Aliás, de acordo com um estudo de junho de 2013 publicado no jornal “Psychological Science”, que analisou o comportamento de 340 operadores de chamadas num call-center, os ambivertidos conseguem melhores resultados nas vendas do que os introvertidos e até, contrariando os estereótipos do vendedor de sucesso, do que os extrovertidos. Poderá fazer um teste para perceber melhor o seu estilo na página de Daniel Pink (www.danpink.com).
Voltando aos meus dias em Madrid, dei então por mim a perceber que, apesar de gostar muito daquelas pessoas, afinal havia dias em que precisava de estar em silêncio, o que parece que me enquadra neste estilo de ambiversão de que vos falo.
Passei, então, a reservar alguns dias para passear sozinho pela cidade. Passei muitas horas na Filmoteca e todos os domingos ia ao Museu do Prado e ao Rainha Sofia. Vivi um dos momentos mais bonitos no Museu Thyssen-Bornemisza, ali ao lado do Prado, quando vi pela primeira vez o quadro “Hotel Room” de Edward Hopper que representa uma mulher sentada sozinha numa cama de um quarto de passagem. O trabalho de Hopper representa muita bem a solidão nas cidades modernas e ver este quadro em Madrid quando já estava há muitos dias fora de casa teve um efeito impactante em mim.
Surgiu, assim, outra inquietação: por vezes, no final do dia, depois da energia renovada, quando dava por mim sozinho no quarto, sentia que apesar de estar em silêncio, nem sempre tinha silêncio em mim, pois continuava com ‘ruído’, preocupações e pequenas ansiedades num monólogo interior desconfortável.
Talvez seja esta a principal busca de silêncio: o silêncio interior que nos permite estar em paz a contemplar ou a agir sobre o momento presente. Ficar em paz com estar sozinho, ouvir o silêncio a falar, sabermos nos confrontar connosco sem necessidade constante de validação exterior. Esses são, então, os desafios modernos: saber sair do ruído exterior quando necessário, mas também saber eliminar o ruído interior para nos conectarmos verdadeiramente connosco e limpar as tensões interiores que nos podem tirar leveza, alegria e autenticidade.
Deixo aqui algumas propostas do escritor Francesc Miralles para conseguirmos mais silêncio exterior e interior nas nossas vidas:
- Crie pequenos “oásis” de silêncio:
para não esgotar a atenção, saltando de estímulo em estímulo, é importante encontrar espaços de serenidade mesmo que breves. Pode por exemplo, escolher a hora do pequeno almoço para estar em paz e planear o dia com calma, em vez de estar conectado ao seu smarthphone. Pode também ao longo do dia, fechar os olhos por breves momentos e respirar fundo apenas para se reconectar com o seu silêncio interior;
- Pratique a escuta total:
calar as palavras e a mente é particularmente útil quando estamos a ouvir alguém. Suspender julgamentos e pensamentos durante esse momento e estar presente completamente naquilo que o outro diz sem introduzir impulsivamente nenhum tipo de valorização, ou reação, leva a emoções e relações interpessoais mais serenas;
- Procurar momentos de “mindfulness”:
momentos em que a sua atenção está totalmente focada no que está a sentir e a fazer em cada momento, seja, por exemplo, simplesmente respirar, saborear um alimento ou fazer exercício físico.
- Descubra “retiros” urbanos:
descubra locais que o convidam ao encontro consigo, como por exemplo, um banco de jardim, uma caminhada junto ao mar, um templo (mesmo não sendo crente), enfim, lugares que ficam associados ao descanso do corpo e da mente.
- Estabeleça uma dieta digital:
fixe um horário no qual todos os aparelhos ligados à internet fiquem silenciados até ao dia seguinte. Isso permitirá jantar sem estar dependente do telemóvel e poder conversar com a sua família ou simplesmente refletir sobre como correu o dia. Reencontrar estes espaços “analógicos” no nosso dia é fundamental para não estarmos constantemente a reagir as exigências do mundo exterior.
Acrescento um hábito que a mim me ajuda muito:
- Escreva:
se algo o preocupa, escreva num bloco de notas ou agende para o momento em que pode fazer algo a esse respeito. O ato de escrever e/ou agendar liberta a mente da necessidade de estar constantemente a recordá-lo dessa preocupação.
Termino recomendando a leitura de um belo livro: “Silêncio na Era do Ruído” de Erling Kagge:
“(…) falar é precisamente aquilo que o silêncio deve fazer. O silêncio deve falar, e devemos falar com ele, de modo a aproveitarmos o seu potencial.”