12 de Agosto de 2025


CARLOS BRITO

Presidente da Ordem dos Economistas - Norte




Ética: diferencial competitivo ou obstáculo ao crescimento?



Num ambiente de negócios cada vez mais competitivo e acelerado, a ética empresarial está, mais do que nunca, no centro de debates intensos.





A

inda há quem veja a ética como um obstáculo ao crescimento, associando-a a restrições, custos acrescidos e processos mais lentos. Contudo, cresce a consciência de que princípios éticos bem consolidados podem ser um driver de diferenciação e vantagem competitiva, especialmente em mercados onde os consumidores, investidores e colaboradores valorizam organizações transparentes, responsáveis e comprometidas com a sustentabilidade.

Ética e sustentabilidade

Para se perceber o verdadeiro papel da ética no mundo empresarial, importa olhar para a sua relação com a sustentabilidade nas três dimensões básicas: social, ambiental e económica.

Dimensão social

No plano social, a ética é um garante do respeito pelos direitos humanos, assim como da promoção da diversidade, da inclusão e de condições de trabalho justas. Empresas que negligenciam estes aspetos podem até crescer no curto prazo, mas arriscam a sua reputação, a perda de talentos e o boicote de consumidores cada vez mais atentos às práticas laborais.






O público de hoje tolera cada vez menos a discriminação, a exploração laboral e a falta de transparência na cadeia de fornecedores. Assim, a ética social não é apenas uma questão de valores (o que, por si só, já não é pouco), podendo tornar-se uma alavanca para atrair colaboradores motivados e clientes leais, gerando impacto positivo na comunidade e reduzindo riscos reputacionais.

Dimensão ambiental

No campo ambiental, a ética impõe às organizações a responsabilidade de agir de forma sustentável, minimizando impactos negativos no planeta. Não basta cumprir a lei: espera-se das empresas uma atitude proativa na redução de emissões, na eficiência energética, na gestão responsável de recursos e no incentivo à economia circular.

A ética ambiental traduz-se em decisões que podem parecer, à partida, 

mais caras ou menos rentáveis, como investir em tecnologias limpas ou reduzir embalagens. Todavia, a médio e longo prazo, essas opções consolidam a imagem de que a marca está comprometida com o futuro, além de gerarem oportunidades no campo da inovação verde.

Dimensão económica

Por fim, a dimensão económica da sustentabilidade também envolve questões éticas que se traduzem, nomeadamente, na garantia de práticas comerciais justas, no combate à corrupção, na transparência fiscal e na integridade no cumprimento dos contratos.

A ética económica é geradora de confiança dentro do ecossistema de negócios, evitando riscos legais e assegurando uma competitividade saudável. Empresas que competem de forma desleal ou que ignoram o quadro legal e regulamentar acabam por 




prejudicar o próprio setor e minar a credibilidade do ambiente empresarial.

Desafios da ética

Naturalmente, manter elevados padrões éticos e de sustentabilidade coloca desafios. É necessário investir em formação, criar mecanismos de monitorização, implementar auditorias e repensar cadeias de valor. Tudo isso pode representar custos, tempo e esforço adicionais, sobretudo para PME em fases iniciais.

Contudo, encarar estas ações como um fardo é um erro estratégico. Estes investimentos são, na prática, uma salvaguarda contra crises reputacionais, processos judiciais e boicotes – além de que abrem a porta a novos mercados, clientes, investidores e outros stakeholders comprometidos com critérios ESG (Environmental, Social, Governance).

Empresas que integram a ética de forma transversal – nos produtos,



nos processos, na liderança e na cultura organizacional – têm uma oportunidade de oferecer propostas de valor sólidas e mais difíceis de replicar. Marcas autênticas e com propósito, que praticam o que comunicam, conseguem gerar confiança, estabelecer laços duradouros e garantir um crescimento sustentável mesmo em ambientes voláteis.

Em contrapartida, o crescimento rápido baseado em práticas menos éticas tende, em países desenvolvidos como o nosso, a limitar as possibilidades de crescimento futuro. A confiança, uma vez perdida, é extremamente difícil de recuperar. Num mundo onde a informação se dissemina em segundos, um erro ético pode destruir anos de trabalho e investimento, afastar clientes, fornecedores e colaboradores, e comprometer a sobrevivência da organização.

Assim, a ética não deve ser vista como uma limitação à ambição, mas sim como a bússola estratégica que orienta decisões responsáveis, equilibrando interesses de todas as partes envolvidas, tanto ao nível da sociedade e do ambiente como da própria economia. É a garantia de que o crescimento de uma empresa não se faz à custa do planeta, das pessoas e de princípios fundamentais de justiça e equidade.

Conclusão

Em suma, a questão não se resume a saber se vale a pena apostar na ética, mas sim se há alternativa viável para quem pretende prosperar a longo prazo. Com consumidores cada vez mais conscientes, colaboradores exigentes e investidores atentos a critérios de impacto social e ambiental, a ética deixou de ser apenas um “extra” desejável para se tornar um fator crítico de diferenciação e até de sobrevivência

no mercado.

Cabe a cada empreendedor decidir: construir uma história de sucesso baseada em valores sólidos, ou arriscar um crescimento veloz, mas insustentável, vulnerável a ruturas e crises reputacionais? Num ecossistema onde confiança, transparência e propósito contam cada vez mais, a ética, longe de ser um obstáculo, pode tornar-se num dos maiores ativos com que uma empresa pode contar para, de uma forma sustentada, se tornar mais competitiva e resiliente.


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