Como queria concluir um objetivo que se afigurava longínquo,
decidi escrever em Setembro algo que viria a ser publicado apenas em Novembro e
isso revelou-se um exercício altamente enriquecedor.
Hoje, não só volto à questão das datas, como decidi quebrar o ritmo de publicação mensal que me tinha imposto, pois vivemos tempos fora do comum.
6 de Setembro de 2020 é um domingo e
está um dia espetacular!
Enquanto
estou aqui sentado no restaurante à beira mar a petiscar umas entradas e
a beber um copo de vinho branco gelado,
lembro-me que nessa manhã passei mesmo ali em frente na minha habitual corrida
e sinto que foram 21 km bem corridos. Calor, uma brisa muito leve, o iPod a
debitar grande música, muita gente conhecida dos domingos de manhã e aquela
sensação final de cumprir mais um bom desafio.
Nesta distração momentânea que durou
alguns segundos, vejo que o rodovalho grelhado começou entretanto a ser
servido e olho com satisfação para a família e os amigos ali reunidos à volta
da mesa em conversas cruzadas e variadas. O restaurante está cheio, só
conseguimos estar ali com reserva e mesmo na nossa mesa, com um número
considerável de jovens, há algum volume para tentar controlar com muita
história para contar, muita gargalhada e momentos que sabemos bons, mas não
conseguimos descrever.
Durante o café, reparamos que eram
já 15:30 mas o clima de animação não abrandava e havia sempre mais para
contar.
O ano escolar correu bem, no
trabalho estamos a viver bons momentos com novos projetos em curso, temos
algumas boas ideias que verão a luz do dia brevemente, a economia continua a
dar bons sinais, a música é sempre tema, até que repentinamente alguém disse:
- Lembram-se do que tivemos que passar por causa daquele coronavírus?
Partilhei que nunca tinha estado em
regime de teletrabalho e que foi uma grande experiência para mim. Levantou-me
enormes desafios na forma de comunicar com as pessoas, pois sempre fui talhado para o estar face a face e
tive que me reinventar, tive que encontrar formas de perceber o clima
organizacional não estando fisicamente com as Equipas e recordo muitos
episódios vividos. Por uma questão de disciplina individual, lembro-me que
decidi que me iria levantar sempre à hora do costume, me iria vestir como se
fosse sair e isso incluiria fazer a barba diariamente, que começaria o dia de
trabalho à hora habitual e que pedi às pessoas com quem trabalho mais
diretamente que, sem prejuízo de falarmos durante o dia, por volta das 9h me
enviassem uma mensagem a dizer se estava tudo bem com cada um e com as suas
Equipas. Tivemos muitas dificuldades iniciais, a adaptação das pessoas,
nomeadamente dos Consultores Comerciais, não foi obviamente fácil e não adianta
esconder que vivemos momentos complicados. Reinventamo-nos, fizemos coisas que
algum tempo antes nos pareceriam absurdas, alteramos hábitos e … estamos cá!
Setembro de 2020 está a ser um mês
excelente, esses tempos da Covid-19 já nos são longínquos, só que convém ser
muito claro relativamente a um ponto:
- Esse idílico mês de setembro, no
qual estamos de pele morena com os amigos à beira mar, está a ser construído
agora!
Regressemos então a março de 2020 e
com os pés bem assentes no chão, vejamos o que está nas nossas mãos.
É necessário começar por assumir a
humildade de estar perante um cenário de guerra diante de um inimigo que
conhecemos mal, que sabemos que é demolidor, que se agiganta de forma
exponencial e que não parece dar tréguas.
Num cenário destes é natural que
exista alguma ansiedade, que as pessoas sintam que não há um rumo definido e
que as notícias que se sucedem a um ritmo avassalador nem sempre ajudem a
estabilizar os ânimos. Contudo, com os dados existentes, com a experiência
vivida por outros países que estiveram perante esta realidade antes de nós, com
as recomendações das autoridades tecnicamente competentes, é possível tirar
algumas conclusões e a partir daí, elencar um conjunto de iniciativas.
As previsões, os algoritmos, os
diferentes estudos, as réplicas que se tentam fazer para Portugal, não são
propriamente consensuais quanto a uma data de normalização da atividade. Uns
falam de maio depois de termos atingido o pico em meados de abril, mas este é
apenas um dos cenários que vão aparecendo.
Isso exige que as empresas trabalhem
com várias hipóteses, mas que sobretudo, consigam com a rapidez necessária,
adaptarem-se ao momento em curso com medidas assertivas de rápida execução.
Há dias, dizia a vários colegas que estranhos eram estes
tempos que vivíamos, nos quais para mostrarmos que estamos JUNTOS tínhamos que
nos manter SEPARADOS.
O trabalhar a partir de casa nos casos em que isso é
possível, o cumprir de todas as normas e recomendações de segurança, o olharmos
com especial cuidado para nossa população mais vulnerável onde se incluem os
idosos é algo que deve estar sempre presente. Cabe em grande parte às empresas
definir normas que protejam os seus colaboradores e cabe por sua vez a estes,
perceber que estão em causa valores maiores e adaptar-se a uma nova realidade
que lhes caiu aos pés com algum estrondo.
Este ponto é crítico e nas conversas
que tenho mantido com as diferentes Equipas não me canso de dizer que temos que
manter as empresas em jogo.
Esta não é uma guerra nuclear,
daquelas que algum cinema de ficção científica anunciava há alguns anos. As
pessoas que ainda iam a tempo, corriam para os bunkers, mantinham-se lá por tempo
indeterminado e um dia, quando decidiam sair, encontravam um cenário de caos e
desolação. Hoje, não é disso que se trata e é isso que temos que combater.
O Desafio que temos pela frente
consiste em conciliar a proteção individual com uma atividade que não pode
parar, sob pena disto levar ao colapso de muitas empresas.
Quer internamente quer para o mercado, é importante que as empresas se adaptem mas não deixem de comunicar. Claro que porventura terão que abandonar algumas estratégias já definidas, claro que em muitos casos terão que rever ações que tinham subjacente a presença de muitas pessoas para produzir o desejado impacto, claro que o tom da comunicação vai ter em alguns casos que mudar, já que um otimismo descontextualizado de uma marca, pode produzir no Cliente uma dissonância com aquilo que ele está a viver. Não obstante isto, é necessário continuar a comunicar!
Nesta última semana em que estive
permanentemente em casa, além de ter falado diariamente com meus reportes
diretos e com muitos dos colegas da empresa, falei com muito mais pessoas.
Falei com Clientes, com amigos a trabalhar nas mais variadas áreas e locais
desde Londres a São Paulo, falei com médicos, falei com familiares que estão
espalhados por aí, incluindo Itália, tentei ler informação de fontes diferentes
e credíveis e reunindo tudo isto, concluí que os 3 pontos acima enunciados
continuavam a fazer todo o sentido.
Para muitos Consultores Comerciais
que estão agora a trabalhar em regime de teletrabalho, as palavras são,
adaptação, persistência, perspicácia, disciplina individual, assertividade,
foco no Cliente e acreditar que os balões de ensaio que estão a lançar vão
produzir resultados. É ainda crítica a questão da partilha, porque por um lado,
as boas práticas podem e devem ser replicadas, mas também porque essa partilha
nos ajuda a manter uma coesão que o isolamento físico a que estamos confinados
nos parece tentar tirar. É importante falar, dizer o que se sente, dar
sugestões e olhar para o início de cada dia como aquele em que coisas boas vão
acontecer. Estes profissionais são pessoas de fibra habituados a lidar com a adversidade
e portanto vão resistir.
Muitas empresas estão num impasse.
Algumas fecharam temporariamente porque sentem uma quebra na sua atividade,
outras decidiram esperar para ver o que aí vem, mas parece relativamente óbvio que
a atitude de meter a cabeça na areia perante uma situação de perigo
não é, nestes tempos turbulentos, a mais prudente.
Há por isso já muitas empresas que
começaram a corrigir a trajetória para se adaptarem a estes novos ventos que
sopram forte.
Perceberam talvez antes das outras
uma coisa simples:
- Apesar de ser difícil de imaginar
nos dias de hoje, vai haver um dia pós coronavírus e essas empresas querem lá
estar!
Apesar de não caber numa reflexão
como esta dizer especificamente o que pode ser feito, pois cada empresa opera
numa área de atividade, numa determinada geografia, com um conjunto de
especificidades que só a ela dizem respeito, eu arriscaria dizer que há alguns
factos a que deveríamos dar a devida importância, pois podem ser pistas
preciosas acerca das primeiras coisas que temos que fazer já amanhã.
Há lojas físicas que foram obrigadas a fechar, mas que
rapidamente se ajustaram e estão a construir uma consistente comunicação
online.
Há empresas, que mesmo não tendo sido obrigadas a fechar,
viram que era o momento de dar o salto e decidiram começar a vender
online.
Seria fastidioso continuar e
enunciar áreas de atividade que têm neste momento oportunidades de se
reinventarem, ou de simplesmente poderem fazer alguns ajustes, até porque a
visão que se tem dessa reinvenção vai depender muito de quem estiver ao leme.
Contudo as oportunidades estão aí e numa fase como esta é fundamental que quem
procura, encontre o que necessita e que as empresas tenham a possibilidade de
se manter contactáveis, com visibilidade, com uma comunicação ajustada aos dias
que vamos vivendo e com a flexibilidade que o digital permite, pois a realidade
de hoje pode não ser a realidade de amanhã.
Com a consciência plena de que os
dias pós-Covid encerrarão um conjunto de alterações paradigmáticas, que
começarão na visão do teletrabalho e terminarão naquilo que é o real poder das
redes sociais, termino com um dado retirado da Marketeer que não precisa de
qualquer observação adicional:
- Entre o último trimestre do ano
passado e o primeiro de 2020, houve um crescimento de 22% em impressões
referentes a campanhas no Instagram.
Nenhum de nós sabe com exatidão o
que o futuro nos trará.
Nenhum de nós, mesmo com informação
privilegiada, pode determinar um rumo isento de incerteza.
Mas cabe a cada um de nós fazer em
cada dia a sua parte, para podermos viver esse idílico mês de setembro.
“Vamos todos ficar bem”