Não dominamos danças da chuva. É forçoso dizê-lo, pois a chuva e o vento têm sido os principais drivers de preço da energia eléctrica nos últimos anos e, se não dominamos artes avançadas de feitiçaria índia, de que serve este artigo? O objectivo é expor de uma forma simples e breve qual o status actual do mercado da electricidade e quais as previsões que se podem fazer para a sua evolução nos próximos meses e anos.
A electricidade é uma commodity cotada em mercado aberto. A sua produção é feita por uns poucos e comercializada por muitos, que o fazem num mercado competitivo, regulado pela ERSE, que tem feito globalmente um bom trabalho de garantir a concorrência no mercado, ao mesmo tempo que assegura que os consumidores têm acesso em iguais condições a todos os comercializadores.
A tendência do preço médio de mercado nos últimos anos foi, com todos os ciclos a que os mercados estão sujeitos, de uma ligeira subida, acentuada no último ano. A confirmarem-se as previsões climáticas de anos cada vez mais secos, esta tendência poderá ter bases para se perpetuar.
2017 foi um ano bastante caro em relação aos anteriores: 33% face a 2016 e 14% face à média dos últimos 6 anos. Este aumento teve duas causas principais:
Como outras causas, temos ainda o fecho de centrais nucleares em França, movimentos de mercado dos operadores, entre outras.
Que nos reserva este ano? Olhar para o mercado de futuros (OMIP) poderia ajudar: a entidade nebulosa chamada “mercado”, que agrega os principais agentes do sector, prevê na sua imensa sabedoria que em Março e Abril deste ano os preços descerão ligeiramente, mas que só se deterão aí mais demoradamente no 2º trimestre de 2019.
A curto e médio prazo as evoluções de preço são imprevisíveis, pois muito dependentes de fenómenos atmosféricos. Olhando para o passado, parece haver alguma ciclicidade que poderia tornar mais provável que a um ano seco se siga outro chuvoso. Se assim fosse, a um 2017 energeticamente “caro”, seguir-se-ia um 2018 “barato”, mas claro que sem dominar as artes avançadas de feitiçaria índia a que já nos referimos, previsões meteorológicas alargadas são impossíveis.
A longo prazo parecem haver alguns factores que podem contribuir para uma subida constante da energia eléctrica:
Em sentido contrário temos a maior eficiência energética, o crescimento do solar, a autogeração ou a criação/aperfeiçoamento de novas tecnologias, em que a nossa espécie tem sido fértil. Ainda assim, para os próximos 5 a 10 anos não parece que estes componentes possam ter um impacto tão forte para a descida como os enumerados para a subida.