MIGUEL SOARES
CEO PARTTEAM
Fotografias D.R.
Estávamos indevidamente preparados!
Quando me pediram para escrever este artigo, foi num milésimo de segundo que duas coisas me passaram pelo pensamento. Será que é para escrever sobre tecnologia? Será que é para falar sobre o COVID19?
Sim, porque sendo CEO de uma empresa tecnológica, é habitual pedirem para escrever sobre temas relacionados com quiosques interativos, smart cities, redes sociais ou digital marketing, e, por outro lado, não escapando eu inevitavelmente ao infortúnio da pior pandemia que tenho memória, seria muito natural que esse fosse também um tema a abordar. Afinal não! a ideia seria mesmo dar o meu testemunho pessoal sobre tudo o que pudesse interessar para explicar o ano de 2020.
Estive hoje, neste primeiro dia de dezembro, a tomar café com o médico que me salvou a vida há quase 6 anos, num daqueles infortúnios de doenças que ninguém quer ter. Fiz questão de estar com ele, porque tenho um sentimento de gratidão único e indescritível por ele, além de uma amizade que entretanto, apesar de à distância, se foi cimentando. Admiro-o como médico, como profissional e também como ser humano, gentil e bem disposto que é. Precisei de estar com ele, precisei do contacto e de o olhar nos olhos. Esta foi uma das coisas que o 2020 nos ensinou e talvez a mais importante!
Ensinou-nos que apesar de toda a tecnologia emergente e inovadora que temos à nossa disposição, apesar de meio mundo ter entrado numa espiral de pensamento moldado pelas notícias, pelo social media e por meia dúzia (ou muitos mais) de empresários que “tatuaram” no peito a mensagem de que “remote work is the thing”, afinal começa a chegar-se à conclusão que nada substitui o contacto pessoal, as interações próximas e olhos nos olhos e sobretudo que a maioria de nós, mesmo eu (sendo um introvertido), consegue obter melhores resultados ____
quando estamos num contexto de partilha de conhecimento próximo, que podendo não ser necessariamente mais rápido, pode trazer resultados mais duradouros e na maior parte dos casos mais eficientes a longo prazo.
Claro que o teletrabalho é importante e é algo a que todos devemos estar aptos a realizar, reparem que eu digo “estar aptos”, porque esse é o problema atualmente com a necessidade de se impor tecnologia, métodos, aplicações de software’s a pessoas que durante anos resistiram à evolução tecnológica e aos benefícios evidentes que a tecnologia traz ao nosso dia a dia, sobretudo quando estamos num contexto profissional ou empresarial. Esta foi outra das lições de 2020. Teletrabalho ainda é entendido por muitos pela realização de atividade profissional a partir de casa ou outro local que não o habitual “posto de trabalho”.
Para mim isso é um erro grave, e foi o erro que durante muitos anos fez com que algumas empresas e entidades públicas se tornassem ineficientes e acima de tudo tornarem ineficientes as empresas que com estes trabalham. Teletrabalho deve ser entendido sim como a forma de todos se conectarem de forma remota quando tal seja possível, de forma a evitar despesas de deslocação, tempos de deslocação e outras ineficiências que possam surgir de uma putativa obrigação de presença.
O que nos ensinou claramente 2020 é que todos sem exceção estávamos indevidamente preparados! Estávamos impreparados para a pandemia do COVID 19, estávamos impreparados para que os professores tivessem a formação necessária (leia-se auto aprendizagem) para conseguir utilizar a tecnologia e servir os seus alunos em contexto de telescola, estávamos impreparados a nível político e dos organismos de saúde para lidar com este vírus e todas as consequências económicas, estávamos impreparados como empresários para saber lidar a 100% com a dinâmica do teletrabalho (uns mais do que outros), mas acima de tudo não estávamos de todo preparados para lidar com a separação, com a falta do contacto pessoal, da falta do abraço dos amigos e da família.