RUI GUEDES
Diretor de Vendas das Páginas Amarelas
Fotografias D.R.
2020: Um ano para esquecer?
Sempre fiz um esforço por separar o que é estar focado num objetivo de fazer balanços antecipados, até porque, recorro com frequência ao velho ditado que sabiamente nos diz que até ao lavar dos cestos é vindima.
Ora neste momento em que escrevo, o ano ainda não acabou e portanto talvez esteja a fazer pela primeira vez aquilo que sempre disse às Equipas com quem tenho trabalhado, para não fazerem: - Jamais levantem as braços como os ciclistas na reta da meta, pois há vídeos a provar que isto nem sempre é uma boa ideia.
Assim, assumamos que este testemunho diz respeito ao muito que já vivemos nestes atípicos meses dos anos 20, pois a riqueza de conteúdos é tal que, por muito que se diga, muito ficará sempre por dizer. O desafio passa por uma retrospetiva que nos mostre o que fomos aprendendo e tenho que confessar que assim que me sentei para começar a escrever, quem sabe invadido por um espírito mais natalício, ocorreu-me que recentemente partilhei uns longos versos apenas e só com a família e os amigos, mas talvez possa fazer sentido ir deixando aqui alguns excertos.
O ano começou inundado de otimismo! Parece ter sido há muito tempo, mas naqueles dois primeiros meses transpirávamos inspiração, atividade, apostávamos em aumentar as Equipas com novos recrutamentos e reconhecíamos num jantar anual as performances extraordinárias conseguidas em 2019. Tínhamos arrojados planos para o período que se iniciava, com novidades na oferta comercial, no incremento do serviço, no reforço da entrega de valor e subitamente… tudo mudou!
Vivemos na corda-bamba
Onde o imprevisto fede
Damos um passo, descamba
Olhamos, não temos rede
Percebemos de uma forma abruta a debilidade da nossa existência, abalados à escala global por um acontecimento que veio decidido a tudo mudar. Os impactos nas pessoas e nas organizações foram em muitos casos verdadeiramente catastróficos, sendo que, em paralelo, convém não esquecer, que muitos viveram dramas maiores que em nada decorreram desta malfadada pandemia. Vi amigos perderem um filho e revelarem uma coragem que julgo não possuir. Estive de mão dada longos minutos em conversa serena com uma vizinha de 87 anos atropelada, enquanto lhe prestávamos a primeira assistência e aguardávamos a chegada dos bombeiros. Estando num grupo de risco, conseguiu manter-se sempre longe duma infeção, mas acabou por ser traída por um acidente estúpido e ao fim de alguns dias o seu coração não aguentou.
Isto é descer à terra
Sentir bem os pés na lama
Olhar o que vida encerra
Saber que pode haver trama
No entanto, este mundo vuca, por vezes impiedoso para muitos, não pode ser desculpa para a imobilidade! Claro que estamos ainda a lutar em várias frentes, claro que há setores em vias de ficarem completamente destruídos, claro que há um conjunto de consequências ainda não verdadeiramente visíveis, amortecidas por alguns apoios sempre insuficientes e claro está, que esta guerra se está a prolongar muito para além do que a maioria de nós esperava e todos somos alvos potenciais.
Mas pouco ou nada se ganha
Com esta antecipação
Entremos nesta campanha
Lutemos com ambição
Talvez caiba a cada um de nós um papel nesta longa jornada e todos somos poucos para tal empreitada. Mas aqueles que, como eu, têm a imensa felicidade de ter uma família fantástica, de estar com os pais e com os irmãos com os devidos cuidados, se sentem com uma energia imensa e saúde e têm amigos sempre por perto, têm uma responsabilidade acrescida, até por respeito por todos aqueles que estão mesmo na primeira linha da batalha, não de metralhadora, mas vestindo batas de várias cores.
E os que ficam, resistem
Vão acabar por vencer
Porque acreditam, insistem
Antes quebrar que torcer