6 de Fevereiro de 2024





PEDRO AMENDOEIRA

Partner na Expense Reduction Analysts





O Olimpo das Compras


Conta-se que na Antiga Grécia um jovem perguntou a um velho sábio se alguma vez poderia chegar ao Olimpo, ou seja, tornar-se um deus. O sábio respondeu: “podes, desde que cada passo que dês seja nessa direção”.


L

evando esta metáfora para o mundo dos departamentos na globalidade das empresas, uma área que nos últimos 10 anos tem dado múltiplos pequenos passos sempre na mesma direção é a da Gestão de Custos, expressa na crescente importância do departamento de Compras/Supply Chain. Ainda que aqui não se trate de endeusar esta área, parece-me inegável que tudo o que aconteceu nos últimos anos tem contribuído para um progressivo aumento da importância das Compras nas empresas, em pequenos passos.

Duas das causas para esta maior importância das Compras reforçam-se mutuamente: a globalização e a concorrência. Em mercados cada vez mais globais, um forte concorrente pode surgir em virtualmente qualquer lugar do globo.

Por sua vez, isso faz com que as empresas tenham de alargar a área geográfica de procura de fornecedores para áreas vitais do seu negócio, ou os seus concorrentes podem adiantar-se, reduzir significativamente custos e ficar com o negócio.

A enorme especialização e complexidade das cadeias de abastecimento contribuem também para que o papel dos responsáveis de Compras saia reforçado.

Outro fator que torna o papel dos responsáveis pela cadeia de abastecimento ainda mais vital é a crescente valorização da Sustentabilidade. É evidente que esta tem de vir já pensada nas matérias-primas, ou começamos mal.

Nestes últimos 10 anos, assistimos a crises, pandemia, guerras, inflação, quebras das cadeias de abastecimento. A tudo as empresas tiveram de dar resposta. No processo, perceberam que, sem um reforço importante da cadeia de Compras, poderiam não sobreviver à seguinte ameaça.

Há muitos anos, um comercial contou-me que quando foi a um seu cliente anunciar uma subida de preços de 2 ou 3%, o Diretor de Compras saiu da sala e voltou com um cinto, dizendo-lhe “está a ver este cinto? Só posso fazer buracos para baixo, para o apertar mais. Não há outra possibilidade”. Nessa altura, os Diretores de Compras eram alguém com a habilidade única de



espremer fornecedores para darem preços mais baixo. Em mercados globais e complexos, é importante gerir as relações com fornecedores, os riscos, a inovação ou sustentabilidade, além de garantir preços de aquisição competitivos. O foco passou de negocial e transacional, para relacional e estratégico.

Dentro da maioria das empresas, os departamentos mais glamorosos ainda são aqueles como a Produção, as Vendas ou o Marketing, vistos como as chaves para o sucesso. Em importância seguem-se talvez o Financeiro ou IT, que asseguram as bases. As Compras vinham bem mais abaixo nesta lista. Isto está a mudar. Todos são importantes e interdependentes. Sem boas compras não se fazem boas vendas.

Um departamento que se limita a comprar o que outros lhe pedem, de pouco serve. Se conhece o processo a fundo e é envolvido nas decisões, pode contribuir ao nível das especificações para soluções mais eficientes, onde normalmente se escondem os grandes ganhos. Para um departamento de Marketing, a dimensão exata de um rótulo pode parecer de suma importância, mas se souber que, aplicando menos um milímetro de largura, pode permitir ao fornecedor usar uma dimensão standard da indústria e poupar 20%, talvez ajuste esse milímetro ao design do rótulo. Isto envolve a não subalternização do Supply Chain a outras áreas, sendo vital que tenha assento e voz ativa na mesa de decisões.

Como consequência deste papel mais ativo das Compras, vemos que o próprio nome do departamento está a mudar para Supply Chain ou algo similar. Vemos que os CEOs passam mais do seu tempo com fornecedores, ainda que provavelmente não tanto como o que passam com os clientes. Vemos também que cada vez mais líderes passaram pelos departamentos de aquisição. 

Nos últimos anos, os CEOs nomeados para gerir grandes empresas, como a Coca-Cola ou a Walmart, começaram a sua carreira







neste departamento.

O que já foi um arquivo quase morto de profissionais, pode servir hoje de lançamento para os mais altos cargos das maiores empresas.

Um provérbio Chinês diz que “uma jornada de mil milhas começa com um 

pequeno passo”.

Nestes 10 anos de vida da Start&Go, muitos passos foram dados no sentido de uma visão mais estratégica para a gestão integrada de custos das empresas, em Portugal e no mundo. Muitos outros estão por dar.

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