2 de Novembro de 2023



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HELDER BARBOSA

Licenciado em Gestão de Empresas e Mestre em Marketing



10 ANOS DE RETALHO!






O s últimos 10 anos têm sido pautados por um ligeiro progresso no poder económico dos portugueses, no entanto estes enfrentam desafios enormes como a inflação, salários baixos e uma elevada carga fiscal. Estes fatores acentuam as dificuldades, condicionam a iniciativa individual, a produção de riqueza e limitam o próprio consumo, o que tem, naturalmente, impacto no setor de retalho.

A última década fica ainda marcada por uma crise sanitária, sem paralelo nos tempos modernos, e uma guerra às portas da Europa. Ambas as situações, posteriores a uma crise financeira severa, coloca-nos desafios enormes. A mais recente instabilidade política associada a uma quebra de confiança nas instituições públicas, governativas, políticas e jurídicas também não abona favoravelmente em favor da confiança dos consumidores e investidores, em particular para investimentos a longo prazo no retalho.

Neste sentido, a conjugação de fatores diversos, como os referidos supra, porventura antagónicos, influi a tomada de decisão de retalhistas nacionais e internacionais, por exemplo, em permanecer e/ou (re)investir no retalho em Portugal.



Não obstante, setores como o turismo, as exportações e as áreas do conhecimento continuam a alavancar a progressão do país, contribuindo positivamente para a evolução do retalho, na sua generalidade.

Colocando agora em retrospetiva a última década, esta pauta-se por uma pluralidade considerável de negócios, bem como uma evolução de novas soluções com influência na qualidade da oferta retalhista. Relativamente ao setor da distribuição alimentar, observamos, em particular, um crescimento do número de lojas Discount, nomeadamente as marcas alemãs, Lidl e Aldi (esta última tem vindo a expandir-se em ritmo acelerado, de Sul para Norte). Mais recentemente, sob um posicionamento de ‘preços sempre baixos’, a cadeia espanhola Mercadona (líder em Espanha, e último player a chegar a Portugal), fecha o ano com, aproximadamente, 50 lojas, em território nacional. Já a iminente aquisição do Auchan sobre o Dia/Minipreço trará uma nova configuração ao contexto atual, o que se afigura desafiador para as restantes marcas, nomeadamente as que ficam com menos quota de mercado e/ou se encontrem estagnadas ou com crescimentos débeis, nos últimos anos.

Ainda neste segmento, não é desprezável a estratégia de franchising usada por diferentes cadeias como a Dia/Minipreço (será provavelmente absorvida pelo Auchan), Sonae e JM. Estas últimas usando as marcas ‘Meu Super’ e ‘Amanhecer’, respetivamente. Neste caso, todas estas marcas procuram, mediante uma visão B2B2C, conquistar pequenos negócios tradicionais e de proximidade. Atuam como parceiros/fornecedores para dinamizar e evoluir o negócio. A sua relevância resulta das fraquezas que os pequenos negócios têm para se manterem competitivos. Já o sucesso da estratégia residirá num trabalho profundo, em que pelo menos 6 dimensões críticas para o negócio são necessárias, a saber: financeira, logística, comercial, operacional, humana e tecnológica.












No segmento não alimentar, temos assistido à entrada no mercado doméstico, de diferentes players internacionais, o que revela o quão interessante é o mercado nacional. Por exemplo, na categoria de cosmética e maquilhagem, a entrada do player espanhol Primor (com lojas físicas e loja online) veio agitar, inevitavelmente, os players em Portugal. Outras marcas, em diferentes categorias, mas igualmente focadas na variável ‘preço, como a Pepco, Kik, entre outras, também prometem competir por quota de mercado. E desengane-se quem pensa que a variável ‘preço’ é apenas procurada pelas classes mais baixas, i.e., com menos rendimentos. Hoje, comprar bem é sinónimo de compras inteligentes, as quais permitem deslocar a poupança obtida para outro tipo de consumo, nomeadamente mais hedónico.

um dos maiores desafios que os retalhistas enfrentam é, precisamente, a competição na última milha

Quanto ao canal online, o e-commerce tem crescido sustentadamente, ao longo dos anos, tendo, naturalmente, alcançado o seu expoente máximo durante a pandemia (fonte: CTT report). Destacam-se, porém, várias diferenças em categorias distintas, atendendo à sua natureza.

Posto isto, espera-se que e-commerce continue a crescer, à medida que as pessoas vêm melhoradas as suas condições económicas e os retalhistas ofereçam soluções híbridas, tais como comprar online e recolher no ponto de venda mais perto do consumidor. 

Acresce que uma vantagem significativa das compras online reside na confiança, flexibilidade e facilidade de uso de diferentes meios de pagamento, fatores estes praticados por um já significativo número de vendedores.

Quanto à rivalidade competitiva, é também curiosamente no canal online, onde os agentes económicos encontram maiores constrangimentos.

É um canal muito exigente financeiramente, razão pela qual muitas empresas sucumbem, porventura, com menos mediatismo, quando comparado com as lojas físicas. Na verdade, as marcas precisam, provavelmente, de um avultado orçamento de marketing para que se tornem visíveis e/ou atrativas. São exemplo, a SHEIN e a TEMU, empresas recentes no mercado nacional com um impacto muito significativo. Perante estes gigantes, os pequenos negócios veem-se obrigados a ‘lutar contra Golias’, para continuarem a ser relevantes no mercado onde operam. Em seguida, destacam-se duas marcas que pela sua natureza híbrida, revelam a importância de uma estratégica omnicanal, nomeadamente a Worten e o Continente. As recentes notícias sobre a estratégia da Decathlon também evidencia a importância que o online terá no futuro da marca, e nesta categoria.

Posto isto, os próximos anos serão de integração de canais, onde o mais importante não será em que canal se fecha a venda, mas sim, como se interliga e integram os canais. Deste modo, um dos temas emergentes, para muitos negócios, é precisamente medir a saturação das lojas físicas versus a cobertura do online. Uma relação equilibrada será critica para a eficácia da estratégia retalhista.

Neste contexto de retalho, é muito interessante destacar 2 temas relevantes para o retalho em geral, nomeadamente (1) a marca própria; e (2) a origem dos bens.

No primeiro caso, temos assistido globalmente a uma maior penetração da marca própria, o que está em linha com o que referido acima: compras inteligentes. O segundo tema, prende-se com o facto de os consumidores, na prática, não demonstrarem significativa preocupação com a origem dos produtos, o que tem impacto direto no retalho local. Porém, será determinante (re)conhecer o preciso momento em que o pêndulo muda a favor de um consumo mais sustentável.

Portanto, embora periclitante nos últimos anos, o setor de retalho ‘segue’ animado, ou não fossem os desafios do










Hoje, comprar bem é sinónimo de compras inteligentes




online e a importância das experiências sensoriais que as lojas físicas proporcionam.

Na verdade, mais do que uma resposta binária, os clientes procuram conjugar e complementar os canais, de modo a servir-se e a satisfazer as suas diferentes necessidades, em distintos momentos do dia e em diversas categorias.

Finalmente, apresenta-se um conjunto interessante de tendências e modelos de negócio praticamente inexistentes há uma década.

Nesta linha de pensamento, um dos maiores desafios que os retalhistas enfrentam é, precisamente, a competição na última milha (last mile). Na verdade, nesta fatia de mercado, têm surgido várias opções de entrega e distintos agentes económicos. Por exemplo, nos serviços de entrega ‘delivrery services’ (ex., uber, glovo); como dark stores (ex., Bairro), Quick commerce (ex., Quico, Bairro, Uber, Bolt, Glovo), lockers (i.e., cacifos, por exemplo os Locky dos CTT), e shoppers (ex., mercadão em parceria destacada com o pingo doce). Adicionalmente, os clientes dispõem de outros serviços, tais como comprar online e recolher na loja (ex., leroy, corte ingles), ou em pontos de entrega, definidos para esse efeito.

Outro fator interessante e observável no retalho é a dinamização de verdadeiros ecossistemas, com o objetivo de reter clientes, quer seja através de sistemas de fidelização quer de vantagens concedidas pelas parcerias. A formação destas parcerias concede vantagens competitivas únicas e difíceis de combater pela concorrência.

Para terminar, elenco três áreas importantes, a considerar no futuro do retalho nacional: (1) retalho de luxo, (2) tecnologia no retalho, e (3) experiências imersivas (onde se inclui tópicos como metaverse, web3, NFT, gaming, AR, VR).

No primeiro caso, deveria ser dada maior ênfase ao Retalho de Luxo. Para tal, deveria haver um desígnio nacional (com incentivos diversos) para se criarem marcas de luxo e ‘catedrais de consumo de luxo’. Urge ter ambição nesta matéria, para criar valor






acrescentado em a toda fileira produtiva nacional. A Visão a ter em consideração será obrigatoriamente de longo prazo.

No que concerne ao uso de tecnologia no retalho, temos vindo a assistir a um incremento substancial de tecnologia e digitalização dos processos no retalho. Por exemplo, destaca-se a facilidade e flexibilidade de meios de pagamento em todos os canais, o que é uma verdadeira revolução. A crescente tendência mundial para a disponibilização de lojas autónomas (ex., com particular destaque para a Sensei) procura revolucionar a forma como as pessoas fazem compras. Para o retalho não alimentar existem outras soluções, integradas verticalmente (ex., decathlon).

Por último, a utilização de experiências imersivas (ex., metaverse, web3, NFT, gaming, AR, VR) tenderá a evoluir, e à medida que mais pessoas as compreendem e reclamam ter, mais marcas as vão incluir. 







Uma nova geração de Retail está em marcha!









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