o fenómeno das migrações, mormente à porta de espaços económicos desenvolvidos como a América do Norte e a Europa.
d) Digitalização: a revolução digital continuará imparável, com todos os impactos daí decorrentes ao nível do emprego, dos modelos de negócio e da inovação de produtos e processos, sem esquecer as questões de cibersegurança e de privacidade dos dados.
e) Inflação: last but not least, a inflação veio para ficar com as suas implicações ao nível do custo dos fatores de produção e do financiamento, algo a que já não estávamos habituados, mas que pode ter um efeito muito nefasto junto das entidades (designadamente Estados, mas também famílias e empresas) com maior nível de endividamento.
Tomando em consideração estas cinco condicionantes, deixo ao leitor sete grandes desafios de âmbito empresarial. Como verá, mais do que respostas, coloco perguntas. Na realidade, uma vez que “a pergunta certa é mais importante do que a resposta certa à pergunta errada” (Alvin Toffler dixit), cabe a cada um ir encontrando as suas próprias respostas – e sublinho a palavra “suas” pois a forma como cada um se irá posicionar no novo mundo é única e distinta. Todavia, uma coisa é certa: quanto mais rapidamente o fizer, melhor se irá adaptar ao ano que agora começa.
1. A nova globalização
Uma das principais consequências da pandemia causada pelo SARS-CoV-2 prende-se com a reconfiguração das cadeias de valor a nível mundial. A crise que atualmente se vive no contexto dos abastecimentos ultrapassa em muito a questão da falta de contentores ou do navio que ficou encalhado no canal de Suez. Como reconfigurar as cadeias de abastecimento sem prejudicar a eficiência e a flexibilidade estratégica que a globalização pré-Covid permitia? Que países verão o seu papel reforçado enquanto grandes fornecedores mundiais? Que posicionamento deverão as empresas portuguesas assumir nas cadeias de valor globais face a essas novas oportunidades e constrangimentos?
2. A reinvenção do trabalho
O teletrabalho veio para ficar. Não será generalizado, uma vez que há tarefas que não se podem realizar por essa via, mas nada será como dantes, até porque o modelo de organização do trabalho já vinha dando mostras de estar esgotado. Como gerir equipas, total ou parcialmente, em teletrabalho? Como conjugar eficácia (em termos de resultados), eficiência (na utilização dos recursos) e realização dos colaboradores (do ponto de vista pessoal, familiar e profissional)? Que tipo de competências virão a ser mais valorizadas?
3. Um mundo cada vez mais digital
As tecnologias de informação terão uma presença cada vez mais alargada. A evolução tecnológica já vinha nesse sentido e as soluções digitais que ela proporciona vão ao encontro de muitas das novas necessidades decorrentes da pandemia.
Como conciliar a crescente digitalização com o mundo não digital? Que partido tirar da inteligência artificial, do big data e do machine learning, mesmo em empresas de menor dimensão? Que novos tipos de liderança e de estilos de gestão serão necessários neste novo contexto?
4. Responsabilidades que são de todos
Para dar resposta a alguns dos principais desafios que se colocam à sociedade (como a emergência climática e as grandes vagas migratórias) as empresas terão de assumir um papel de responsabilidade, não apenas por uma questão ética ou de imagem, mas por uma questão de sobrevivência. Neste contexto, que reposicionamento se espera que as marcas assumam? Qual a importância de valores como a autenticidade, a simplicidade e o comprometimento?
5. Estratégias de curto prazo
Parece um contrassenso, mas numa época em que se assiste a uma contração do tempo (traduzida no facto de no espaço de semanas ou mesmo de dias ocorrerem mudanças que, em “tempos normais”, demorariam anos) o horizonte temporal de uma boa estratégia encurtou-se dramaticamente. Num quadro cada vez mais VUCA (volatile, uncertain, complex and ambiguous) em que vivemos, ter visão de longo prazo é ter capacidade para antever como vai ser o mundo, não dentro de 4 ou 5 anos, mas de meia dúzia de meses. Como desenvolver e implementar estratégias, algo tipicamente associado ao longo prazo, dirigidas a horizontes temporais curtos? Que novas ferramentas de gestão serão necessárias? Como reforçar a “estraturação” – isto é, a articulação entre estrutura e estratégia?
6. Um MINDSET aberto à mudança
Como assinalado anteriormente, as mudanças no mundo económico, político e social continuarão a ocorrer, provavelmente a uma velocidade maior do que aquela a que estávamos habituados no mundo pré-Covid. Quem tiver esperança de que tudo volte ao normal – leia-se, ao “antigo normal” – nunca se irá adaptar ao “novo normal”. Podemos não saber bem como tudo vai terminar, mas uma coisa é certa: o mundo nunca mais será como o conhecíamos no início de 2020. Por isso, o principal fator crítico de sucesso é ter um espírito aberto à mudança.
7. 10 milhões de empreendedores
Deixo este último desafio aos 10 milhões de Portugueses: todos temos de ser mais empreendedores. Isto é, vamos ter de ser capazes de encontrar melhores e mais inovadoras soluções para desafios cada vez mais inesperados, com base em recursos e competências que, eventualmente, não possuíamos nem dominávamos à partida. Este é um desafio de todos e não apenas dos chamados empresários. Não basta termos mulheres e homens de negócios empreendedores – o mesmo se espera dos médicos, dos economistas, dos técnicos especializados, dos operários não qualificados, enfim, de todos. Ser empreendedor não decorre da profissão ou da ocupação que se tem – é uma questão de atitude e, como tal, deve ser transversal à sociedade.