Não se trata do C-3PO da Guerra das Estrelas, e muito menos dos robots representados na saga de filmes Alien. Esta versão é bastante mais rudimentar, mas possui já uma gama de capacidades que vai desde fazer flexões, enroscar uma lâmpada e até (pasme-se) disparar uma arma (vou deixar as comparações com filmes com o Arnold Schwarzenegger para outra altura).
Mas a união da nave Soyuz MS14 em que seguia o Fyodor com a Estação Espacial não correu bem, e a 1ª tentativa saiu gorada, sendo necessário esperar um dia para que estivessem novamente reunidas as condições para voltar a tentar, o que já foi bem-sucedido. A falha da primeira tentativa tornou-se notícia, porque o único ocupante da nave russa era o robot humanóide. Este não tomou qualquer parte no processo de acoplagem, pelo que não foi por sua causa que a primeira aproximação foi infrutífera. Para “ajudar”, para que conservasse a sua bateria, o Fyodor estava literalmente a dormir. Só que os gestores da missão, para tornar toda a experiência um pouco mais bem-humorada, tinham colocado o Fyodor na cadeira do comandante da nave Soyuz. Isto levou a que alguns sites de notícias tivessem indicado que o robot tinha causado a falha da acoplagem.
Na realidade a falha tinha-se devido a um pequeno problema no sistema de telemetria da nave. Mas o robot ficou imediatamente com má fama.
Isto leva-me a pensar na perceção que as pessoas têm quando entram numa empresa de um cliente ou fornecedor. Quem entra em nossa “casa” vem com uma determinada expectativa, seja positiva ou negativa. E nem falo apenas na arrumação, isso à partida será um dado adquirido, principalmente em visitas importantes. Quando vem um potencial negócio a caminho, poucos são os gestores que não dão indicações para triplicar o esforço de limpeza. Mas um olhar minimamente treinado sabe que quando vê algo demasiado limpo, será para desconfiar!
O mesmo se poderia dizer dos sistemas informáticos. Numa altura em que tanto se fala da “internet das coisas” e da Indústria 4.0, chegar a uma empresa e ver que tudo é feito em folhas de papel pode ser uma desilusão e um ponto negativo à partida.
Mas pela mesma lógica, um olhar treinado facilmente percebe que é melhor um sistema arcaico mas funcional do que um sistema informático que ninguém percebe muito bem como dele retirar valor.
Muitos gestores optam por avançar para a implementação de um sistema de gestão ERP (Enterprise Resource Planning) de qualquer uma marca conhecida simplesmente porque “já está na hora de evoluir”, ou mesmo “temos que passar uma imagem de modernidade”, ou até por acharem que só isso vai resolver muitos problemas.
Esquecem-se que essa evolução tem que ser preparada. Os parâmetros do processo têm que ser clarificados da forma mais pormenorizada possível, para facilitar a adequação do próprio sistema informático.
Ao longo dos anos, uma frase típica que tenho ouvido tem sido “ah isso faz-se assim? Mas eu pensava que era de outra forma, o procedimento diz outra coisa”.
Geralmente o ERP é parametrizado com base na documentação existente. E se só descobrimos que essa documentação está desatualizada quando a estamos a testar, torna-se mais penoso voltar a redefinir o sistema do que se isso estivesse OK desde o início.
O sistema informático deve servir a empresa, não é a empresa que se deve adaptar ao sistema!
De pouco importa ter um sistema que permita recebermos notificações no relógio ou no frigorífico de falta de stock na fábrica, se depois percebemos que afinal tinha apenas sido um erro de existências ou porque alguém clicou no sítio errado.
Ficou famoso um caso no Havai, em Janeiro de 2018, em que foi lançado à população um alerta enviado aos telemóveis de todos os cidadãos da ilha devido a um suposto ataque com mísseis, porque um operador clicou numa opção real quando deveria ter sido em teste (alegou depois que não percebeu que não era um teste quando lhe deram a indicação). A mensagem lançou o pânico na ilha durante os cerca de 10 minutos que tardaram até surgirem as primeiras indicações que era um alarme falso.
Da mesma forma que o Fyodor ficou com má fama injustamente, também um sistema informático cai no descrédito se não for útil logo desde o início, pelo que ao pensar em avançar para um sistema ultra-moderno, pense primeiro se a base está bem suportada, organizada e estável, mesmo que seja apenas com papel e caneta.