31 de Maio de 2024





PEDRO AMENDOEIRA

Partner na Expense Reduction Analysts


Inteligência Artificial: Será Tão Bom, Pois Foi?


Num momento romântico, diz o coelhinho à sua parceira: “que bom que será, pois foi?”.




P ara muitos o advento da Inteligência Artificial (IA) comporta o perigo de, quando ainda estamos a projetar o que poderá vir a acontecer, termos sido já ultrapassados pelos acontecimentos e pelas poderosas máquinas pensantes, que, entretanto, podem ter dado saltos quânticos nas suas capacidades.

Como humanos que somos, o medo de perder, de ficar para trás (em inglês, o fear of missing out, ou FOMO) é um poderoso motivador para acompanhar o tema. Os gigantes do setor estão a investir biliões, em larga medida pelo mesmo receio. Por isso mesmo, vivemos num momento em que há algum efeito moda na IA: toda a tecnologia diz que tem integrada IA, como forma de despertar interesse e de lhe dar credibilidade.

O outro medo é o de sermos dominados pelas máquinas. Encarando o êxito da ficção como medida das nossas preocupações mais profundas, não faltam exemplos de máquinas a dominar e destruir humanos: 2001 Odisseia no Espaço, Blade Runner, Exterminador Implacável ou Matrix.




Por outro lado, existem visões mais otimistas, antevendo um futuro brilhante, em que a IA absorve trabalhos mais aborrecidos, resolve problemas ambientais e cria riquezas passíveis de distribuição.

Como espelho destas visões contrastantes, recentemente uma projeção do impacto da IA na economia Britânica, conduzido pelo Institute for Public Policy Research, traçava dois cenários limite: o otimista, em que não se perderão trabalhos e os ganhos de eficiência conduzirão a um crescimento de 4%, e o pessimista, em que quase 8 milhões de postos de trabalho desaparecerão, anulando ganhos de produtividade com um crescimento zero. Esta amplitude de cenários mostra também o pouco que sabemos.

Não é preciso recuar muito para momentos em que outras tecnologias prometiam resolver todos os problemas do mundo. Recordemos a blockchain, realidade virtual, impressão 3D ou condução autónoma. Todas estas tiveram o seu momento mediático intenso, ao que se seguiu um desenvolvimento lento, mas porventura mais realista.

Uma IA omnipresente, ou até 



consciente, poderá ser inevitável, mas quando? Algumas metas que parecem mesmo ao virar da esquina teimam em escapar: não temos carros voadores, nem bases lunares. Os carros totalmente autónomos são uma promessa recorrente de Elon Musk há pelo menos 4 anos.

Por um lado, o potencial é enorme, por outro o risco também. No meio estamos nós, sem poder para mudar caminhos mais perigosos que a IA possa ter, mas com possibilidades de aproveitar alguns dos seus benefícios.Ao contrário das outras tecnologias que mencionamos, os casos de sucesso empresarial da IA abundam, desde serviço ao cliente, investigação (médica, judicial ou jornalística), melhores traduções, imagens, sons, a avaliação de crédito ou deteção de fraude. Na área logística, a IA está a ser usada para otimizar cadeias de abastecimento complexas e rotas de entrega, bem como para prever a procura. Na área produtiva, para otimizar tarefas, inspecionar e melhorar a qualidade dos produtos ou prever e antecipar falhas de equipamentos.

Ainda assim, o potencial de erro é elevado.












Não faltam exemplos de erros crassos cometidos pelas ferramentas de IA. Pior do que os erros, é que ao funcionar numa lógica de caixa negra – sabemos o que lhe pedimos e os resultados que nos dá, não o processo que usa para lá chegar – temos uma capacidade limitada de os detetar em processo.

Hoje, em inícios de 2024, a aplicabilidade da IA na resolução de desafios no contexto empresarial tem muitas limitações. Existem poucos cenários e processos onde a maior parte das empresas consiga um encaixe entre a IA e os seus problemas mais prementes. Menos ainda que não impliquem gastar fortunas na sua implementação.


O problema – a que hoje nem a própria IA consegue responder (eu tentei) – é que quando esta tecnologia estiver madura, será rapidíssimo e podemos mesmo ter sido ultrapassados. Como o coelhinho, ainda estarmos a equacionar o futuro quando este já se concretizou.

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