S&G - Qual a melhor fase da vida de uma mulher para empreender: aos 20, 30 ou mais tarde?
HP - Como em muitos outros temas, penso que no empreendedorismo não existem regras ou padrões genéricos...cada caso e um caso e cada ser humano tem a sua história de vida que o leva a ser o que e em cada momento, a arriscar, a aprender e evoluir. Assim na minha opinião não existe idade certa...aos 20 temos menos conhecimento mas mais audácia...mais tarde o inverso. Acho que a altura certa e quando se conjugam uma serie de fatores e surge uma boa oportunidade que nos faz sentir que vale a pena, que temos de avançar.
S&G - Qual foi a sua primeira experiencia empreendedora? O que a motivou?
HP - Sempre gostei de organizar coisas, fazer coisas acontecer no meu grupo de amigos e na escola e ate no seio familiar. Acho q nasci com esta característica.
Mas o meu primeiro negócio a sério foi um franchising da Baskin Robbins na praça da Republica de Viana do Castelo, cidade onde nasci e onde ainda hoje vivo. Estava no segundo ano da minha licenciatura em Engenharia Eletrotécnica e tinha imensa vontade de me tornar independente dos meus pais financeiramente .Alem disso as férias eram para mim tempo demais...
Surgiu a oportunidade de tomar conta do negócio. A loja era minúscula e só dava para funcionar no verão pois a sala era a esplanada. Assim abria a loja na altura da queima das fitas e fechava depois das festas da Agonia (Setembro). No fim de cada temporada tirava uns 15 dias de férias, que sentia merecidas e me sabiam muito bem.
S&G - Que lições retirou dessa experiência?
HP - Muitas.Gerir uma gelataria pequena, com o armazém longe da loja, e uma reduzida capacidade de stock fez-me inventar soluções de logística eficientes
Tinha sempre 2/3 funcionários pois trabalhávamos das 10 as 2 da manha, gente nova, que tinha de ser motivada para dar o litro e controlada para respeitar regras, horas ... No fundo tinha a minha equipa para liderar com toda a complexidade que a gestão de recursos humanos tem.
A localização da loja, com as festas e concertos no verão, levavam a tentar arranjar sempre novos produtos e a arranjar formas de ter a cada momento aquilo que o turista precisava. Chegamos a vender tortas de viana feitas pela minha avó a preço de ouro na altura do cortejo. Tínhamos de dar o litro, não havia horas nem cansaço. Era importante vender, passar os objetivos e superar em cada dia o anterior...
E foi obviamente um excelente primeiro contacto com a contabilidade básica, e com as contas de uma empresa.
S&G - Na sua opinião os desafios para homens e mulheres empreendedores são diferentes?
HP - Não, na minha opinião, passado o primeiro contacto, quando temos um negocio e estamos a trabalhar o que conta é o valor, as ideias e os princípios do ser humano que nele esta envolvido… Ser homem ou mulher passa a ser indiferente.
S&G - Atualmente gere um grupo multinacional numa num ramo predominantemente masculino. Alguma vez sentiu que foi de alguma forma discriminada pelo fato de ser mulher?
HP - Na Europa e ocidente não... Tive algumas experiências de discriminação no médio Oriente, principalmente na Arabia Saudita. Aí realmente foi bastante difícil para mim. Além de ter dificuldades em falar com os stakeholders (só homens), mesmo para ter um visto precisava de ir com o meu “dono” ou seja o marido/pai ou pedir um visto diplomático...
S&G - Muito se tem escrito sobre as diferenças de liderança entre homens e mulheres. São as mulheres mais emocionais na liderança dos seus projetos? De que forma essa característica influencia os resultados das equipas?
HP - Aqui também não concordo muito com a distinção. Há diversos estilos de liderança e vemos homens emocionais e mulheres racionais... e vice versa. Penso que também aqui é uma serie de fatores (que diferem muito caso a caso) que se conjugam e dão um bom líder...
S&G - Que conselhos daria a todas as mulheres que desejam empreender?
HP - Não tenham medo. O medo e o empreendedorismo são incompatíveis (para homens e mulheres), preparem-se para passar por momentos menos bons, para sair da zona de conforto. Até porque já alguém dizia que a sorte dá muito trabalho. E estudem bem o negócio, verifiquem se é mesmo algo que tenha potencial. Mas acreditem que olhar no fim para os resultados e realmente compensador.