De lembrar que esta zona teve muita presença italiana e alemã e, dessa forma, este não é o Brasil mais conhecido ou típico, mas um Brasil com uma forte influência europeia, que se podia ver nas construções das casas em algumas vilas, cujos estética dos edifícios podia transportar-nos para uma qualquer comunidade alemã, ou na própria meteorologia que se aproxima bastante da nossa.
Hoje, passados quase vinte anos, quando penso nesta viagem, ocorre-me imediatamente à memória a primeira família que me recebeu em Lageado. Um simpático casal jovem, de ascendência italiana, com dois filhos. Lembro-me do carinho com que a senhora da casa me recebeu e de me ter tratado quase como um filho. Fez tudo para que a minha estadia no seu lar fosse agradável e confortável.
Um detalhe que me ficou foi a sua maravilhosa tarte de limão.
Ainda hoje não consigo comer uma tarte de limão sem comparar ou recordar esses momentos, após o
jantar, em que me deliciava e via nos olhos dela a satisfação de me ver a saborear aquela sobremesa. Assim, todos os dias, esta senhora fazia questão que não faltasse uma fatia da sua tarte para mim e no dia em que me despedi tinha, juntamente com um abraço, uma das suas tartes de limão embrulhada para prolongar, na longa viagem que se seguia, a memória desses momentos felizes.
Nessa altura não havia internet e, por isso, perdi o contacto com esta família. Muito provavelmente, esta senhora não tem consciência do impacto que a gentileza dela teve neste, então, jovem a começar a sua carreira, longe de casa e no meio de “estranhos”.
Quero com esta história falar da importância da gentileza e dos pequenos gestos e de como, às vezes, não temos noção de como uma palavra simpática, um sorriso, um abraço (ou uma fatia de tarte de limão) nos pode deixar gratos para o resto da vida. Também não me esqueço do seu sorriso ao despedir-se de mim e de como estava feliz por sentir
que de alguma forma me tinha marcado positivamente.
Várias investigações de Sonja Lyubomirsky, especialista na área da psicologia positiva, demonstram que ajudar os outros nos faz mais felizes. Diz ela que: “Ser amável e generoso leva-nos a perceber os outros de forma mais positiva e caridosa. (…) Um grande benefício da bondade é a influência que tem na auto-perceção. Quando pratica atos de bondade, é possível que comece a ver-se como uma pessoa altruísta e compassiva.
Esta nova identidade aumenta a sua confiança e o seu otimismo, e faz com que se sinta útil. (…) E acrescenta: “Ajudar os outros faz com que as pessoas gostem de nós, nos deem valor e demonstrem gratidão. Pode igualmente conduzir a atos de reciprocidade por parte das pessoas nos momentos em que necessitamos delas. Ajudar os outros pode satisfazer uma necessidade básica de nos ligarmos aos outros, de receber sorrisos, gratidão e amizades valiosas (…) De facto, descobrimos que uma das principais
razões pelas quais ser generoso faz as pessoas felizes era ajudá-las a perceber o quanto os recetores apreciavam a sua generosidade.”
Sendo a gentileza de facto uma enorme qualidade, Lyubomirsky chama, porém, à atenção para as limitações da generosidade: “(…) é possível que as outras pessoas nem sempre desejem a sua generosidade. Ajudar alguém por vezes coloca essa pessoa numa posição incómoda e faz com que se sinta necessitada, em desvantagem e em dívida. Consequentemente, é possível que, ao invés de gratidão e agradecimento, a resposta dessa pessoa seja algo mais próximo da hostilidade e ressentimento. A sua atitude e abordagem podem difundir ou minimizar esses possíveis sentimentos. Não adote uma atitude de superioridade nem aja com condescendência (…) Além disso, a menos que a situação seja crítica, não ajude quem não quer ser ajudado.”
Isto lembra a importância de ajudar e ser generoso apenas enquanto tal for verdadeiro e confortável