1 de Maio de 2022






HUGO GONÇALVES

Executive Coach | Senior Organizational Engineer



COOPETIÇÃO











Todos querem mudar o mundo, mas (quase) ninguém deseja mudar-se a si mesmo!

LEO TOLSTOI




O

utro dia estava a conversar com uma amiga e colega que também se dedica ao desenvolvimento do Capital Humano e Transformação Organizacional (em modo analógico) , sobre os desafios que esta fase está a trazer para o nosso tipo de trabalho – sessões de Coaching e Mentoring, workshops, intervenções, facilitação, etc.

Esses desafios são neste momento algo mais do que apenas a transição do registo presencial para o digital. Ou de como manter num ZOOM ou MIRO aquela energia invisível que existe quando um grupo de pessoas partilham num espaço comum e de forma presencial oportunidades, desafios, divergências, reflexões e trabalho também comuns.

O grande desafio para mim e para os meus colegas é:

Como podemos continuar a facilitar e contribuir em processos de Transformação e Inovação Organizacional nestes tempos de Low Touch? Sendo o nosso diferencial e propósito desenvolver as “meaningful conversations” e momentos estratégicos, de design e problem solving inclusivos e com verdadeira conexão emocional?

A minha resposta é a COOPETIÇÃO!









Provavelmente, muitas vezes já sentiste uma “admiração” superior àquela que desejavas relativamente a concorrentes.

E que até seria bom que tu, ou vários departamentos da tua empresa, ou a tua organização juntamente com outras, pudessem criar mais oportunidades. Melhores produtos e serviços e como consequência apresentar impactos e soluções verdadeiramente importantes para os vossos clientes e utilizadores.

Mas as pressões sociais são grandes. Externas e Internas!

Trabalhar em conjunto com aquele turno diferente do meu? Criar sinergias com departamentos que possuem KPI’s antagónicos aos meus? Oferecer valor diferenciado, robusto e positivo aos clientes com os meus concorrentes? Abdicar de visibilidade e reconhecimento “individuais” que tenho agora? Hein? Estás louco, Hugo?

Se tens uma abordagem cooperativa e positiva, este conceito híbrido de cooperação e competição ressoa de forma orgânica com a forma como vês o mundo, as organizações e os negócios.

Isto implica realizar ao mesmo tempo duas coisas muito paradoxais – competir e cooperar com os teus “concorrentes” ao mesmo tempo.

Quando procuro no Linkedin por funções/roles com a palavra Transformação ou análogas, em contexto organizacional, a palavra



Digital aparece antes ou depois em 87% das ocorrências.

Nada contra. As tecnologias foram e são fundamentais para criar fluxos, automatizar tarefas, criar segurança e confiança. No caso da Transformação digital, a tecnologia, os sistemas, os processos, a lógica e a razão permitem “mapear” de forma “mental” tudo o que está envolvido. As coisas são pensadas como processos, como sequências, entradas, saídas, recursos, competências, standards e KPI’s.

A questão é que, na minha opinião, este modelo de Transformação baseado apenas em processos e tecnologias é incompleto e contraproducente.

Porque a Transformação implica uma evolução simultânea, consciente e inconsciente. De vários valores, comportamento, hábitos e formas de ver o mundo de um conjunto enorme de pessoas. E o modelo da imagem anterior tem como pressuposto contextos estáveis e uma 




velocidade de evolução gerível pelo Ser Humano.

As tecnologias não são grande coisa a “pensar” e a desenhar essas experiências. Essa responsabilidade cabe-nos a nós. Os Humanos.

Vamos ver o que implica “viver” em modo Coopetição, seja internamente ou externamente à tua organização e em diferentes contextos:

• Coopetição implica projetos com mindset ágil, não fusões e aquisições. Nesse sentido, não existe propriedade e poder de decisão que não sejam distribuídos. Implica também um ótimo awareness profissional e organizacional para que se possa encontrar o melhor match entre atividades, competências e responsabilidades. Uma espécie de IKIGAI de cada parte interessada. A Coopetição é uma escolha, não um dever.

• A autonomia, poder de decisão e acesso à informação, experiência e à comunicação com os stakeholders deve ter uma abrangência e distribuição máxima. Isto implica capacitar devidamente as Pessoas para essa nova liberdade com responsabilidade, através de abordagens organizacionais de empowerment, autonomia, holocracia e facilitação interna.

• Deve existir uma mistura orgânica e mutável entre a cooperação e a concorrência. Isto significa que todas as partes devem ser livres de competir de formas 


únicas e independentes, mas capazes de gerar interesse próprio e e cooperar quando necessário para o bem do todo.

Trabalhar em modo Coopetição implica obviamente uma Transformação antes da Transformação. Como posso explicar este jogo de palavras? Como dizia o nosso amigo Gandhi, devemos “Ser” a mudança que queremos ver no mundo.

Atualmente ainda está muito presente a ideia de que tudo deve ser “resolvido” através do coletivo. Faz sentido e é uma das etapas. Mas eu acredito que o primeiro foco e ponto de partida somos nós próprios.

Se andarmos mais focados, alinhados, equilibrados, cientes do nosso propósito, então automa­tica­mente cada um de nós estará em prin­cípio a interagir de forma mais leve, assertiva e alegre com o mundo. E a potenciar essas interações.

Coopetição implica em primeiro lugar interagir bem contigo para saber qual a melhor forma de interagires com os outros. Para isso temos a Tecnologia Social e o framework ME | WE | US.

ME

A parte do [ME] tem a ver com o nosso próprio desenvolvimento em

questões chave como ver as coisas da perspectiva interna e externa (720º). Associadas à Coopetição, temos as seguintes questões:

• Qual o meu IKIGAI profissional ou da minha Função ou Organização? 

• Em mim e para a Organização, que competências técnicas, relacionais e emocionais são necessárias para materializar esse Negócio com Propósito? Qual o estado atual a nível de proficiência ou resultados? 

• O que desejo liderar, fazer, gerir? O que honestamente fará sentido deixar a outros? 

• A resposta à questão anterior vem do Ego ou vem da Clarividência e Verdade?

WE

Aqui trata-se de perceber como conseguimos colocar as competências, paixão, energia e personalidade de um profissional/organização ao serviço de um todo, ou focado num determinado desafio, oportunidade ou resposta que tem de ser dada – sempre Human Centric

Descobrir quais poderão ser os possíveis Coopetidores:

• Quais são os “concorrentes” e colegas/organizações com o mesmo 

foco de negócio que eu respeito e admiro (nem que seja secretamente e a custo)?

• A sua abordagem de trabalho pode potenciar a minha e a forma como desejo criar impactos e soluções aos clientes e sociedade? Em que atividades e funções? 

• Que adaptações e transformações técnicas, relacionais e emocionais seriam necessárias da minha parte para isto funcionar?

US

O [US] tem a ver com tribos. Com o Social. Com os Clientes e com o Mundo. Ecossistemas. Tem a ver com Design e Marketing.

• Quais poderão ser as áreas, produtos, serviços nichos que poderão beneficiar de uma possível Coopetição?

 • Seria para fazer algo novo? Ou inovar algo já existente? Ou dar uma resposta mais robusta de algo atual? 

• Como comunicar uma Coopetição sem existir perda de identidade de cada uma das partes interessadas?

Trabalhar em Coopetição significa criar organizações temporárias que funcionam numa abordagem fractal. Na natureza, os fractais repetem um mesmo padrão em escalas diferentes.




Há exemplos por todo o lado. Repara neste exemplo de um feto (fern). Florestas, árvores, ramos, folhas, cada um é uma representação análoga (não uma cópia) da que veio antes. As estruturas organizacionais fractais baseiam-se no mesmo princípio. O fractal serve para comunicar a todos os níveis de trabalho e complexidade tudo o que une os Coopetidores. Ao lado apresento uma representação simplificada de como uma estrutura fractal se traduziria para contextos de Coopetição.

Transformação e Coopetição são coisas e contextos complexos. Implicam disrupções lógicas e emocionais. Mas estes processos não são necessariamente complicados. 


O que simplifica as coisas é a tal abordagem a 720º e perguntarmo-nos a nós próprios:




• O que queremos do nosso contexto interno e externo? 


• Qual o estado atual dos mesmos? 


 • Que parcerias faz sentido estabelecermos connosco e com outros para atingir o que realmente é importante?










Uma última nota, em jeito de partilha e reflexão: 








 O Coopetidor mais complexo e complicado que existe está dentro de Nós.

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