31 de Maio de 2024





ANTÓNIO NOGUEIRA DA COSTA

CEO da efconsulting |  docente e membro do N2i do IPMaia


Inteligência Artificial ou Inteligência Não Cerebral®?


A inteligência artificial (IA) não é uma ficção, não é uma moda, não se limita aos campus académicos, entrou nas empresas, nos lares e está para perdurar.




N a edição comemorativa dos 10 anos da Start&GO dediquei o artigo a uma das ferramentas de inteligência artificial – ChatGPT, na sua versão gratuita - ao desafiá-la a responder a um conjunto de questões relacionadas com as empresas familiares e as famílias empresárias®: a tarefa foi cumprida com aprovação (ChatGPT, ChatGPT, … o que me dizes das empresas familiares?). Apresentei também o caso da Aisthetic: uma empresa lançada em março de 2023, pelo empreendedor português João Santos que, com recurso ao ChatGPT, em 5 dias faturou €10.000!

Como o tema de base deste número na Start&Go é a Inteligência Artificial, decidi efetuar uma mini retrospetiva de como chegamos a este ponto, de se ter uma empresa em que o ChatGPT é o seu CEO, focando três acontecimentos que considero estruturantes:

  1. 1955: o surgimento do conceito de inteligência artificial no encontro de cientistas no verão, em Dartmouth.

 

Imagem gerada pelo dall-e 2024-03-30 à solicitação “represente a inteligência suportada no cérebro e a inteligência artificial atendendo a imagem da cabeça do Einstein”


  1. 1994: um conceito de inteligência numa declaração pública no Wall Street Journal, por parte de um grupo de investigadores.

  2. 2022: o lançamento e divulgação massiva do ChatGPT

Em 1955, McCarthy (Dartmouth College), Minsky (Harvard University), Rochester (IBM) e Shannon (Bell) lançaram um convite para que 10 homens efetuassem um estudo sobre a inteligência artificial, nesse verão, durante 2 meses no Dartmouth College.

“O estudo deve prosseguir com base na conjetura de que cada aspeto da aprendizagem ou qualquer outra característica da inteligência pode, em princípio, ser descrito com tanta precisão que uma máquina pode ser construída para simulá-lo. Será feita uma tentativa de descobrir como fazer com que as máquinas usem a lin­gua­gem, formem abstrações e conceitos, resolvam tipos de proble­mas agora reservados aos humanos e melhorem a si mesmas. Acreditamos que um avan­ço significativo pode ser feito em um ou mais desses problemas se um grupo cuidadosamente selecionado de cientistas trabalharem juntos durante um verão.

A seguir estão alguns aspetos do problema de inteligência artificial:

1. Computadores Automáticos - Se uma máquina pode realizar um trabalho, então uma calculadora automática pode ser programada para simular a máquina […]

2. Como um computador pode ser programado para usar uma linguagem - Pode-se especular que grande parte do pensamento humano consiste em manipular palavras de acordo com regras de raciocínio e regras de conjetura […].

3. Redes Neurónicas - Como é que um conjunto de neurónios pode ser organizado de modo a formar conceitos? […]

4. Teoria do Tamanho de um Cálculo - Se nos for dado um proble­ma bem definido [...] uma maneira de o resolver é tentar todas as respostas possíveis. Este método é ineficiente e para excluí-lo é necessário ter algum critério de eficiência de cálculo. […]

5. Autoaperfeiçoamento - Prova­vel­mente uma máquina verdadeira­mente inteligente realizará atividades que podem ser mais bem descritas como autoaperfeiçoamento. […]

6. Abstrações - Vários tipos de “abstração” podem ser definidos de forma distinta e vários outros de forma menos distinta. Uma tentativa direta de os classificar e de descrever métodos de máquina para formar abstrações a partir de dados sensoriais e outros parece válida. […]



7. Aleatoriedade e Criatividade - Uma conjetura bastante atraente, mas claramente incompleta, é que a diferença entre o pensamento criativo e o pensamento competente e sem imaginação reside na injeção de alguma aleatoriedade. A aleatoriedade deve ser guiada pela intuição para ser eficiente. […]"

Quase quarenta anos depois, surge uma das definições de inteligência que mais aprecio e que foi publicada no The Wall Street Journal, em 13/12/1994, sob o título “Mainstream Science on Intelligence”, como uma declaração pública emitida por um grupo de 52 investigadores liderados pela psicóloga Linda Gottfredson: “uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planear, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender ideias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência.”

A 30 de novembro de 2022, assistiu-se ao lançamento e boom público do chatGPT pela open AI, de Sam Altman, que, a uma velocidade estonteante, “vulgarizou” o termo e a utilização de ferramentas de inteligência artificial. Este chatbot 

tornou-se na ferramenta online mais rapidamente adotada até então: mais de 1 milhão de utilizadores em 5 dias (o recorde foi ultrapassado em julho de 2023 pelo Threads da Meta: 100 milhões em 5 dias!).



Este contexto levou-me a uma tentativa de simplificação, enquanto muito leigo na matéria, ao assumir que existem duas categorias de inteligência: uma com base cerebral e neuronal – inerente aos animais vertebrados onde se incluem os humanos – e todas as outras que, mais do que artificiais e por oposição, decidi apelidar de Inteligência Não Cerebral®.

Porquê esta tentativa de definir uma fronteira? Porque acredito que estamos a assistir a uma (r)evolução de desenvolvimento e utilização de múltiplas tipologias de inteligência que, rapidamente, se integrarão com a que é a génese e a essência de todas: a finita e mortal suportada no cérebro do ser humano.

Acrescem ainda alguns testemunhos de empresas familiares que acompanho e que já estão conscientes que a implementação eficaz da inteligência artificial requer uma abordagem estratégica e, em muitos casos, uma mudança cultural nas organizações. 

Estas sociedades podem tirar enorme vantagem comparativa ao transformar o desafiante processo de sucessão na liderança numa oportunidade para atrair as gerações mais novas e, assim, aproveitar os seus contributos para a integração gradual das tecnologias de IA no seio da organização, bem como para enfrentar desafios específicos como a gestão de relacionamentos familiares e a preservação dos valores e tradições da família.

Aqui chegados, e mesmo que muitos ainda considerem que se está no reino da ficção, apresento duas situações portuguesas bem reais:


  • uma relatada pelo fundador da Aisthetic, um ano após a sua fundação;

  • a outra descreve o recurso à inteligência artificial pela Azevedos Indústria, uma empresa familiar com 60 anos (nasceu 9 anos após o encontro de Dartmouth).

Apreciem estes dois exemplos com sentido crítico e enviem as vossas opiniões.


António Nogueira da Costa (antonio.costa@efconsulting.pt)

Fontes:

https://www1.udel.edu/educ/gottfredson/reprints/1997mainstream.pdf

https://www-formal.stanford.edu/jmc/history/dartmouth/dartmouth.html

https://home.dartmouth.edu/about/artificial-intelligence-ai-coined-dartmouth


Aisthetic



Há exatamente 1 ano, pedi ao ChatGPT para construir a empresa mais lucrativa possível com 1k USD e 1h/dia.

Isso desencadeou uma viagem de montanha-russa que um dia compartilharei com meus netos.

Será mais ou menos assim:

“Crianças, sentem-se. Quando o vovô tinha 30 anos, o mundo era muito diferente: A IA estava apenas no seu início. A Apple já era popular - mas carregávamos grandes retângulos fora do nosso corpo! Não tínhamos robôs Alfred limpando nossas casas. Ainda conduzíamos os nossos próprios carros - e batíamos o tempo todo! De qualquer forma, um dia desafiei um dos primeiros chatbots de IA a construir uma empresa, só para testá-la por diversão. Esqueci o nome da empresa agora... o tempo voa. De qualquer forma, quando eu disse às pessoas que ia fazer isso, a internet enlouqueceu!

Conseguimos +5 milhões de visualizações numa única postagem. Levei meses para ler todas as mensagens que chegaram. Arrecadamos €100 mil de investidores de todo o mundo e realmente criamos uma empresa com um chatbot como CEO!

Pode ter sido o primeiro do mundo... ainda não sei. Mas sabem qual foi a melhor parte?


Tive a oportunidade de conhecer tantas pessoas legais: 

São Francisco

Fui apresentado a Nuno Gonçalves Pedro, que fundou a Chamaeleon para usar IA para superar outros fundos de capital de risco. Tivemos uma boa conversa e acabei por me tornar o responsável de conteúdos deles! Ele é agora um filantropo – outros fundos demoraram tanto para recuperar o atraso que foram imbatíveis durante uma década inteira. [...]

Cidade de Nova York

Entrei ao vivo com a CBS News, graças a Justin Sherman, que me convidou para compartilhar minha jornada em num documentário da CBS. Você ainda pode encontrá-lo no museu do YouTube! [...]

Naquela época eu achava as redes sociais terríveis, mas descobri que nunca o foram. Eu simplesmente não sabia como usá-las para tornar minha vida melhor."



(resposta a uma pergunta sobre como está o negócio da Aisthetic) https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7175495596722561024/ 


Azevedos Indústria


 

A Azevedos Indústria é uma empresa familiar com origens em 1964, especializada na indústria de transformação da cortiça, desde a preparação da matéria-prima, à embalagem do produto final. Estes 60 anos de experiência e ligação ao meio científico nacional, permitem-lhe uma posição na vanguarda da inovação tecnológica para produção e acabamento de rolhas de cortiça, tendo vindo a incorporar técnicas avançadas de IA nos seus produtos e soluções tecnológicas.

O coração dessa revolução tecnológica assenta no uso de algoritmos de machine learning (ML), particularmente aqueles fundamentados em redes neurais profundas, para aprimorar, em particular, a visão artificial na inspeção 

e seleção de rolhas de cortiça e na deteção dos melhores ‘topos’ das rolhas.

As redes neurais profundas, inspiradas no funcionamento do cérebro humano, são capazes de aprender e interpretar complexos padrões visuais a partir de grandes volumes de dados.

Na Azevedos Indústria, essas redes são treinadas usando vastos conjuntos de imagens de rolhas de cortiça, cada uma etiquetada com informações sobre sua qualidade, defeitos e outras características relevantes. Este treino é realizado através de técnicas supervisionadas, onde o algoritmo aprende a associar padrões específicos nas imagens a determinadas saídas (por exemplo, a classificação da qualidade da rolha).

Um aspeto crucial dessa abordagem é o refinamento contínuo dos modelos de IA. À medida que mais dados são adquiridos e analisados, o sistema torna-se progressivamente mais preciso na identificação de defeitos, variações na textura, e na determinação do melhor topo para a alimentação em máquinas de acabamento. Este processo de aprendizagem contínuo assegura uma melhoria constante no processo de escolha das rolhas assim como assegura uma maior eficácia dos processos de orientação - a deteção do topo ideal para cada rolha não só melhora a eficiência das linhas de produção como também contribui para uma melhor performance influenciando positivamente a conservação e evolução do vinho.

 

 

Os algoritmos de machine learning empregados pela Azevedos Indústria também são adaptativos, ou seja, são capazes de ajustar-se às mudanças nas características da cortiça ou às novas exigências de qualidade. Essa adaptabilidade é fundamental num um setor onde as variações naturais do material e as expectativas de mercado estão em constante evolução.

A integração da Inteligência Artificial nos processos da Azevedos Indústria reflete uma estratégia de inovação contínua e um alinhamento coerente com a visão definida para o setor onde atua. A adoção de algoritmos avançados baseados em redes neurais e técnicas de machine learning na Azevedos Indústria representa um salto qualitativo nas 

tecnologias aplicadas ao processamento e acabamento de rolhas de cortiça. Através destas soluções de IA, a empresa não só alcança uma precisão e eficiência sem precedentes na seleção das rolhas, mas também reforça seu compromisso com a inovação e a sustentabilidade na indústria da cortiça.

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