12 de Agosto de 2025


LUIS LOBÃO

Professor e Consultor


Dilemas Éticos do Crescimento e Longevidade Organizacional:


Como o conselho navega entre pressão por resultados e integridade corporativa



O

que o dinheiro não pode comprar? 

Esta provocativa pergunta do filósofo Michael Sandel ecoa nas salas de reunião dos conselhos de administração mundo afora. Em tempos de pressão crescente por resultados, os conselheiros enfrentam um dilema fundamental: até onde ir na busca pelo crescimento sem comprometer a integridade que sustenta a longevidade organizacional?

O Paradoxo da Pressão por Resultados:

O mercado financeiro não perdoa hesitações. Trimestre após trimestre, as empresas são cobradas por números que impressionem analistas e investidores. Neste cenário, o Conselho de Administração se encontra no epicentro de uma tensão: como equilibrar a urgência do crescimento com a paciência que a ética corporativa demanda? A resposta não está em escolher um lado, mas em compreender que ética e crescimento são parceiros, não adversários.

Quando Sandel questiona os limites morais do mercado, ele nos convida a 

refletir sobre quais valores não devem ser negociados, mesmo sob pressão.


CASES de Sucesso: Quando a Ética Impulsiona o Crescimento

Patagonia: O Propósito como Motor 

O conselho da Patagonia tomou uma decisão aparentemente contraintuitiva: desencorajar o consumo excessivo. A campanha "Don't Buy This Jacket" poderia parecer suicídio comercial, mas fortaleceu a marca e criou uma base de clientes extremamente leal. O crescimento veio justamente da autenticidade ética.


Natura: Sustentabilidade como Estratégia

No Brasil, a Natura construiu sua estratégia de crescimento sobre pilares éticos desde a década de 1970. Seu conselho sempre priorizou práticas sustentáveis, mesmo quando isso significava custos maiores. Resultado: tornou-se líder em seu segmento e referência global em sustentabilidade.



O conselho moderno precisa ser mais que um órgão fiscalizador; deve ser um arquiteto da longevidade. Isso significa:

 1  Definir Limites Claros

Estabelecer princípios não-negociáveis, mesmo sob pressão. Como diria Sandel, algumas coisas simplesmente não estão à venda.

 2  Criar Métricas Balanceadas

Desenvolver KPIs que considerem não apenas resultados financeiros, mas também impacto social, ambiental e reputacional.

 3  Fomentar Cultura de Longo Prazo

Resistir à ditadura do curto prazo, educando o mercado sobre os benefícios da estratégia sustentável.


Navegando nas Águas Turbulentas

O conselho eficaz reconhece que dilemas éticos não são obstáculos ao crescimento, mas oportunidades de diferenciação. Em um mundo onde a confiança é moeda escassa, empresas que demonstram integridade consistente constroem vantagens competitivas duradouras. A questão não é se podemos crescer mantendo altos padrões éticos, mas se podemos nos dar ao luxo de não o fazer. Como mostram os cases de sucesso, a ética não é um freio ao crescimento - é o combustível da longevidade organizacional.

O dilema entre crescimento e ética é falso. O verdadeiro desafio é integrar


A ética não é um freio ao crescimento - é o combustível da longevidade organizacional.


ambos em uma estratégia coesa que honre o presente sem hipotecar o futuro. Os conselhos que compreendem isso não apenas navegam melhor as pressões do mercado, mas constroem legados que transcendem resultados trimestrais. Afinal, como nos ensina Sandel, há coisas que o dinheiro não pode comprar - e a confiança conquistada através da integridade é uma delas




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