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ecentemente, os mercados energéticos tiveram os preços mais baixos e mais altos desde que há registo comparável. A cada ponto alto, o sentimento dos vizinhos, refletido nos mercados de futuros, indica que a alta está para durar. Por outro lado, a cada ponto baixo parece que a baixa será eterna. Se há uma coisa certa nos mercados, é apenas que mudam.
Como o homem do conto, não sabemos com segurança o que o futuro nos pode trazer. Podemos analisar o comportamento dos mercados, aprender com suas mudanças e estar preparado para reagir das formas mais adequadas.
Neste artigo vamos ver como se comportaram os mercados energéticos nos últimos meses, que pistas nos podem dar para as mudanças que se seguem e as estratégias para não sofrer com as mudanças inevitáveis.
Os preços da eletricidade de Espanha e Portugal são definidos num mercado comum, similar a um leilão constante, no qual os produtores de energia vendem blocos horários aos muitos comercializadores. No bolo em venda (o pool) entram com prioridade as renováveis (eólica, solar, hidráulica) e depois as tradicionais (nuclear, gás, carvão, petróleo).
Ainda que o mercado português seja 4 vezes menor que o espanhol, os preços são negociados conjuntamente e são muito similares, distando quando muito uns cêntimos por megawatt.
O mercado de leilão spot chama-se OMIE e pode ser consultado em www.omie.es. Há depois um mercado de futuros, no qual se transacionam direitos de compra e venda nos próximos meses e anos.
Isto permite aos comercializadores de energia fixar preços para o todo ou parte dos consumos que vendem aos seus clientes. Estes preços podem ser consultados em www.omip.pt.
O ano de 2020 foi o mais barato desde que há registos comparáveis. Durante a primeira fase da pandemia, em abril de 2020, graças à sobreprodução eólica, a um gás muito barato e à baixa de procura, o mercado afundou, com uma média de 17 €/MWh. Depois do verão, a procura voltou a valores próximos ao pré-Covid, voltando a cotizações próximas dos 40 €/MWh. A procura de energia acumulada no conjunto do ano de 2020 acabou 5,1% abaixo da de 2019.
Estes preços tão baixos durante todo o 2020, sobretudo entre março e junho, permitiram a quem tivesse preços variáveis que pagasse a eletricidade muito barata. Permitiu também que fosse compensador em muitos casos rescindir contratos com os comercializadores, pagando as penalidades definidas, e fixar preços num momento baixo.
2021 iniciou em alta. Depois de um fevereiro barato, graças a grande quantidade de geração renovável, em março iniciou uma subida de mercado que se manteve em abril, maio e parece continuar. A subida do gás e a imparável promoção dos direitos de emissão de CO2, que afeta toda Europa foram as causas.
Motivada por preocupações ambientais, a União Europeia implementou em 2005 um sistema de emissão de gases, que penaliza os produtores de acordo com suas emissões. Porque uma parte importante da eletricidade produzida na Península Ibérica é proveniente da queima de produtos fósseis (46,6 % em 2020), esta penalização tem reflexo nos preços finais.