” ao que o nosso guia, após um olhar sério e um silêncio incómodo, responde de forma seca e pesada “Ninguém ganha na guerra!”
Uma vez que antes ele já me tinha confidenciado que o seu pai tinha sido um dos mortos da guerra do Vietname, aquele momento, e aquela resposta, foram bastante significativos.
Penso que nas nossas relações pessoais, e nas relações profissionais em equipa, devemos distinguir entre ambiente de guerra e conflitos. Creio que a pior guerra é aquela que existe quando não somos capazes de assumir e gerir os conflitos. Isto faz-me lembrar o modelo de desenvolvimento das equipas desenvolvido por Bruce Wayne Tuckman _____