ANTÓNIO NOGUEIRA DA COSTA
CEO da efconsulting | docente e membro do N2i do IPMaia
O que as empresas familiares fizeram à Indústria do Calçado?
Se no século XX o setor do calçado era associado a negócios tradicionais e pouco apelativos, o século XXI veio revelar a transformação das suas empresas em focos de enorme atratividade.
O que permitiu tal (re)evolução? A capacidade de associação e de inovação das empresas familiares que dominam as principais atividades desta indústria.
Em 1994, Mira Amaral, Ministro da Indústria do governo de Cavaco Silva, encomendou um estudo a Michael Porter sobre a competitividade da economia portuguesa. Em síntese, o relatório concluiu que Portugal deveria concentrar a sua energia, inovação e marketing, para se diferenciar em contextos internacionais, com especial foco nos sectores tradicionais como o calçado, o vinho, os têxteis, madeira e papel, entre outros.
Em 2019, 25 anos após este relatório, o ECO procurou um balanço do mesmo junto de Mira Amaral: “A aplicação do projeto Porter permitiu melhorias evidentes nos setores tradicionais como o calçado, têxtil, vestuário e confeções, nos vinhos e no mobiliário. […] E teve um efeito baixo em todos os elementos de cooperação entre as empresas”. 1
Salientou ainda a falta de aposta em verdadeiros clusters tecnológicos, a excessiva atomização do tecido empresarial português e a necessidade de ganhar escala. Focando na indústria do calçado e analisando um conjunto de dados do setor, com referência ao da realização do estudo e dois períodos posteriores, destacam-se os seguintes elementos:
a) de 1994 para 2010, período de 16 anos em que a inflação acumulada foi de cerca de 50%, o setor sofreu de forma arrasadora:
• Redução do nº empresas (24%), da mão de obra (46%) e do nº de pares produzidos (43%) – um enorme declínio da indústria;
• Decréscimo do volume de negócios em 20% e aumento do preço médio do par de sapatos em 41% (abaixo do valor da inflação);
b) de 2010 para 2022, período de 12 anos com uma inflação acumulada de cerca de 31%, o setor rejuvenesceu:
• Redução do nº empresas (5%), acréscimo insignificante do emprego (0,5%) e um incremento do nº de pares de sapatos (29%) – aumento de produtividade;
• Incremento do volume de negócios em 77% e do preço médio do par de sapatos em 37% (acima do valor da inflação) - incremento no valor acrescentado.