1 de Maio de 2022





ANTÓNIO NOGUEIRA DA COSTA

CEO da efconsulting |  docente e membro do N2i do IPMaia


Empreender na Reforma: Vontade ou Necessidade?


Decidir criar um negócio próprio que implica tempo para assegurar a sua viabilidade, é assumir um risco que o senso comum associa a faixas etárias mais jovens e, na atualidade, ao desenvolvimento de start-ups.



Existem duas grandes motivações para a aventura de iniciar uma atividade própria:

 • O gosto e a energia para enfrentar um desafio com uma crença de ter a solução para o mesmo;

 • A necessidade de sustento que não se consegue satisfazer por falta de emprego.

Sendo a primeira a mais característica das justificações, que tem sido e será múltiplas vezes ilustrada na Start & Go, merece também uma reflexão a que surge pela inexistência de empregabilidade e, no contexto temático desta edição, pela necessidade de assegurar um complemento ou atividade na idade de reforma.

Os dados da agência europeia Eurofound, de 2015, referem que os seniores portugueses são dos que mais trabalham na União Europeia (EU) e mais tarde se reformam: dos cerca de 2,1 milhões de idosos, 11,3% continuavam ativos, sendo a média na EU de 5,5%.

Conjugando estes dados com:

• a resposta quanto ao nível de preocupação com a possibilidade de o rendimento auferido na velhice não ser suficiente - para um nível média das respostas de 5,8, a Grécia com 8 reflete a maior preocupação, logo seguida de Portugal e Letónia com 7;







• a tendência de, em determinadas áreas de atividade, se libertar pessoas ou incentivar pré-reformas, por redução ou extinção de funções de atividades;

• a maior longevidade humana; será natural uma tendência de as pessoas encontrarem alternativas de rendimento complementar. Se para umas a execução de alguns trabalhos pontuais é suficiente, existem outras impelidas e que consideram estar reunidas as condições mínimas para desenvolver o seu próprio projeto.



Este contexto incentiva a criação de condições para auxiliar estas pessoas a alcançar os seus objetivos. Neste sentido destacam-se as iniciativas nacionais empreender 45-60 e 55+.

O projeto Empreender 45-60 (empreender4560.pt/), assume-se como uma estratégia de apoio ao empreendedorismo sénior, promovido 

pela Fundação AEP e apoio do compete 2020 e Portugal 2020, que pretende potenciar as capacidades dos seniores através dos vários papéis que podem assumir na esfera empresarial, quer como empreendedores, freelancers ou mentores.



O grande objetivo é a sua manutenção ou (re)integração no sistema económico, contribuindo para a geração de riqueza e simultaneamente para um processo de envelhecimento ativo e saudável.

A plataforma 55+ (55mais.pt) surgiu com o objetivo de prevenir a solidão e a inatividade de pessoas com mais de 55 anos, proporcionando-lhes uma vida ativa através da prestação de serviços de qualidade e confiança na área geográfica de habitação. O projeto piloto arrancou no final de 2018, em Lisboa, tendo como adeptos e parceiros autarquias, universidades e as fundações Aga Khan, Ageas, Millennium BCP, que ajudam a identificar possíveis “especialistas”, nome que é dado aos veteranos que integram a base de dados da 55+. 

Viver de uma forma digna, em especial com idades mais avançadas, e potenciar as habilidades e significativos conhecimentos dos mais seniores deviam serem dois objetivos e direitos assegurados a nível universal.

Ludovina e António Ramos: empreendedores e empresários após os setenta.


No início de agosto de 2015, em Campo de Ourique, abriu uma nova gelataria. A Giallo assumia-se como uma gelataria familiar, na tradição do gelado italiano artesanal com recurso a receitas tradicionais e produzido diariamente no local com leite, natas e frutas frescas da época, chocolates e frutos secos.


“Apareça e traga a família e os amigos.”

Esta notícia podia ser comum e ajustada a qualquer outra atividade relacionada com a abertura de um negócio de proximidade, contudo refletia uma particularidade: o promotor deste empreendimento, António Ramos, tinha 79 anos e contou com o apoio do filho, do genro e da esposa Ludovina, de 72 anos.

 António assume ser tão ativo que nem se recorda dos anos que tem. É ele que durante a manhã faz as compras para as lojas da família e também para a casa e, a partir do meio-dia e até à noite, está ao balcão. Nas horas de menos trabalho aproveita para escrever quadras para entregar aos clientes ("No Dia da Mãe, quem levava um gelado também levava um versinho"). 

Ludovina também não lhe fica atrás, possui duas lojas de arranjos de costura, pelo que sai de casa às 6h30 para chegar antes das 8h e poder organizar as tarefas da funcionária, que entra mais tarde. "Vejo as entregas para aquele dia, se for preciso, desmancho as peças de roupa para ir adiantando trabalho." Atende clientes, faz provas e por volta das 19h fecha a loja e vai ter com o marido à gelataria. Como esta esta fecha às 21h ou 22h, conforme seja inverno ou verão, só após essa hora é que comem uma sopa e fruta para seguirem para casa juntos. 

António e Ludovina estavam reformados, mas manter só as lojas de costura não era suficiente para a energia que possuíam, pelo que a melhor forma de a aproveitar foi lançar um novo negócio. 

Numa altura da vida que poderiam aproveitar para abrandar e desfrutar do muito que a esta já lhes tinha proporcionado, este casal optou por alongar os dias e passar os fins de semana a trabalhar.





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