DEEPFAKENEWS

O smartphone é possivelmente o objeto mais viciante já produzido.

Rui Pedro Oliveira
31 de Dezembro de 2019

4,000,000,000 (números para evitar questões se é o bi português ou o bi americano) de pessoas que têm pelo menos um e por mais de 200 vezes o tiram do bolso por dia. 

Nenhum fumador fuma mais que 200 cigarros, ou algum alcoólico bebe mais que 200 cervejas por dia. Se o faz, desde que escrevi estas linhas até ser editado, provavelmente já não o lerá.

É através deste indispensável aparelho que falamos com as pessoas à distância, mas diria que “o falar com alguém” pelo smartphone não deve estar no top 10 do uso que damos ao mesmo.

Recebemos em média, 64 notificações de aplicações por dia. Sejam elas noticiosas, sejam elas de apps que está provado provocarem emoções negativas após 10 a 30 minutos diários, umas que controlam o nosso descanso, outras ajudam a atingir o auge em meditação, há para tudo. Já poderemos em breve usar uma app (em desenvolvimento Eterni.me) para falar com mortos que deixam uma série de histórias contadas, e podemos perguntar por exemplo. “- Avô, diz-me como foi a primeira vez que foste ao futebol?” Sem ter essa gravação é fácil fazer o algoritmo para tal, envie por texto ou por voz para a app que alguém sintetizará a voz do seu avô até o utilizador achar estar próximo do que era real, e usar a app sempre que sinta saudades da voz do seu saudoso familiar.

Julgo termos aqui o tónico para entrarmos no tema propriamente dito. As “deepfakenews”.

Antigamente alguém colocava a rolar um boato numa rede social, e facilmente muitos acreditavam. Em quantos anos diferentes faleceu o Grande Vasco Granja, entre muitas outras chamadas “fakenews” alimentadas por mentiras que se tornaram virais, com variados intuitos, geralmente para denegrir alguém, muitas vezes por pura ingenuidade, outras com caracter político ou judicial. São estas mesmas que nos chegam cada vez mais e monitorizadas ao “target” certo. Ao nosso smartphone, claro está, a nós próprios.

Se antigamente o “diz que disse” chegava, principalmente a quem facilmente emprenha de ouvidos, hoje já não é suficiente.

Se recorrer a uma aplicação chamada DeepFaceLab, com vários tutoriais na internet, pode facilmente com uma fotografia sua e de outra pessoa qualquer, fazer um vídeo seu, com as expressões e o tom de voz da pessoa que por quem se quer passar, pode ser um amigo ou uma celebridade. Um vídeo claramente manipulado e que funciona em “open source” gratuito e que com só com algum conhecimento da matéria consegue-se detetar ser falso.

Imagine agora plataformas profissionais, agências de comunicação de alto alcance, governos e outros que têm acesso a todo o topo dessa tecnologia, o que podem fazer na perfeição para descredibilizar alguém em poucos segundos.

Se antigamente dizíamos “ver para crer” claramente lembre-se que o que lê pouco importa, o que ouvia sempre pouco importou (se não fosse o próprio) hoje pense que mesmo quando ouve a voz e a conhece, e vê um vídeo e reconhece a pessoa em causa, pense sempre se será a própria ou não.

Estas são algumas das situações em que as notícias, independentemente da fonte, vêm ter connosco e nos leva a ser uns autênticos viciados em tirar o smartphone do bolso as tais 200 vezes por dia.

A informação e a contrainformação não é um registo dos nossos dias. A História está repleta disso. O nosso país começou com “O Conquistador” a bater na mãe, mas historiadores referem que afinal Teresa de Leão, esposa de Henrique de Borgonha provavelmente não seria a mãe do nosso primeiro Rei, aliás passados mais de 900 anos da morte de D. Afonso Henriques a vida dele continua cheia de mitos e mistérios por esclarecer. Há quem lecione em Espanha, que a batalha de Aljubarrota não foi ganha por nós, mas esta é a História que aprendemos na escola desde pequenos e que há poucos registos da veracidade de quem tem a razão do seu lado. Se aparecer um vídeo na internet com o próprio D. Afonso Henriques a dizer que realmente bateu na mãe e deu origem ao Condado Portucalense, duvide e não partilhe apesar de parecer muito culto na sua sociedade, perdoe-me a expressão caro leitor se passou por isto, mentecapta.

Já Abraham Lincoln, 15º Presidente dos EUA publicou há anos: “Não acredite em tudo que lê ou vê na Internet ou nas redes sociais”. Talvez por ser tão visionário, foi assassinado em Washington a 15 de Abril de 1865.

Touché, President Lincoln.

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