Porque vivemos, porque consumimos, porque investimos, porque
criamos, porque comunicamos, porque inovamos, porque empreendemos no Porto?
A promoção das cidades vem sendo praticada desde o século
XIX e, a competitividade entre as diferentes cidades, regiões ou países foi
desde cedo movida por diversos fatores, tais como a sua dimensão, localização
geoestratégica, economia, mas também as políticas e estratégicas de gestão
adotadas pelos diferentes governos locais (Metaxas, 2002).
Mais próximo da década de 90, assiste-se a uma troca de
reflexões académicas surgindo conceitos de marketing de gestão de lugares e,
assim, de marketing territorial. Se pensarmos na forma como as cidades evoluem,
crescem, transformam-se, criando oportunidades e abrindo e fechando ciclos de
serviços e de produtos, verificamos que a cidade assim o faz para acompanhar os
ciclos de mudança constantes, para fortalecer as suas capacidades e
competências por forma a criar estratégias de adaptação, aproveitando as
oportunidades para sustentar a sua competitividade perante a concorrência. O
marketing territorial é uma ferramenta de elevada importância quando falamos em
reagir face ao crescimento da competição entre países, regiões ou cidades.
A cidade tem que, obrigatoriamente, posicionar-se no sentido
de cativar o seu público-alvo, seja ele interno ou externo. Deste modo, e como
Michael Porter sugeriu em 1990, muitos governos e administrações locais
investem muitos esforços, económicos e financeiros, na tentativa de criar
vantagens competitivas no sentido de atrair turistas, investimentos e talentos
(know-how), levando investigadores e marketers a tratar os países, regiões ou
cidades como meros produtos, pois competem entre si por turistas, indústria,
investimentos e pessoas.
O marketing territorial tem sido utilizado por algumas cidades
para reconstruir e redefinir a sua imagem, com uma estratégia alicerçada em
atividades locais que refletem e reforçam essa mesma imagem. O city branding é um conceito que nasce
com a própria cidade, e a sua gestão e comunicação são essenciais à sua capacidade
de regeneração e desenvolvimento perante um público cada vez maior e mais
exigente.
Debrucemo-nos sobre o caso da cidade do Porto. Relativamente
ao conceito de city branding, em
Setembro de 2014 a cidade viu ser lançada uma marca que até hoje a vem caracterizando,
fruto de uma decisão dos novos órgãos de gestão, a marca “PORTO PONTO”. Uma
marca de cor azul e com uma iconografia inspirada nos painéis de azulejo da
cidade, que veio a receber o prémio principal (Best of Show) dos European
Design Awards 2015 (ED-Awards),
iniciativa que premeia anualmente os melhores projetos de design da comunicação
desenvolvidos por designers europeus. Na altura foi um desafio com um objetivo
muito claro: a cidade precisava de um sistema visual, uma identidade visual capaz
de organizar e simplificar a comunicação com os cidadãos; era urgente
representar o Porto, como uma cidade global, a cidade para todos.
“PORTO PONTO” tornou-se numa marca muito comunicativa a
vários níveis, com uma gestão articulada com os interesses do seu público-alvo.
Em qualquer ponto turístico, em diversos outdoors
espalhados pela cidade, em inúmeros outros meios de comunicação, a marca desta
cidade tornou-se visível a todo o público. A cidade do Porto passou a gerir a
sua marca, nunca se dispersando do que são os pontos fulcrais da sua
identidade: a sua divulgação faz-se soar nos diversos ecossistemas sociais,
culturais, económicos, onde se incluem os polos da inovação, do turismo, entre
os demais que fazem parte do leque de pelouros da administração local.
Numa outra perspetiva, um exemplo recente de marketing
territorial na cidade do Porto, que muito tem sido noticiado pela sua
capacidade de regenerar o tecido de negócios da cidade, é o ScaleUp Porto. Trata-se de uma
iniciativa cujo objetivo é o de apostar num paradigma mais competitivo para a
economia regional e apoiar as startups
tecnológicas locais com potencial para escalar internacionalmente. Numa
estratégia de startup city, também em
Lisboa existe a incubadora StartUp
Lisboa, apoiada pela respetiva Câmara Municipal. Porém, a Câmara Municipal do
Porto pretendeu ir mais além, posicionando a cidade doutra forma, nesta
matéria: de acordo com o autarca Rui Moreira, o poder político deve apoiar o
crescimento destas empresas emergentes, e não as empresas em si. O ScaleUp Porto representa, assim, uma
estratégia inovadora para a cidade e região do Porto, em parceria com a
Universidade do Porto, o Instituto Politécnico do Porto, o UPTEC (Parque de
Ciência e Tecnologia da U. Porto) e a Agência Nacional de Inovação.
Foi a ênfase dada à necessidade de “escalar” que diferencia
esta iniciativa, criando-se um programa que contou e que conta com o contributo
de facilitadores e influenciadores, de entidades públicas e privadas, que
partilham esta visão. Segundo informações da Câmara Municipal do Porto, como
instrumentos prioritários do ScaleUp
Porto, aquela entidade está a promover a atração de empresas start-up para
o centro da cidade, que se estima venham a ocupar já em 2016 cerca de 4.000
metros quadrados de área, representando mais de 300 postos de trabalho
qualificado. No âmbito desta estratégia será disponibilizado o mapeamento do
ecossistema de empreendedorismo, instrumento crucial para fomentar a dinâmica
entre todos os parceiros. A atração do território aliada a uma estratégia e a
uma marca sólida, tornam esta iniciativa uma promoção da cidade e o seu
reposicionamento face a outras regiões do país e regiões de países vizinhos.
Por forma a criar uma rede europeia para ScaleUp e, assim,
aumentar o leque de parceiros de diferentes cidades dispostas a abraçar esta
mudança de paradigma, será realizada na cidade do Porto, em Maio de 2016, a
primeira conferência europeia dedicada a este tema tão empreendedor.
Estes exemplos da cidade do Porto demonstram uma dinâmica de
marketing territorial muito forte, com uma vertente não só direcionada para a
esfera do turismo, pela implementação de uma marca forte, presencial,
cativante, já premiada como um excelente destino de férias e, ao mesmo tempo,
uma cidade acolhedora no sentido de abraçar e promover novos negócios,
dando-lhes espaço e oportunidades físicas e financeiras, nomeadamente através
de um canal de comunicação eficiente com os investidores e outros stakeholders.