onde iria decorrer uma reunião de Direção. Cheguei à hora marcada, deram-me indicação para entrar e vi nessa sala duas pessoas por quem sempre nutri uma elevada consideração. Uma delas, da Direção de Vendas, dirigiu-me a palavra, disse-me que estava em causa um projeto diferente daquilo que eu fazia nas Vendas Diretas, pois envolvia trabalhar com Distribuidores e assumir a função de Coordenador da Área Norte do país. Iria ter um novo chefe, ali presente, que era o Responsável Nacional por Cash & Carry e Distribuidores, iria liderar uma nova Equipa e portanto era um desafio que me estava a ser lançado, para eu pensar e depois dar uma resposta.
No meio de tantas pessoas que podiam ter sido escolhidas para aquela função, perante 2 profissionais de exceção que tomaram a decisão de me identificar como hipótese, perante o cheiro de um novo desafio e sabendo a quem iria reportar, recordo-me que não precisei de nenhum tempo para pensar, não perguntei que condições iria ter e respondi de imediato que o desafio estava aceite. Afinal, porque hesitaria, quando estava perante aquelas duas pessoas que mostraram acreditar em mim?
SUPORTE / INTEGRIDADE / ESCUTA
No meio de tantas reuniões, recordo hoje uma em que o clima foi ficando algo tenso, pois durante uma negociação com alguma complexidade, chegamos a um ponto em que já não era razoável eu ceder mais e o distribuidor assumiu uma posição a tocar ali a fronteira da intimidação e do confronto.
Lembrou-me que eu estava há pouco tempo na função, que privou de perto com o Dr. António Eusébio criador da Sumol, que conhecia muita gente influente na empresa, que se quisesse negociava diretamente com o meu chefe de quem conseguiria melhores condições e isso estava à distância de um telefonema. Com a situação a estremar-se, disse-lhe calmamente que deveria então fazer os telefonemas que julgasse uteis e, sem
ceder, dei por terminado aquele diálogo.
Na reunião regular que tinha com o meu chefe, disse-lhe que não tinha conseguido fazer negócio com este distribuidor, partilhei com ele as condições apresentadas e ele disse-me tranquilamente que estava ao corrente de tudo pois tinha recebido o tal telefonema a pedir uma reunião. Disse-me ainda que aceitou ter esse encontro e que ele iria realizar-se exatamente na sala onde nos encontrávamos… dentro de 30 minutos. Preparei-me então para sair e fui gentilmente mandado sentar.
O distribuidor entrou na sala e, apesar de efusivamente recebido pelo meu chefe, ficou gelado quando viu que eu estava também ali. Cumprimentou-me timidamente, disse que não esperava encontrar-me, pois assumiu que aquela conversa era apenas com o Responsável Nacional por Cash & Carry e Distribuidores. O meu chefe, pessoa brilhante que nos deixou precocemente e de quem guardo grandes recordações como esta que agora relato, disse que estava disponível para qualquer conversa de âmbito particular, mas que de negócios falaríamos os 3, pois eu, enquanto Coordenador, tinha total autonomia para negociar. O negócio foi fechado nas condições que eu apresentei! Estas capacidades de escutar, de ler o que se passou, de lidar com o conflito, de encontrar soluções e de mobilizar a sua Equipa dando-me este suporte no momento em que ele foi mais preciso, foram marcantes e reveladoras de uma personalidade de exceção.
CONCLUSÕES
1. O papel de qualquer líder é importante
Recentemente, um amigo com funções de grande responsabilidade que incluem a coordenação com sucesso de um alargado grupo de pessoas, dizia-me que estava um pouco farto dos treinadores de bancada pois proliferavam como cogumelos, não tinham tido qualquer experiência a lidar com pessoas,
despejavam uma verborreia do cimo de um de pedestal imaginário e que aquilo que debitavam acabava por ser uma mão cheia de nada, pois nem imaginavam as delicadas decisões que tinham de ser tomadas e os impactos que elas produziam na vida das pessoas e das organizações. Este desabafo, que considero exagerado, mas vindo de alguém que é um símbolo de uma liderança que eu designaria por competente inconsciente, já que a aprofundada formação académica robusteceu uma experiência de muitos anos, pode corporizar a necessidade que algumas pessoas expressam de, mais do que “grandes líderes”, terem quem lhes dê espaço, quem seja educado, quem respeite a diferença, quem escute e quem peça desculpa pelos erros que cometeu.
Poder-se-á perguntar se os lideres aqui apresentados poderão alguma vez ser comparados com as tais figuras míticas reconhecidas internacionalmente, referidas logo no 1º paragrafo deste artigo. A minha resposta é que, não só podem ser comparados, como devem ser comparados!
O meu pai, diz com alguma regularidade que talvez não possa mudar o mundo, mas que se puder dar um pequeno contributo, isso já é positivo. Ora o que a realidade nos vai mostrando é que qualquer um de nós pode mudar o mundo e uma pequena ação exercida por apenas uma pessoa pode amplificar-se e ganhar proporções astronómicas. Pessoas que andaram na escola daquele “simples” professor, são hoje deputados, figuras públicas, quadros de grandes empresas, professores (porventura a mais importante profissão do mundo), profissionais de referência na área em que atuam, exercem a sua atividade em vários países, são pais e mães, poderão ter sido influenciados e têm uma crescente capacidade de influenciar. Estas pessoas podem mudar vidas e isso pode ter um efeito multiplicador!
2. É possível liderar sem ter uma Equipa formalmente constituída