Integrada no Grupo Porto Editora, a Wook foi criada em 1999 sob a designação Webboom. A livraria on-line dispõe de cerca de cerca de oito milhões de produtos – livros, ebooks, software e filmes –, incluindo toda a edição portuguesa e milhares de títulos espanhóis, ingleses e franceses, vendendo para mais de 90 países. Em entrevista à Start&Go, o diretor, Rui Aragão, salienta que a Wook tem investido muito na sua estratégia digital. Aliás, o responsável assegura que “o nível de exigência tecnológico necessário para desenvolver e impor um projeto de comércio eletrónico é hoje impressionantemente elevado e requer um investimento contínuo”.
Start & Go – Que estratégia tem usado a Wook para a venda dos e-books? Os portugueses já se renderam ao e-book ou ainda preferem o livro em papel?
Ao longo dos últimos anos, temos investido muito na nossa estratégia digital. A WOOK tem, desde 2012, uma solução própria de leitura multiplataforma assente em tecnologia cloud que permite ao leitor uma experiência de leitura agradável e descomplicada. Com esta solução, que é também muito interessante para as editoras, conseguimos disponibilizar o maior catálogo digital em língua portuguesa, com mais de 16 mil títulos, a que acresce um volume impressionante de 500 mil e-books em inglês. No entanto, a penetração dos hábitos de leitura digital são ainda, em Portugal, absolutamente residuais. As razões para este fenómeno, que aliás também ocorre em muitos países da Europa, prendem-se provavelmente com o fator preço. A realidade é que, ao serem considerados produtos multimédia e ao serem, dessa forma, taxados a 23%, a diferença para o preço do livro em papel é muito pouco expressiva, pese embora o esforço das editoras em marcarem os e-books a um preço bastante mais baixo que a respetiva edição impressa.
S&G - Em termos logísticos, como decorre toda a atividade?
Em 2010, investiu-se numa solução de logística integrada para todo o grupo, implantada numa área de armazém com mais de 15 mil metros quadrados e que é percorrida por mais de dois quilómetros de transportadores rolantes, está assente em tecnologia de separação de encomendas parcialmente robotizada e equipada com soluções de voice picking e light picking que permite movimentar, anualmente, mais de 10 milhões de unidades.
Com essa estrutura, e contando com um stock de cerca de 100 mil referências, a Wook registou um incremento significativo no nível de serviço prestado, pois não só consegue dispor de uma grande parte do catálogo de livros em stock para entrega imediata como permite-lhe uma capacidade de processamento de encomendas que chega a ser de apenas alguns minutos após a conclusão da encomenda no nosso site.
S&G – Atualmente mais de 70% da população portuguesa utiliza a internet, dos quais 40% fazem compras online, segundo um estudo da ACEPI sobre a economia digital em Portugal. Que leitura faz destes números?
Longe vão os tempos em que comprar online era obra de alguns arrojados. Hoje, o recurso ao comércio eletrónico para satisfação de todo tipo de necessidades converteu- se numa atitude comum para muitos portugueses. A evolução destes números tem sido particularmente expressiva nos últimos 5/6 anos, o que nos leva a acreditar que, mantendo-se estes níveis de crescimento, este mercado terá ainda muito por onde evoluir, o que se traduzirá numa enorme oportunidade para os projetos portugueses de comércio eletrónico. Todavia, há que ter em conta que uma maior dinâmica da economia digital portuguesa não é, de per si, uma garantia de maiores oportunidades para economia nacional. As mudanças na atitude de compra identificadas no estudo da ACEPI identificam também tendências de compra em sites internacionais que podem resultar numa ameaça importante para diferentes setores da nossa economia. As orientações estratégicas que têm pautado o percurso da Wook, ao longo destes mais de 16 anos, vão precisamente no sentido se reinventar constantemente, mantendo-se pertinente num mercado que tem uma
dinâmica muito particular.
S&G - O que ainda falta fazer para atrair mais compradores para o canal online?
Um dos fatores responsáveis pela dinâmica que este mercado tem demonstrado nos últimos anos é a generalização dos acessos móveis, potenciada pela multiplicação de dispositivos mas também a progressiva diminuição do custo dos pacotes de dados. Hoje temos um consistente segmento de clientes sempre online, que continua em franco crescimento e que se estima que, nos próximos dois anos, venha a liderar o tráfego em comércio eletrónico.
Com este nível de “disponibilidade” e “proximidade” com os potenciais compradores, é de esperar que se obtenham resultados crescentes a nível da atração de muitos mais compradores mas também na frequência de compra dos mesmos.
S&G - Que estratégia está definida para a Wook para este ano?
A Wook mantém há anos uma estratégia coerente com o seu principal objetivo, o de servir bem. Esse objetivo permanece pertinente, pelo que em 2016 vamos continuar focados num serviço ao cliente irrepreensível. Há várias novidades agendadas para este ano que anunciaremos em devido tempo.
S&G - Como correram as vendas em 2015?
Sendo uma livraria virtual, as vendas atualmente já são satisfatórias ou a Wook também funciona muito como consulta e os consumidores continuam a preferir as lojas físicas?
O balanço de 2015 é positivo. O fenómeno ROBO (research online buy offline) foi uma realidade que nos acompanhou durante anos. Hoje, embora o fenómeno persista, a predisposição dos consumidores para comprar online é radicalmente diferente. Por outro lado, os projetos online, beneficiando da chamada “prateleira infinita”, permitem disponibilizar catálogos de dimensão incomparavelmente superior a qualquer livraria física, com a vantagem da facilidade de pesquisa. Na Wook, por exemplo, disponibilizamos um catálogo com mais de oito milhões de referências, o que faz dele, seguramente, um dos maiores catálogos do e-commerce nacional. Também por isso conseguimos captar clientes em todo mundo, com encomendas regulares para mais de 90 países.
S&G - As perspetivas de crescimento no e-commerce podem-se traduzir em oportunidades para os empreendedores portugueses?
Creio que as oportunidades já existem, sobretudo se se considerar a abertura a um mercado internacional, que pode permitir a muitas empresas escalar o seu negócio para patamares que o mercado nacional não possibilitará. No entanto, importa sublinhar que o panorama do e-commerce português mudou significativamente nos últimos anos. Já não há lugar para projetos “caseiros”, assentes em boas intenções e fracas estruturas profissionais – pelo menos não para negócios globais com alguma ambição. O nível de exigência tecnológico necessário para desenvolver e impor um projeto de comércio eletrónico é hoje impressionantemente elevado e requer um investimento contínuo. As empresas que pretendam aproveitar esta oportunidade têm de estar preparadas para enfrentar um mercado exigente e em constante evolução, sendo precisamente este o maior desafio, manter-se pertinente face à constante mudança.