27 de Maio de 2024






ANDRÉ PINHEIRO

Direção de Qualidade


Inteligência de Qualidade Artificial



Quando pensamos em Inteligência Artificial, muitos de nós imediatamente se recordam do Arnold Schwarzenegger no “Exterminador Implacável” e pensam nesse futuro sombrio.



Outros, mais velhos ou mais cinéfilos, vão um pouco mais atrás no tempo e lembram-se do HAL 9000, o computador que geria a estação espacial no filme 2001. E muitos não saberão que o filme “Jogos de Guerra”, de 1983 em que um Matthew Broderick adolescente entra no sistema de defesa americano para quase começar uma guerra mundial é baseado num caso real, ocorrido numa altura em que a União Soviética fazia também experiências com um sistema de inteligência artificial, que terá confundido determinadas informações com um possível ataque nuclear dos Estados Unidos. Também o teste utilizado no filme Blade Runner para saber se uma personagem era humana ou um “replicant”, ainda que ficcional tinha também bases reais, nomeadamente num teste com imagens perturbadoras a que um humano deveria reagir de forma mais emocional que um robot.

E os mais velhos também se lembrarão que em 1984 o grupo Salada

de Frutas na voz de Lena d’Água nos pedia para olhar para o Robot, que era “pró menino e prá menina”.

Mais recentemente vi, há dias, um anúncio televisivo em que uma mulher é impedida de abrir a porta de casa para sair, enquanto o software de gestão da casa lhe pergunta se ela não se esqueceu de nada… O anúncio é para uma bebida energética, e é suposto ser algo humorístico, principalmente depois da pessoa ir ao frigorífico recolher a bebida, e reclamar com o software que estava a ser demasiado dramático. Mas confesso que me assusta um pouco a noção de que um software pode ser “consciente” ao ponto de pensar que sabe mais de nós do que nós próprios. Ou não fosse essa a noção subjacente a qualquer um dos filmes aqui mencionados, e a generalidade de filmes em que computadores se tornam seres pensantes.

É claro que estas visões são propositadamente negativas para “atiçar” quem as vê e permitir o enredo em que um humano se revela mais inteligente e consegue dar a volta à situação, ou seja é claro que um futuro sem problemas não daria grande


hipótese para um enredo interessante.

Então o que nos espera na realidade?

Dizem os especialistas que os primeiros a sofrer serão os empregos relacionados com análise de dados, atividades que facilmente poderão ser executadas por um qualquer algoritmo mais ou menos inteligente.

E como será na Indústria? E mais concretamente na Gestão de Qualidade? Afinal, esta não é baseada em análise de dados?

Pessoalmente acredito que ainda estamos um pouco longe deste futuro sombrio, pois muitas das tarefas de controlo de qualidade dependem de uma análise subjetiva, que vá para além da simples comparação com critérios de aceitação. Quem nunca ouviu alguém dizer que “sim, a peça tem um defeito mas está dentro do aceitável”, ou a versão mais popular e em bom português “para quem é, serve”? Até porque a rejeição de uma peça também custa dinheiro!

Já no caso de controlo de qualidade de software, aí sim poderá fazer mais sentido um analista ser substituído por um software que rapidamente realize um conjunto



infindável de simulações e perceba o que ainda falta ou como pode ser melhorado. Mas por outro lado, ainda é muito humana a reação de “já agora que o software faz isto, que tal se também adicionarmos aquilo?”.

Isto para dizer que uma análise realizada com o auxílio de inteligência artificial pode ser muito útil para acelerar processos, para elaborar pacotes de software, talvez até para definir pontos críticos que dever ser controlados num qualquer processo produtivo, mas dificilmente irá ser substituir totalmente o ponto de vista humano. Um qualquer defeito visual talvez possa ser retocado e assim evitar a rejeição de uma peça.

Já existem, hoje em dia, sistemas de controlo com câmaras de vídeo e algoritmos de análise de defeitos, mas para características muito objetivas, geralmente ligadas a questões dimensionais, em que é fácil decidir o 

que passa ou não passa.

E mesmo assim, o que é rejeitado tem habitualmente que ser ainda analisado por uma pessoa para confirmar a rejeição. Mas não é difícil imaginar um futuro próximo em que por exemplo uma análise FMEA, em que são previstos possíveis problemas e suas consequências e é uma tarefa que habitualmente gasta muito tempo e recursos, possa ser realizada com o auxílio de um sistema de IA.

Mas há um ponto muitas vezes esquecido: a “inteligência” destes softwares dependem sempre da forma como são alimentados. São muitos os exemplos de informações erradas fornecidas por sistemas de conversação supostamente inteligente, porque estes foram alimentados com informações incorretas ou falsas. Se o sistema vai buscar informação à Internet, a possibilidade que esta esteja errada é, infelizmente, muito elevada.


Em resumo: no que toca à Gestão da Qualidade, há sem dúvida tarefas que podem ou poderão em breve ser realizadas por sistemas de inteligência artificial, e assim otimizar e agilizar processos, tanto de produção como de desenvolvimento e análise, mas dificilmente irão substituir a capacidade de análise crítica do ser humano, principalmente em questões subjetivas, porque nem tudo se resume a SIM e NÃO, há sempre muitos “TALVEZ” pelo meio. E também muitos “já agora…”!






Nota: Este artigo NÃO foi escrito com recurso a Inteligência Artificial…

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