Enquanto me perdia, e me encontrava, nesta busca das imagens que iam ficar na minha memória, ouvi uma voz a cumprimentar-me, num inglês elementar e esforçado. Era o Hanifa. Vive em Beruwala e estava também a passear após um dia de trabalho. Ofereceu-se para me ajudar a compreender melhor aquilo que estava a ver.
Quando viajamos sozinhos, se tendemos, por um lado, a desconfiar dos estranhos que decidem “invadir” o nosso espaço, temos também grande liberdade para correr riscos, pois não dependemos de ninguém e ninguém depende de nós. O Hanifa pareceu-me boa pessoa e por isso aceitei o convite para ir conhecer o seu espaço. Entre ruelas, e ilhas de casas, lá entramos no seu lar, onde me apresentou a mulher e me ofereceu uma água de coco colhido, naquele momento, das árvores do seu jardim. Conversámos sobre as nossas vidas e o Hanifa perguntou-me se tinha filhos ao que respondi que não. Olhou para mim com um ar sério, preocupado, e confessou que ser pai é o seu maior sonho, o que por algum motivo de saúde não tinha ainda acontecido apesar da vontade do casal.
Descemos novamente para junto ao mar e sentamo-nos numas rochas com vista para uma ilha com um farol. Perguntei-lhe se o farol alguma vez acendia, ao que ele respondeu: “Sim. A luz aparece sempre.” Ficamos em silêncio a olhar para a ilha, a contemplar o momento em que o fim do dia e a noite se encontram. De repente, a luz do farol acendeu. Diz-me o Hanifa: “Estás a ver, a luz aparece sempre.”
Quando me despedi do Hanifa, desejei que ele acreditasse sempre naquilo que me disse naquele fim de tarde.
Ser um otimista (centrado no real) não muda a realidade, mas coloca mais facilmente o nosso pensamento focado ____
Quando me despedi do Hanifa, desejei que ele acreditasse sempre naquilo que me disse naquele fim de tarde.
em soluções. É bem melhor do que o pessimismo, que tende a ficar refém das emoções. Permite uma avaliação mais abrangente do que está a acontecer e aumenta as hipóteses de iniciarmos as ações certas.
Em 1999 foi apresentado o Manifesto da Psicologia Positiva por Martin Seligman, caracterizando este ramo da psicologia como o ‘estudo científico do funcionamento humano ótimo’. Tem como objetivo descobrir e promover os fatores que permitem aos indivíduos e às organizações prosperarem, em vez de colocar a ênfase na doença e no distúrbio, como sempre fez a psicologia tradicional. Ou seja, o estudo da felicidade, para melhorar a qualidade das nossas vidas, passou a ter uma base científica e deixou de estar restrito aos livros de literatura pop e de autoajuda. Não é função da psicologia positiva dizer às pessoas que devem ser mais otimistas, ou mais espirituais, ou mais simpáticas e bem-humoradas; a sua função é antes descrever as consequências destas características. Aquilo que cada um fizer com essa informação depende dos seus próprios valores e objetivos.
O curso mais popular da universidade Harvard, é sobre psicologia positiva. Todos os anos mais de mil alunos, entre eles centenas de executivos, inscrevem-se no curso do filósofo e psicólogo Tal Ben-Shahar para aprenderem técnicas que lhes permitam encontrar congruência, prazer e significado na corrida diária e sentirem-se, além de bem-sucedidos, felizes.
Afinal de contas, parece que a felicidade ajuda ao sucesso e o sucesso não é outra coisa, senão a felicidade....
A boa notícia é que podemos efetivamente, se quisermos, tornarmo-nos mais felizes. Apesar de apenas cada um poder saber o que é a felicidade para si próprio, já que ela será sempre subjetiva, tem se verificado como padrão que as pessoas mais felizes experimentam no seu dia-a-dia mais emoções positivas do que negativas. A busca da felicidade no trabalho poderá ser, afinal, esta conquista.
Segundo Sonja Lyubomirsky, professora na universidade da Califórnia e autora do livro “The How of Happiness”, a felicidade depende em 50% da herança genética; em 10% das circunstâncias da vida, tais como o local onde vivemos, quanto dinheiro ganhamos ou o aspeto físico; e em 40% da nossa atitude, o que pensamos e o que fazemos. Ora, é operando nestes 40% que poderemos aumentar os nossos índices de satisfação e bem-estar para maximizar a nossa relação com o trabalho e com os outros. A psicologia positiva propõe uma série de atividades que aumentam este nosso bem-estar subjetivo.
Vem assim comprovar-se a proposta de Aristóteles quando afirmou que a felicidade depende de nós e a de Abraham Lincoln ao intuir que “a maior parte das pessoas é tão feliz quanto decide ser.” Termino, lembrando que a felicidade não é facilidade. Dá trabalho! Alimenta-se da prática de pequenos hábitos diários positivos, de sabermos tirar da nossa vida pessoas ‘tóxicas’ (ou saber não deixar que nos afetem), da aceitação das nossas emoções negativas, da opção consciente de pensamentos alternativos mais positivos, de um otimismo realista que nos mantenha atentos aos acasos e às oportunidades.