27 de Julho de 2021








ANTÓNIO NOGUEIRA DA COSTA

CEO da efconsulting |  docente e membro do N2i do IPMaia


As PME são o Futuro.


A grande maioria dos negócios têm a sua génese numa ideia de uma ou duas pessoas que desenvolvem um sonho que tem de ser concretizado. A maioria dos seus familiares e amigos dizem que é “único”, “não tem concorrência”, “vai ser um sucesso” …,



No entanto, tal como no caso de um ser vivo, os negócios nascem para morrer. É possível identificar cinco momentos característicos de um negócio, a saber: aborta numa fase embrionária; sucumbe antes de dar os primeiros passos; alcança os objetivos; sofre a crise existencial de manter, crescer ou reduzir e desaparece.

Entre a ideia e o desenvolvimento de um negócio podem decorrer umas horas, uns dias, alguns meses ou até mesmo anos. Ao tentar concretizar a ideia o empreendedor deteta algumas incon­sistências, limitações ou outros ele­mentos que o levam a desistir da sua implementação. Podendo ser um enorme desgosto abortar nesta fase embrionária, é sem dúvida alguma a fase na qual o empreendedor investiu menos recursos e, como tal, a menos onerosa de todas.







Uma multiplicidade dos negócios ultrapassa a fase embrionária, abre os olhos e chega ao mercado. Os primeiros tempos são cruciais e exigem enorme dedicação, contudo, uma parte relevante não vai chegar a dar os primeiros passos: cerca de 26,8% não alcançará o 1º aniversário e 45,7% não soprará as velas do 2º (médias dos anos 2005 a 2019, calculadas a partir dos dados do INE).




Os líderes dos negócios que sobrevivem a estes primeiros anos de vida e que acreditam estar a ter sucesso devem ter presente que o mercado é um autêntico carrasco: liquida anualmente mais de 13% dos negócios (média das taxas de mortalidade das empresas entre os anos 2004 e 2019, calculadas a partir dos dados do INE).

O grande dilema dos líderes das sociedades que navegam em velocidade de cruzeiro no oceano dos negócios - alcançaram os objetivos inicialmente delineados - é o que fazer para enfrentar o futuro: estar satisfeito com o nível e estabilidade do mesmo ou ceder ao “chamamento” para continuar a crescer e enfrentar novos mares. Sendo as duas opções completamente distintas em termos de requisitos e exigências – capital humano e financeiro e estrutura de organização - qualquer uma delas é válida e sustentável. No caso das que optam pelo crescimento, rapidamente chegam à inevitabilidade de terem de abandonar a lógia de “fazer tudo”, para se suportarem num crescente número de empresas bem mais pequenas, sem as quais terá enormes dificuldades em competir.


Estar satisfeito com o nível e estabilidade do mesmo ou ceder ao “chamam­ento” para continuar a crescer e enfrentar novos mares?




O Programa Origens é um programa exclusivo do Intermarché de apoio à produção nacional. A dimensão do pro­grama reflete-se em mais de 170 produ­tores locais, que em mais de 18.000 há de cultivo disponibilizam mais de 300 produtos genuinamente portu­gueses. (fonte: https://www.intermarche.pt/programa-origens/) Esta situação abre significativas janelas de oportunidade àqueles negócios que, tendo optado por se manter a um nível mais reduzido, possuem deter­mi­nadas caraterísticas (localização, acesso a recursos, agilidade, etc.) que os tornam apetecíveis como fornecedores ou mesmo parceiros dos grandes.





Em maio último a Altice Portugal anunciava que com o programa de saídas de pessoal em curso, a Meo ficará com cerca de 6.500 trabalhadores (o dobro do acumulado das duas principais concorrentes Nos e Vodafone) e grupo, na sua totalidade, manterá cerca de 12.000 empregos diretos e 15.000 indiretos. A estratégia de atuação com recurso a entidades externas (“procuramos os melhores parceiros para fornecimento de produtos e serviços”) levou à criação de um clube de fornecedores e a manter um largo espectro de oportunidades para as PME (fonte: https://oso.telecom.pt/).

Ser uma empresa grande não é, só por si, significado de melhor, bem como ser uma PME não é sinónimo de qualquer desprestígio para qualquer um dos seus principais stakeholders - sócios, empregados, clientes … e até mesmo a comunidade onde se encontra inserida – são a base de qualquer economia. Por último, e tendo presente a taxa de mortalidade referenciada, o fim de uma sociedade também é algo que deve ser considerado natural. A eternidade, podendo ser encarada como uma possibilidade, não deve ser encarada como um fim em si mesmo.


Fundada em 1635 por João Cipriano, a Casa Batalha, terra da sua origem, é a marca mais antiga em Portugal, tendo mantido a sua atividade comercial ao longo de cinco séculos. As suas origens remetem para o ofício de conteiro, uma arte desde sempre assegurada com mestria e excelência. Somente em 1785 a marca foi transformada numa sociedade e passou a residir no número 77 da Rua Nova do Almada, onde se manteve até ao incêndio do Chiado. Durante muitos anos, a Casa Batalha “esteve sozinha no mercado”. O incêndio do Chiado, que destrui a loja e a dimensão da família - 12 irmãos e 56 primos direitos não facilitou a gestão do negócio. A dificuldade na obtenção de consensos levou a que em 2007 fosse efetuado um aumento de capital tendo 2 familiares ficado com mais de 98% do mesmo. Os novos acionistas procuraram o auxílio de João Pedro Xavier, do grupo Lanidor, que comprou parte da marca que ia na sua 11.ª geração familiar. Infelizmente e apesar de todos os esforços, a sociedade não resistiu e foi dissolvida.







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